Jaraguaenses pelo mundo: a engenheira que deixou o Brasil para ajudar a construir a Nova Zelândia

Por: Elissandro Sutil

11/09/2017 - 14:09 - Atualizada em: 17/10/2017 - 10:27

O quão difícil e maluco deve ser fazer as malas, se despedir de quem a gente ama e embarcar num voo com passagem só de ida, sem saber quando vai voltar? A adrenalina deve ir lá nas alturas, mas dá uma dorzinha no coração só de pensar, né? A jaraguaense Flávia Wolf, de 28 anos anos, teve que percorrer mais de 11 mil quilômetros para chegar ao lugar que hoje chama de “lar, doce lar”.

Ela saiu daqui em 2012, formada em Engenharia, com a expectativa de desbravar o mundo. Passou pela Austrália, conheceu o Chile – e muitos outros países, diga-se de passagem – e hoje é uma das responsáveis por construir a Nova Zelândia, literalmente.

Como esteve em Jaraguá, em agosto, para visitar a família, a gente aproveitou um pouquinho do tempo dela pra conversar sobre essa aventura de virar a vida de cabeça para baixo.

Olha a Flávia aí, visitando o prédio do OCP só pra conversar com a gente! (Foto: Renan Reitz/Por Acaso)

A decisão de sair do Brasil

Assim que se formou em Engenharia Civil, em Curitiba, o ano de 2012 foi decisivo para Flávia. Mesmo com boas ofertas de trabalho, e o estágio indo a todo vapor, nada tirava da cabeça da jaraguaense de fazer uma especialização fora do Brasil. E o país escolhido foi a Austrália. Lá ela iria aprimorar o inglês, e sentir novos e diferentes ares desse mundão.

Ela foi para Melbourne, um lugar que achava bem alternativo para, no futuro, exercer a profissão. E ao chegar lá… BUUM! Um choque de cultura e realidade. “Eu não tinha pesquisado a fundo sobre o lugar, afinal é sempre mais emocionante quando a gente se surpreende. Mas eu não sabia, por exemplo, que lá o volante dos veículos era do outro lado. Cheguei no aeroporto e o taxista estava sentado do outro lado!”, conta entre risos.

Nesta foto, a Flávia visitou o Brighton Bathing Boxes, que fica em Bayside, um dos pontos turísticos da região de Melbourne;

É verdade que quando a gente viaja conhece muita gente diferente e faz muitas amizades, mas quem diria que seria na Austrália que ela conheceria o amor da vida dela? O nome dele é Cristóbal Ávila, 30, natural do Chile. Eles se conheceram na mesma escola de inglês, e ele também escolheu a “terra dos cangurus” para estudar a língua.

Depois de um ano morando por lá, cada um voltou para o seu país de origem, mas com a dúvida de como seria a partir dali para o relacionamento dos dois. Claro, como o amor é lindo, os dois estavam bem abertos a mudar de país para ficarem juntos.

Quem vai pra Austrália não pode deixar de visitar os cangurus, né?

“Todo mundo tava feliz que eu tinha conhecido um chileno, porque teoricamente eu moraria num país mais perto, aqui na América Latina”, comenta Flávia. Mas não é bem assim que continua essa história de amor e aventuras. Tudo mudou depois de uma ligação. Era o Cris, contando de uma oportunidade de emprego. Onde? Na Nova Zelândia!

E que tal essa foto que a gente “roubou” do Instagram da Flávia? Os dois juntinhos, no início do namoro lá na Austrália

A Flávia ficou em estado de choque, afinal era muito longe e não seria igual uma viagem de férias, mas uma só de ida, pra realmente viver lá. “Eu estava no Brasil, na casa dos meus pais, organizando as coisas já pensando na possibilidade de mudar pro Chile, validando meu diploma, inclusive, e veio essa oportunidade!”, conta.

Mudança de vida, país, língua e cultura!

Depois daquela ligação, a vida da Flávia virou de cabeça para baixo. Em apenas dois meses ela ficou noiva, planejou o casamento lá no Chile, casou – foi uma festa pequena, com família e amigos mais próximos – e mudou ‘de mala e cuia’ para a Nova Zelândia.

Fica aqui uma fotinho linda do casamento dos dois no Chile!

E as aventuras só continuaram. Eles foram morar na cidade de Levin, que fica a 100 km da capital da Nova Zelândia, Wellington. Mas para chegar lá, tiveram que pegar um avião de pequeno porte, daqueles com hélices, para chegar até esse pequeno povoado. “É uma cidade muito pequena, tipo Pomerode, mas muito rural, praticamente no meio do nada, e sem prédio algum”, conta Flávia. Veja o mapa:

O aeroporto inclusive, também é tão pequeninho, que eles desembarcaram do avião na própria pista de pouso, e lá também retiraram as malas, sem nenhum esquema mais “complexo” de desembarque.

Como a intenção era que a Flávia encontrasse emprego na capital, viajar 100 quilômetros todos os dias seria inviável e cansativo. Por isso, alguém sugeriu que que eles morassem em Paraparaumu, que fica exatamente no meio do caminho entre a capital Wellington e a cidade de Levin.

E esta é a família que a Flávia construiu lá na Nova Zelândia, com o Cris e o fofíssimo Thunder!

Paraparaumu é uma cidade litorânea de pouco mais de 16 mil habitantes, e é lá que o casal vive há quatro anos.

Novo emprego como engenheira

Depois de seis meses morando lá, e já habituados com o estilo de vida neozelandês, o Cris já tinha emprego garantido como engenheiro agrônomo, e era a vez de Flávia buscar um trabalho. Pra quem acredita em sorte ou destino, em pouco tempo ela se viu trabalhando na área de formação, em uma gigantesca rodovia que estavam construindo a 10 minutos de casa.

(Foto: Arquivo Pessoal)

Junto de mais 300 profissionais, por dois anos, ela assumiu uma obra de 18 quilômetros, e que tinha 16 viadutos no projeto. “Foi muito engraçado e assustador ao mesmo tempo, porque no começo eu não tinha noção da maioria dos termos técnicos da minha profissão em inglês”, relembra.

Mas ela aprendeu tudo e, no final, se tornou a engenheira responsável pelas vigas pré-moldadas que fariam o sustento dos viadutos. Ou seja, Flávia teve que montar a obra que iria fabricar essas vigas. Cada uma tinha dois metros de altura, 40 metros comprimento e 96 toneladas. 

A Flávia contou que ao todo, o projeto continha 55 vigas iguaizinhas a esta! (Foto: Arquivo Pessoal)

Aqui todas as vigas (55 no total) já instaladas na maior ponte da rodovia. (Foto: Arquivo Pessoal)

Para referência, uma das menores vigas em deslocamento. Haja caminhão! (Foto: Divulgação)

Resumindo, estas foram as maiores vigas pré-moldadas já fabricadas em toda a Nova Zelândia, minha gente! E, mais do que merecido, este feito rendeu reconhecimento e premiação. “Escrevi um artigo com meu chefe e apresentamos em congressos do país”, lembra orgulhosa.

O primeiro prêmio ela recebeu em 2016, na categoria mulher profissional do ano. Demais, né? (Foto: Arquivo Pessoal)

Já o segundo veio este ano. Ela foi finalista do The 2017 NZIOB Awards for Excellence e Young Achiever Awards. Estes são prêmios que reconhecem as pessoas por trás dos projetos de construção da Nova Zelândia. (Foto: Arquivo Pessoal)

E foi assim que a jaraguaense chegou a trabalhar na maior construtora na Nova Zelândia e a segunda maior empresa entre todos os segmentos do país.

Olha a rodovia que a Flávia ajudou a construir, prontinha para o tráfego!

Ainda pela mesma construtora, ela trabalha agora na capital, em uma obra no Aeroporto Internacional de Wellington (em inglês: Wellington International Airport). Ela e a equipe estão erguendo um prédio novinho, e também são os responsáveis pela construção do estacionamento e rampas que vão dar acesso à entrada e saída pro aeroporto.

Essa aí é a obra na qual a Flávia trabalha agora, no aeroporto da capital Wellington. (Foto: Arquivo Pessoal)

E como é a vida na Nova Zelândia?

Nos fins de semana, quando a Flávia e o Cris têm uma folguinha do trabalho, eles aproveitam o estilo de vida do país. Tem bastante opções de atividades ao ar livre, como caminhadas e atividades com água, como pesca e mergulho.

Que tal um almoço na beira da praia? Esse lugar é Palliser Bay. (Foto: Arquivo Pessoal)

“Além de quase não vermos desigualdade social, o povo aqui é muito amável e preza pelo respeito e principalmente com o espaço um do outro”, comenta.

Conversando com a Flávia, a gente descobriu que lá eles mantém viva a cultura do povo Maori. As tradições se mantém e, ao mesmo tempo, todos são inseridos na sociedade. “Lá, é muito normal ver trabalhando, em qualquer área, pessoas desse povo. A gente reconhece porque eles têm tatuagens bastante singulares no rosto e que simbolizam algo da cultura deles”, conta.

Que tal uma paisagem dessas pertinho de casa? Essa foto foi tirada em Putorino. (Foto: Arquivo Pessoal)

Quando ela disse que tem muita opção pra atividades ao ar livre não era brincadeira, não! (Foto: Arquivo Pessoal)

Mas o mais bacana é saber dos rituais baseados nas crenças. A morte, por exemplo, significa muito para este povo, tanto é que chegam a ficar dias em luto. Nestes dias, as pessoas mais próximas do falecido se encontram para uma espécie de velório nos Marais – lugares sagrados. E lá eles doam o seu tempo para conversar, cantar, rezar, comer e lembrar do que a pessoa fez em vida.

Essa confraternização e apoio entre eles é uma maneira de dividir a dor da perda, transformando em um momento para reatar os laços de amizade entre si.

Um maori e seu rosto tatuado. (Foto: Divulgação)

“Mas viajar é legal por isso, a gente começa a quebrar conceitos. O que é certo pra gente, pode não ser certo pra outras pessoas. E no final das contas não existe certo ou errado, é uma questão de cultura mesmo”, conclui Flávia.

—–

BÔNUS!

Além dos prêmios que a Flávia ganhou em reconhecimento ao trabalho, teve um capítulo na vida dela que não podemos deixar de contar aqui: o dia em que ela conheceu o primeiro-ministro da Nova Zelândia. Durante o período de construção da rodovia próxima a Paraparaumu, ela acabou como uma das responsáveis pela obra, já que o antigo chefe havia saído para assumir outro emprego.

E por ser uma das responsáveis, e uma das que mais sabia sobre o projeto, ela foi incumbida de mostrar a obra para um tal de John Key. “Eu não fazia ideia de quem era essa pessoa, até que eu descobri que é como se ele fosse o presidente do país. Eu fiquei muito nervosa, mas no fim deu tudo certo”, conta rindo.

O John Key é o que está do lado esquerdo da Flávia. (Foto: Mark Coote/Divulgação)

À frente, John Key observando uma das vigas pré-moldadas que é resultado do trabalho da jaraguaense. (Foto: Mark Coote/Divulgação)

Pra entender melhor, a Nova Zelândia é uma monarquia constitucional com uma democracia parlamentar, Rainha Elizabeth II (ou Isabel II) é a Rainha da Nova Zelândia e sua chefe de Estado. A rainha é representada pelo governador-geral, que é nomeado a conselho do primeiro-ministro.

Quer acompanhar a Flávia nas próximas aventuras pela Nova Zelândia e pelo mundo e, quem sabe, trocar experiências ou ideias? Siga ela no Instagram! Você também pode se comunicar com ela através do e-mail flaviadwolf@hotmail.com. Se o seu sonho é morar fora do Brasil e conquistar o mundo também, ela está super disposta a tirar dúvidas e te ajudar com dicas! 😉