Critico do nazismo, Roger Waters é acusado de apologia ao nazismo na Alemanha

Reprodução/Twitter

Por: Pedro Leal

26/05/2023 - 10:05 - Atualizada em: 26/05/2023 - 10:17

Roger Waters, cofundador do Pink Floyd, está sendo investigado pela polícia de Berlim por incitação ao ódio depois que ele vestiu um uniforme de estilo nazista em um show na capital alemã.

As informações são da Agence France Presse.

“Estamos investigando uma suspeita de incitação ao ódio público porque as roupas usadas no palco podem ser utilizadas para glorificar ou justificar o regime nazista, perturbando a ordem pública”, disse à AFP o porta-voz da polícia de Berlim, Martin Halweg, ao anunciar a investigação nesta sexta-feira (26).

“As roupas lembram o uniforme de um oficial da SS”, acrescentou Halweg. A investigação aborta uma apresentação do cantor no dia 17 de maio, na Mercedes-Benz Arena.

Imagens divulgadas nas redes sociais da organização Stop Antisemitism mostram Waters com um casaco preto e braçadeiras vermelhas segurando um fuzil.

O Twitter acrescentou uma postagem, embaixo do vídeo, em que os leitores fornecem o contexto à cena – o figurino é parte da opera-rock “The Wall”, centrado em um astro do rock que se fecha para o mundo e se torna uma figura odiosa.

“Roger Waters interpreta o Pink Floyd, um astro do rock que tem uma overdose e cai na loucura, alucinando que é um ditador em um comício fascista, e o público é seu apoiador. É um papel famoso interpretado por Bob Geldof no filme ‘Pink Floyd: The Wall’ (1982)”, diz a mensagem.

O álbum trata da degradação do personagem Floyd rumo ao extremismo, conforme ele se fecha para o mundo erguendo “barreiras” separando ele das pessoas – e culmina no ponto em que Floyd se vê transfigurado em um líder fascista guiando seus “seguidores” contra os “vermes”.

Durante o show, Waters exibiu em um telão os nomes de várias pessoas mortas, incluindo os de Anne Frank, a adolescente judia que morreu em um campo de concentração nazista, e de Shireen Abu Akleh, a jornalista com cidadania palestina e americana do canal Al Jazeera que morreu em uma operação israelense em maio de 2022. Segundo a revista “Billboard”, as imagens traziam figuras que foram mortas por autoridades e vítimas do autoritarismo.

Além de Anne Frank e Shireen Abu Akleh, também apareceram Sophie Scholl, da Rosa Branca, movimento de resistência alemã antinazista, morta em 1943, Mahsa Amini, que morreu após ter sido detida pela polícia da moralidade no Irã, no ano passado, e George Floyd, morto sufocado pela polícia dos Estados Unidos.

A acusação alega que ao exibir os nomes no telão, Waters estaria “zombando” dessas mortes.

“Estamos investigando e, após a conclusão do procedimento, transmitiremos as informações ao Ministério Público para uma última avaliação jurídica”, acrescentou o porta-voz da polícia.

O MP decidirá se o cantor britânico, 79 anos, será processado ou não.

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Pedro Leal

Analista de mercado e mestre em jornalismo (universidades de Swansea, País de Gales, e Aarhus, Dinamarca).