Inspiração profissional: as coisas mais legais e mais difíceis em ser dono de um café

Por: Elissandro Sutil

04/07/2017 - 14:07 - Atualizada em: 29/09/2017 - 11:31

Quais profissões te inspiram? Quais rotinas te aguçam a curiosidade? A gente sabe que, por mais feliz que esteja no que faz hoje, há sempre aquele outro trabalho que desperta uma espécie de suspiro dentro de todos… O tal “vou largar tudo e vender coco na praia”, não é? Hahahaha.

E a lei é certa, todo caminho bom também tem suas curvas. Mas o que são retas e o que são curvas nesses trampos às vezes que nos fazem repensar a vida? Bom, é dessa pergunta que nasceu uma nova série de artigos aqui no Por Acaso. Apresentamos a vocês “Inspiração profissional”, que começa hoje, aqui, mas já correu direto pra sobremesa: descobrir os detalhes da vida profissional de quem toca uma cafeteria. 😀

Como tudo mais que a gente faz, claro que fomos procurar jaraguaenses pra ter a conversa, e quem melhor na cidade pra representar esse universo senão o Álvaro e a Elis, os apaixonados proprietários do Zabú Café? Elis Ferraresi Freiberger Nogueira, de 33 anos, e o marido Alvaro Nogueira, 37, abriram seu estabelecimento há quatro anos na cidade, e agora nos ajudam entender melhor como é a vida de barista. Segura:

12670264_1087183287972539_2430944142770896674_n

Foto: Divulgação/Zabú Café

As coisas mais bacanas de ser um barista

1 – Os novos contatos e amizades
“A coisa que eu mais gosto do meu dia a dia e que me motiva a vir pra cá é o contato com quem entra aqui no café. É nesses momentos que existem a troca de informações, conhecimentos e boas conversas. O café é algo apaixonante e que aproxima as pessoas, e saber conversar com elas, passando o conhecimento que a gente tem sobre o assunto, é gratificante”, comenta Elis.

2 – Ser um especialista em uma arte complexa
“Nós fazemos cursos e aprendemos desde tudo o que é necessário para ser um bom barista, e servir do jeito que o cliente pediu.”, explica. A quantidade de pó de café, leite, assim como temperatura e cremosidade, passam a ser elementos controlados dentro de um ritual. O saboroso resultado, com todos seus aromas e texturas, reflete-se na expressão de satisfação do cliente, a recompensa final do trabalho. Elis complementa ainda comentando dos cursos do meio: “A gente acaba conhecendo muitas coisas, como métodos, cultivo e composição do café, entre outras coisas”.

E realmente há um grande universo por trás do cafezinho… Quer saber uma curiosidade dos especialistas?

A água utilizada para o café coado deve ser apenas aquecida – não pode ferver, pois a perda de oxigênio altera a acidez do café. A temperatura ideal de preparo é próxima dos 90ºC.

 

IMG_9426

Alvaro e Elis são os baristas e proprietários do Zabú Café, no Centro da cidade. (Foto: Rafael Verch)

3 – Fazer café, desenhar café
“Não é nossa prioridade aqui no Zabú focar na latte art, mas todo barista também aprende a fazer os desenhos na bebida. Eles são feitos com o próprio leite na hora de misturar com o café. No começo não é fácil. Para treinar nossos baristas, a gente foca no atendimento e no preparo, e com o tempo cada um vai pegando como faz”, diz.

4 – Há várias formas de agradar e impressionar o cliente
“Só aqui no Zabú temos 4 tipos de preparo de café: o aeropress, espresso, filtrado e a prensa francesa. Existem muitos outros que gostaríamos de ter, mas isso depende de investimento que planejamos para o futuro”, relata Elis. Esta lista aqui, por exemplo, apresenta outros 10 tipos de preparo além dos citados. Cada preparo resulta numa bebida diferente, e cada bebida é uma experiência diferente. “Tomar um café” é um ato que pode trazer descobertas, e o bom barista está ali, proporcionando elas para os amigos.

11150172_943763315647871_8794586471293822627_n

Foto: Divulgação/Zabú Café

As coisas mais mais difíceis de ser um barista

1 – Encontrar matéria prima de qualidade
“Como a gente preza por fazer tudo da forma mais natural e artesanal possível, vamos sempre em busca de produtos de qualidade; mas é muito difícil encontrar em Jaraguá matéria prima boa em grandes quantidades, geralmente é destinado ao público final a preços mais altos”, aponta Elis.

2 – O reconhecimento ao processo artesanal
Tudo o que passa por processo artesanal é mais demorado. A recompensa, claro, é um produto final diferenciado, mas ainda há consumidores que não  entendem ou estão dispostos a tal. “Hoje as pessoas valorizam e reconhecem mais esse diferencial, mas ainda tem gente que não está aberta para esse conceito”, explica Elis.

13239207_1152297254794475_7019284930567440910_n

Foto: Divulgação/Zabú Café

3 – Cautela constante
Se o seu café ficou com um gostinho de queimado, pode apostar que a máquina não foi bem regulada. “Esse é um cuidado essencial que deve ser tomado pelo barista. A máquina tem que chegar à temperatura e pressão corretas, porque o tempo de contato do pó com a água é extremamente importante para que a bebida não fique ruim.”

4 – Trabalho duro e quase sem férias
Pois é, se alguém pensa que ter o próprio café é sentar num canto e ver o movimento passar, está enganado. Tem muito, mas muito trabalho duro envolvido, indo desde as burocracias para abertura do estabelecimento até preocupações com acontecimentos repentinos com cliente, funcionários, produtos… “Eu e o Alvaro não pegamos férias desde que chegamos em Jaraguá e abrimos o Zabú. E já fazem quatro anos! A gente sabe que é um esforço exigido para tocar nosso negócio, mas é bem cansativo”, conta.

Dica final

Pra você que sonha em ter o próprio café, a Elis deu umas últimas dicas:

Estude, faça muitos cursos e depois treine muito também! É essencial que um barista saiba todas as etapas de preparação de um café. Percebo falta isso em muitos cafés que eu vou, consigo ver que a pessoa não foi treinada para preparar e atender corretamente. Atendimento é essencial também, temos que saber conversar com os clientes. Nós entendemos do assunto, sabemos de muitas coisas sobre o café e poder compartilhar isso com as pessoas que convivem – no ambiente que você montou com carinho para recebê-las – é muito bacana. O café é um tema muito apaixonante e deve ser apreciado de todas as formas!

Quer saber mais ou experimentar da técnica dessa equipe? Pra conhecer o Zabú você pode dar uma passadinha lá na Rua Domingos Rodrigues da Nova, 462, sala 1, no Centro. Conheça também a página no Facebook.

Como tudo começou?

O Zabú já é um sonho antigo na família da Elis, a mãe Ana Maria Ferrarezi Freiberger – mais conhecida como Nani – foi a precursora de tudo, com o sonho de ter um negócio próprio voltado ao ramo de alimentação, e a Elis e o marido Álvaro resolveram apostar na ideia. “Sou de Canoinhas, e o primeiro Zabú foi aberto lá. O Alvaro já tinha alguns cursos em gastronomia e a minha mãe fazia os doces”, relembra.

Quatro anos depois, a dona Nani resolveu se aposentar e o nosso casal barista veio morar em Jaraguá do Sul, dando continuidade ao negócio da família. “Acabou que esse nem era meu sonho, mas estou amando viver isso, se tornou uma parte incrível das nossas vidas”, Comenta Elis.

45665_571354269555446_1522226323_n

Foto: Divulgação/Zabú Café

O nome do café foi inspirado numa gata da família que tinha o nome de Izabu, e como eles buscavam um nome fácil de gravar e bem sonoro, foi escolhido Zabú. Se olhar bem a marca do café, você vai conseguir ver um gato desenhado.

O café preferido do barista

Não que isso seja uma regra, mas qual será o café que o barista mais gosta? No caso da nossa aqui é o café feito no aeropress. Este método foi criado nos Estados Unidos e consiste numa cafeteira em formato de cilindro que extrai as propriedades do pó por pressão do ar, quebrando os sólidos e mantendo os óleos essenciais do café. A sua forma de preparo parece uma injeção.

Brew_Guide-Aeropress-Step04

Foto: Divulgação/Aeropress

A textura da bebida fica bem parecida com a do método filtrado, só que muuuito mais saboroso.