Neste Dia de Finados, novamente milhares de pessoas se dirigirão aos cemitérios para as tradicionais manifestações de fé e homenagens aos seus entes queridos. Para quem desconhece a história, podem passar despercebidas entre os diferentes túmulos e a profusão de flores e velas estruturas em forma de obeliscos em três cemitérios diferentes. Mas o fato é que eles representam uma face sangrenta da história jaraguaense motivada por convicções políticas extremistas.
Pelo menos três cemitérios jaraguaenses têm túmulos que chamam a atenção por abrigarem obeliscos em memória de líderes integralistas da região – o integralismo é descrito como um movimento partidário que surgiu no início dos anos 1930, com posicionamento político de extrema-direita e inspiração fascista, idealizado por Plínio Salgado, que o batizou de Ação Integralista Brasileira e adotou o lema “Deus, Pátria e Família”.
No cemitério de Rio Cerro 2 está sepultado Ricardo Strelow, que participava da cerimônia dos ‘tambores silenciosos’, em 7 de outubro de 1936, data de comemoração dos quatro anos da AIB (Ação Integralista Brasileira). Ele teria sido atingido por um tiro durante ação do capitão da Polícia Militar, Trogílio Mello, destacado pelo interventor estadual Nereu Ramos para impedir a celebração. Em memória de Strelow, o Partido Integralista mandou erguer um obelisco, destacando-o como o ‘1º mártir da Província de Santa Catarina’.
No cemitério do bairro João Pessoa está sepultado Fernando Sacht, a segunda vítima daquela noite. O lavrador estava no salão da localidade de Itapocuzinho 2, atual bairro João Pessoa, em solenidade presidida pelo professor Emílio da Silva, a quem Mello queria prender. Os policiais entraram atirando e feriram 52 pessoas, matando Sacht dois dias depois. No obelisco em sua homenagem, a letra grega Sigma representa o símbolo do movimento e quer dizer soma. A saudação anauê – vocábulo tupi – era uma expressão utilizada como forma de dar as boas-vindas e significa “você é meu parente”.

No cemitério do Centro, monumento que lembra o líder integralista e jornalista Ricardo Gruenwaldt, porém sem as inscrições que identificam os integralistas | Foto Eduardo Montecino/OCP
Já no cemitério do Centro encontra-se o túmulo de Ricardo Gruenwaldt, assassinado quase um ano depois. Líder integralista do município, farmacêutico e editor do “Jornal Jaraguá”, ele foi morto pelo delegado especial nomeado pelo interventor estadual, sargento Eucário de Almeida, que também teve outras motivações além das políticas para o crime.
Gruenwaldt teria questionado a conduta do delegado nas páginas do jornal, pois o mesmo estaria sendo acusado de assediar a mulher de um conhecido, também integralista. Em 13 de agosto de 1937, Almeida invadiu a farmácia de Ricardo, que ficava em frente à estação, bateu com o jornal em seu rosto e disse que ele iria engolir aquelas palavras. Na sequência, disparou quatro vezes, acertando um tiro no abdômen da vítima.
A rua Domingos Rodrigues da Nova, que fica no Centro de Jaraguá do Sul, antes levava o nome do líder integralista Ricardo Gruenwaldt, no entanto, o tenente Leônidas Cabral Herbster, nomeado prefeito de Jaraguá do Sul, trocou o nome da via, homenageando um dos primeiros colonizadores do município, em 20 de maio de 1938.
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