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Estudo revela que uso frequente da maconha pode causar perda da memória

Foto: Freepik

Por: Isabelle Stringari Ribeiro

29/01/2025 - 09:01 - Atualizada em: 29/01/2025 - 09:03

O consumo regular de maconha pode ter efeitos negativos significativos na memória de trabalho, uma função cerebral essencial para a tomada de decisões e o desempenho diário. De acordo com um novo estudo, essa alteração pode resultar em dificuldades com atividades cotidianas, como dirigir, trabalhar e se comunicar. A memória de trabalho é a capacidade de manter informações temporárias, como lembrar de um ponto cego ao dirigir ou acompanhar uma conversa com o chefe, essenciais para a tomada de decisões rápidas e eficazes.

Joshua Gowin, autor principal do estudo e professor assistente de radiologia na Universidade do Colorado, explica que a memória de trabalho é crucial para funções cotidianas. “Se você estiver dirigindo, por exemplo, precisa lembrar do que viu no ponto cego antes de decidir mudar de faixa”, afirma. Da mesma forma, durante uma reunião, a habilidade de reter o que foi dito é fundamental para responder adequadamente.

Contudo, o estudo revelou que o uso contínuo de cannabis pode dificultar essa capacidade de reter e processar informações temporárias, fazendo com que tarefas simples se tornem mais desafiadoras e demandem mais esforço.

Publicado na JAMA Network Open, o estudo observacional analisa o impacto do uso de cannabis sobre a função cerebral, com foco na memória de trabalho. No entanto, os pesquisadores ressaltam que a pesquisa não pode estabelecer uma relação direta de causa e efeito entre o uso de maconha e o comprometimento da memória.

De acordo com a professora Carol Boyd, da Universidade de Michigan, embora o estudo não prove a causalidade, ele traz evidências consistentes com observações sociais sobre o impacto da cannabis no cérebro. Ela destaca que, ao longo dos anos, muitos usuários regulares de maconha têm enfrentado dificuldades em tarefas cotidianas, como lembrar compromissos ou seguir instruções, sugerindo um declínio na memória de trabalho.

O estudo se baseou em dados do Human Connectome Project, que envolve uma análise ampla de como diferentes fatores influenciam a função cerebral. Com mais de 1.000 participantes, o estudo mostrou que usuários pesados de cannabis — aqueles que consumiram mais de 1.000 vezes ao longo da vida — apresentaram atividade cerebral reduzida em áreas responsáveis pela tomada de decisões e memória de trabalho.

Entre os resultados mais significativos, 63% dos usuários pesados de cannabis e 68% dos que consumiram a substância recentemente mostraram um desempenho inferior em testes de memória de trabalho. “O uso crônico parece ter um impacto mais duradouro do que o uso recente”, afirma Gowin, destacando uma redução de até 14% na ativação cerebral desses indivíduos.

Efeitos a longo prazo e questões em aberto

Embora o estudo não tenha determinado se a memória de trabalho pode ser recuperada após um período de abstinência, ele sugeriu que os efeitos negativos podem persistir mesmo após a interrupção do consumo, especialmente para usuários crônicos. A questão que persiste é se os danos à memória de trabalho são reversíveis com o tempo.

Gowin observa que existem alguns estudos que indicam que a abstinência de substâncias, como o álcool, pode resultar em recuperação cognitiva. No entanto, ele reforça que a relação entre o uso de cannabis e o cérebro ainda é um campo de estudo em aberto, e é necessário mais tempo para entender os impactos de longo prazo.

Fatores adicionais a considerar

É importante notar que outros fatores, como o consumo de álcool e condições pré-existentes como o TDAH, podem influenciar os resultados. Embora o estudo tenha controlado o uso de álcool, ele não conseguiu controlar completamente condições como o TDAH, que também pode afetar a memória de trabalho e é comum entre os usuários de cannabis.

Além disso, a forma de consumo da cannabis — seja fumada, vaporizada ou ingerida — também pode desempenhar um papel significativo. Fumar maconha, por exemplo, permite que o THC atinja o cérebro mais rapidamente, o que pode ter efeitos diferentes em comparação com métodos de ingestão mais lentos.

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Isabelle Stringari Ribeiro

Jornalista de entretenimento e cotidiano, formada pela Universidade Regional de Blumenau (FURB).