Clique aqui e receba as notícias no WhatsApp

Whatsapp

Os primeiros bares de Jaraguá do Sul têm nome e sobrenome; vem ver!

Foto: Arquivo pessoal | Desenho feito a lápis no ano de 1963

Por: Milena Natali

16/10/2025 - 06:10 - Atualizada em: 16/10/2025 - 11:26

Por volta da década de 1950, logo após a ponte Abdon Batista, no início da Rua Marechal Floriano Peixoto, ficava um dos pontos de encontro mais tradicionais da cidade: o bar, restaurante, lanchonete e sorveteria Harnack. Fundado por Ricardo Harnack e sua esposa Ana Jensen Harnack, o espaço foi muito mais que um comércio, tornou-se referência gastronômica e social de Jaraguá do Sul.

De um lado do bar estava a farmácia do senhor Aroldo Shultz; do outro, na esquina com a Rua Getúlio Vargas, o imponente prédio do Banco Nacional. O desenho a lápis da fachada, datado de 1963, ajuda a manter viva a lembrança da edificação, que ainda resiste ao tempo, inclusive, os detalhes da parte superior do prédio permanecem os mesmos.

Foto: Arquivo histórico | Prédio do Banco Nacional edificado no ano de 1955

 

Clique e assine o Jornal O Correio do Povo!

Uma geração inteira guarda na lembrança os sabores que saíam da cozinha do Bar Harnack. Entre as especialidades, estavam empadas, suspiros, sorvetes, cafés, doces variados, bebidas e até o tradicional churrasco. O responsável por essa alquimia era Geraldo Harnack, filho de Ricardo e Ana, confeiteiro e músico, que unia talento culinário e artístico. Não à toa, muitos frequentadores ainda recordam com carinho:

“Eu, quando menina, cheguei a tomar sorvete no bar. Se você é jaraguaense, talvez lembre”, conta uma antiga cliente no grupo Antigamente em Jaraguá do Sul.

É o que dizem, uma família que trabalha junto, permanece junto… Os filhos do casal também estavam sempre presentes, Walter, Lutzi, Lili e Geraldo. Enquanto as meninas trabalhavam como garçonetes, os rapazes ajudavam na cozinha e no atendimento, um verdadeiro negócio de família. Mais tarde, quando Ricardo faleceu, em 1961, Geraldo e sua família assumiram a administração do negócio.

Foto: Arquivo Histórico | Ricardo Harnack era o proprietário inicial

A famosa “Toca do Teco”

A tradição do Bar Harnack atravessou gerações, o filho de Geraldo, Charles Harnack, ou Teco para muitos, herdou o espírito empreendedor da família e deu continuidade à história de uma forma diferente. Nos fundos do antigo bar, ele criou um novo espaço que marcaria a juventude jaraguaense das décadas de 1960, a Toca do Teco, considerada o primeiro pub de Jaraguá do Sul.

Diferente do ambiente familiar e tradicional do Bar Harnack, a Toca do Teco nasceu com um espírito jovem e irreverente, e acabou entrando para a história como o primeiro pub de Jaraguá do Sul. Segundo Charles, a ideia surgiu de uma necessidade simples, a juventude da época queria um espaço para se reunir. Na cidade ainda não existiam bares voltados para os jovens, as opções de lazer se resumiam a bailes ou festas de 15 anos.

Foto: Arquivo Histórico | Foto tirada em frente à “Toca do Teco”

Foi então que Teco decidiu transformar um antigo vagão de trem, nos fundos do bar da família, em um novo ponto de encontro. A estrutura reformada lembrava uma toca, o que acabou inspirando o nome. “O pessoal começou a brincar: ‘Onde é que tu vai? Na Toca do Teco!’ — e o apelido pegou de vez”, conta ele, rindo.

O local rapidamente se tornou o centro da vida noturna jaraguaense dos anos 1960. A Toca alternava entre noites de música ao vivo e momentos de discoteca, atraindo bandas locais e regionais. Entre as mais lembradas estavam Os Notáveis, de Jaraguá do Sul, e Os Stones, de Joinville, grupos que ajudaram a trazer o rock para o interior catarinense. Quando sobrava algum dinheiro, Teco fazia questão de investir em boas atrações, garantindo que a juventude tivesse seu espaço de diversão e liberdade.

“A Toca durou quatro anos, de 1966 a 1969, e encerrou junto com o bar”, recorda Teco. “Mas quem viveu aquilo nunca esqueceu. Era uma época boa, de amizade e música. Trabalhar, mas rodeado da tua turma.”

Hoje, ele ainda reside em Jaraguá do Sul, e é lembrado por muitos por sua trajetória como caixa do Banco do Brasil, mas sobretudo por ter sido o protagonista de uma das histórias mais queridas da cidade.

 

Foto: Arquivo histórico | Lembrança e relíquia de Charles Harnack

Curiosidade

Ah, e ao lado do Bar Harnack havia também um ponto curioso da época: o prédio de Frau Hindelmayer, que abrigava no térreo a oficina elétrica de Werner Voigt, onde ele trabalhava junto com Carlos.

No andar de cima, funcionava o escritório de representações do senhor Pedro Donini, que chegou a ter como sócio o jovem Eggon João da Silva (que mais tarde se tornaria um dos fundadores da WEG). Depois, Donini firmou outra parceria, desta vez com Geraldo Harnack, o confeiteiro e músico do Bar Harnack. Mais tarde, o imóvel foi adquirido por Jorge Meier.

Foto: Arquivo histórico | Oficina de Werner Voigt, também na Rua Marechal Floriano Peixoto

Memória preservada

As lembranças do Bar Harnack resistem ao tempo e chegam até hoje através de fotografias e recordações afetivas. E uma delas é a típica cadeira utilizada no local, peça que testemunhou incontáveis conversas, risadas e histórias ao redor das mesas. Eita que essa tem história!

Foto: Arquivo pessoal | Cadeira que era utilizada no bar

 

O bar de fato acompanhou o crescimento urbano e social de Jaraguá do Sul. Ali, gerações se cruzaram, amizades nasceram e tradições se firmaram. Entre o aroma do café, o som das conversas e os sabores únicos das empadas e sorvetes, formou-se um pedaço essencial da identidade jaraguaense. Afinal, esse bar é a cara de Jaraguá.

“Churrascos suculentos de igreja, sorvetes cremosos, confeitaria deliciosa… Saudades das delícias do Bar Harnack”, relembra Ricardo Bartsch, neto da família, resumindo o sentimento de quem viveu aquela época de sabor e convivência.

Foto: Fábio Junkes/OCP News | Apesar de restaurado, ainda é possível reconhecer detalhes da arquitetura original

Hoje, mesmo sem o bar em funcionamento, sua lembrança segue viva. “Lembro que, quando tinha cinco anos, comprávamos sorvete com minhas priminhas”, conta Kátia da Silva, uma das guardiãs dessa história e responsável por compartilhar boa parte das imagens que ilustram essa matéria. Mas a pergunta que não quer calar: quem aí apoia uma retrospectiva do bar?

 

Vem ver como esta o prédio hoje!

Clique aqui e receba as notícias no WhatsApp

Whatsapp

Milena Natali

Redatora de entretenimento e cotidiano.