O escritor e roteirista Neil Gaiman (Sandman, Deuses Americanos, Coraline, Belas Maldições) voltou a ser acusado de estupro e abuso sexual nesta segunda-feira (13), em reportagem da revista New York e a revista Vulture.
Nascido na Inglaterra, Neil Gaiman começou a carreira como jornalista, mas logo se tornou autor de fantasia e ficção, virando referência como escritor feminista, trajetória que foi espelhada em um personagem de uma de suas histórias mais famosas, Richard Madoc (Sandman #17 e o 11º episódio da adaptação da Netflix), um autor “visionário” celebrado por sua sensibilidade e o empoderamento de suas personagens femininas, mas cuja inspiração advém de abuso – reflexo este que teria contornos mais sombrios após as denúncias contra o autor, revelando-o, assim como seu personagem – elogiado como uma crítica a cultura de abuso por parte de autores renomados – Gaiman teria feito carreira escrevendo contra a violência masculina enquanto a praticaria.
Os paralelos entre Gaiman e Madoc são apontados por Shapiro em sua reportagem, onde ela aponta que por anos Gaiman foi visto não como Madoc, mas como o herói da peça, Sonho. Das oito vítimas, sete relatam terem sido abusadas depois que Gaiman já era conhecido e celebrado como campeão da causa feminina; várias relatam que esta reputação fui usada para facilitar o abuso.
As primeiras acusações de abuso sexual contra Neil Gaiman vieram a público em junho de 2024. Na ocasião, o podcast Master, da Tortoise Media, revelou as denúncias contra o escritor. Desde então, ele tem negado veementemente todas as acusações. À Vulture, sua defesa alegou que as relações sexuais de Gaiman com as mulheres que a denunciaram foram todas “consensuais”.
As acusações ocorrem meses após as primeiras alegações contra Gaiman ganharem a mídia. A defesa dele nega e afirma que todas as relações teriam sido consensuais.
Segundo a reportagem, duas das vítimas eram mulheres que teriam trabalhado com ele e as outras eram fãs dele, que entraram em contato com o autor.
Elas alegam que ele as submetia a relações sexuais violentas, dolorosas e sem consentimento. Uma das vítimas, Scarlett Pavlovich, hoje de 26 anos, estava sem teto e trabalhava como babá para o filho do autor quando teria sido abusada. Outra mulher, de 54 anos, conta que morava uma propriedade de Gaiman depois que seu marido passou a trabalhar como caseiro para o autor, e que temia que ela as filhas seriam despejadas caso ela rejeitasse os avanços. Os relatos são fortes.
Segundo Pavlovich, os abusos do autor eram tão rotineiros que o filho de Gaiman, então de cinco anos, passou a chamar ela de “escrava” da mesma forma que o autor a chamava.
Os relatos de agressões sexuais contra o autor datam de 1986 a 2022. As vítimas alegam que Gaiman também cobrava por favores sexuais em troca de moradia, sexo por telefone sem consentimento, tentativas de beijos forçados e toques indevidos.
Gaiman vendeu mais de 50 milhões de cópias no mundo e foi adaptado para o cinema e televisão, com “Coraline”, “Deuses Americanos” e “Good Omens”. Gaiman foi casado com Amanda Palmer, que também é acusada de participar dos abusos e de quem se separou em 2022.