O que aprendeu o casal de jaraguaenses que passou 30 dias numa ecovila na Bahia?

Por: Elissandro Sutil

26/09/2016 - 12:09

O que você acha de passar 30 dias em um lugar paradisíaco e retirado, para um pleno encontro com a natureza e o seu ‘eu interior’? Foi exatamente isso que o casal jaraguaense Danusa Bertoli de Araújo e Luis fernando Leier fez. Eles ficaram entre 31 de junho e 1º de agosto em uma ecovila na Bahia, chamada comunidade Inkiri Piracanga. Esta foi sua segunda viagem para lá.

O ambiente é tão agradável e inspirador que rolou até pedido de casamento! :) Danusa e Fernando noivaram em Piracanga! (Foto: arquivo pessoal)

O ambiente é tão agradável e inspirador que rolou até pedido de casamento! 🙂 Danusa e Fernando noivaram em Piracanga (Foto: arquivo pessoal)

Desapegar, arriscar uma mudança de vida, praticar a simplicidade e o autoconhecimento. Piracanga é uma comunidade que pode ser considerada um paraíso compartilhado e que reúne pessoas que querem mudar de vida. Lá, a energia elétrica para iluminar as casas é gerada a partir da captação solar e à noite, a luz da Lua ilumina a pequena vila. Os alimentos são todos naturais e os produtos utilizados, biodegradáveis, para garantir o respeito com a natureza.

Para chegar lá foi uma viagem de quase um dia. Danusa e Nando chegaram ao aeroporto da cidade baiana de Ilhéus, onde uma Kombi os esperava para uma viagem de mais duas horas para Itacaré. Lá eles entraram em um 4×4 para mais 40 minutos de estrada. Na comunidade, eles se hospedaram na residência de um casal de amigos, que vivem no local há cerca de um ano, com a filha de 5 aninhos.

Casa onde os jaraguaenses focaram hospedados. (Foto: arquivo pessoal)

Casa onde os jaraguaenses ficaram hospedados. (Foto: arquivo pessoal)

PRIMEIROS DIAS

Foi só chegar que as boas experiências começaram a surgir. Pra começar eles participaram de um Seminário de Renascimento da Escola de Renascimento para a Escola da Natureza e, em seguida, Fernando já abriu agenda no Espaço Cura para dar sessões individuais de respiração de renascimento.

Aos poucos os dois foram entrando na rotina de Piracanga. “Às 6h tinha prática de Yoga, fui algumas vezes, e poder iniciar o dia assim vendo o sol nascer não tem preço!”, conta Danusa. Ainda cedinho também tinha a Meditação da Rosas, uma prática enraizada lá e muito poderosa de limpeza espiritual. Depois disso, tinha o café da manhã e às 8h30 eles não perdiam a Meditação Sonora. Esta última é uma prática de som e silêncio, guiada por músicos.

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Kundalini Yoga com Danusa araujo no Espaço cultural das Rosas. (Foto: Arquivo pessoal)

a cozinha? Estava sempre à disposição de quem ama esta arte. Os ingredientes disponíveis são todos vindos da natureza, como frutas e verduras. Além disso, três vezes por semana acontece uma feira onde todos podem comprar tudo fresquinho, também tendo acesso a um empório para adquirir alimentos integrais e secos.

Feirinha orgânica. (Foto: arquivo pessoal)

Feirinha orgânica. (Foto: arquivo pessoal)

“Passei a fazer doces para vender na feira e, um dia sai com a Maria Clara, para vender nas casas. Foi engraçado, pois eu não conhecia quase ninguém e ela, alegremente – e sem bater na ‘porta’ -, entrava oferecendo os produtos”, conta Danusa. Ela explica que a maioria das casas é aberta, sem portas ou muros. Uma pequena amostra da liberdade que se vive por lá. 😉

Danusa com a pequena Maria na venda de doces. (Foto: arquivo pessoal)

Danusa com a pequena Maria na venda de doces. (Foto: arquivo pessoal)

Para ampliar laços e conhecer como funciona a rotina, Danusa se ofereceu para trabalhar alguns dias no Açaí do Mar, um “bar” voltado para jovens onde não se vende bebidas alcoólicas, e que oferece doces e salgados veganos. Além disso, ela também deu aulas de Kundalini Yoga no Espaço Cultural das Rosas e ministrou duas oficinas de Sobremesas Saudáveis.

Bar Açaí do Mar, o qual Danusa trabalhou. (Foto: arquivo pessoal)

Bar Açaí do Mar, o qual Danusa trabalhou. (Foto: arquivo pessoal)

O casal também se aventurou no Retiro de Leitura de Aura, que tem 9 dias de duração. Foi uma imersão que, para eles, trouxe muita introspecção, autoconhecimento, maior compreensão e purificação emocional. Eles puderam praticar dinâmicas energéticas sobre a espiritualidade, que inclui um treinamento para realizarmos leitura de Aura.  O grupo tinha 57 pessoas, de vários lugares do Brasil e também outros países.

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Dança circular na comunidade. (Foto: Acervo Piracanga)

E se eles recomendam a viagem? Sim! Conhecer uma comunidade e ver como as pessoas vivem muito mais felizes e com muita saúde, quando alinhadas com sua verdade e propósito interior, é inspirador, segundo Danusa. “Foi uma grande oportunidade de quebrar paradigmas e ver que realmente nós somos os criadores da nossa realidade, e portanto somos nós quem escolhemos, decidimos e criamos a vida que queremos viver”, complementa.

Seminário Renascimento. (Foto: arquivo pessoal)

Seminário Renascimento. (Foto: arquivo pessoal)

Novos conhecimentos para a vida

Mas e o que será que aprendeu o esse belo casal que passou um mês em um lugar paradisíaco, equilibrado e com uma intensa conexão com a natureza? Umas das coisas mais fortes que eles experimentaram, foi viver dentro dos 4 acordos que orientam as dinâmicas da comunidade Inkiri em Piracanga, e hoje procuram trazer para o dia a dia dos relacionamentos. Veja:

1. Seja impecável com a palavra e fale a verdade o mais rápido possível;
2. não fazer suposições;
3. não levar nada para o lado pessoal;
4. sempre faça o melhor que você puder;

E eles acrescentaram outros dois como regra de vida:
5.
 sempre que hospedar alguém, realizar uma conversa sobre regras de convivência. Esclarecendo a importância de manter o espaço coletivo em ordem, por exemplo;
6. viver mais, com menos.

Meditação e música (Foto: acervo Piracanga)

Meditação e música (Foto: acervo Piracanga)

Além destes, entre as coisas que eles gostaram durante os dias por lá foi: 
– Viver sem geladeira;
– sem chaves;
– andar mais descalço;
– viver com menos (para mudar de casa lá, geralmente é necessário apenas dois carrinhos de mão);
– mais consciência do destino do lixo (os plásticos lá são guardados para construções, por exemplo);
– uso do banheiro seco (fezes não entram em contato com a água que se bebe, a água lá é muito pura);
– praticidade de chegar nos lugares sem precisar de veículos, indo sempre a pé.

Banheiro ecológico. (Foto: arquivo pessoal)

Banheiro ecológico. (Foto: arquivo pessoal)

Como conheceram a ecovila?

Quem já conhecia a comunidade era o Luis Fernando, que esteve lá em 2012. Na época estava passando uma situação de saúde bem difícil e recebeu a indicação de um amigo. O chamado mais forte foi para uma imersão de autoconhecimento e cura. Ele foi para um retiro de 9 dias chamado Yoga, Música e Arte com o grupo Black Buda Namastê de São Paulo.

Escola da Natureza. (Foto: arquivo pessoal)

Escola da Natureza. (Foto: arquivo pessoal)

Em 2014, ele voltou como facilitador de workshop de mandalas dentro deste mesmo retiro e Danusa foi como acompanhante. “Para nós foi uma quebra de paradigma muito forte olhar com os próprios olhos uma realidade acontecendo de forma tão sustentável, bonita e feliz. Saímos de lá com gostinho de quero mais”, diz Danusa.

De 2014 para cá, um casal de amigos (que morava em Blumenau) criou a Escola de Renascimento Inkiri em Piracanga e, assim surgiu o convite para servirem na Escola (Nando como professor e Danusa como chef de cozinha da Escola). No fim, a inauguração da escola foi adiada, mas eles decidiram ir mesmo assim.

Veja a galeria de fotos da viagem

Entendendo um pouquinho mais sobre Piracanga

Nascer do sol às 6h. (Foto: arquivo pessoal)

Nascer do sol às 6h. (Foto: arquivo pessoal)

O sonho Inkiri significa por em ação a materialização de um sonho muito antigo, o sonho de que a humanidade seja livre, feliz e viva em paz novamente neste planeta. Experimentar viver este sonho dentro de Piracanga, inspira a ter fé em uma realidade diferente da que se conhece, mas totalmente possível, quando guiados por uma visão mais ampla sobre real natureza humana: a de que todos são irmãos. É o que Danusa e Fernando trouxeram como orientação para as relações: se sentir feliz quando o outro também está.

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Uma das moradias do local. (Foto: arquivo pessoal)

E o mais legal? Qualquer pessoa pode ir e passar por essas experiências na ecovila. Piracanga hoje tem 3 camadas:

1. A hospedagem livre (hotelaria com quartos compartilhados ou não, casas ou quartos individuais que podem ser alugados).
2. Existem os cursos de imersão nas escolas de Piracanga (3 meses ou mais) onde você se hospeda em casas compartilhadas.
3. A comunidade Inkiri em si, composta por aproximadamente 40 moradores.

Hoje Piracanga tem capacidade para 240 pessoas viverem hospedadas. Mesmo aquele que não tem dinheiro para comprar ou construir uma casa própria tem a opção de viver em casas comunitárias, onde as pessoas dividem os espaços.

Assista ao vídeo e sinta um pouquinho mais do ambiente da comunidade Inkiri: