Conheça as curiosidades do acervo histórico do Museu Emílio da Silva

Por: Elissandro Sutil

03/02/2018 - 07:02 - Atualizada em: 05/02/2018 - 18:34

No coração de Jaraguá do Sul, o Museu Histórico Emílio da Silva guarda detalhes capazes de contar a história de quem construiu a cidade e viveu em tempos que o artigo mais tecnológico, por exemplo, era uma máquina de escrever. São 3.664 peças catalogadas no acervo e outras mil na reserva técnica do local. Desde a criação, no ano de 2001, mais de 224 mil pessoas visitaram o museu. Apenas no ano passado, foram 8.418 registros de público.

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É o prédio da antiga Prefeitura que acolhe todas as peças e desperta os olhares curiosos da população, considerando que, muitos moradores ainda não desvendaram os mistérios do museu. Na sexta-feira (2), a equipe de reportagem do OCP acompanhou a diretora do local, Ivana Cavalcanti, em uma visita pelas salas de exposição para conhecer alguns dos objetos mais inusitados do acervo.

Uma dos artigos que mais chamam a atenção dos visitantes são as primeiras garrafas de refrigerante fabricadas, que eram de vidro com tampas de porcelana. Entre as relíquias, estão recipientes da Chocoleite, Laranjinha e Coca-Cola. As garrafas, fabricadas por volta de 1939 eram colocadas em engradados de madeira. Tampas de metal produzidas pela indústria jaraguaense Max Wilhelm também estão expostas, além de um liquidificador de vidro dos anos de 1960.

Segundo Ivana, os idosos e crianças, que representam a maioria dos visitantes, reagem de maneiras opostas aos objetos. “Os mais jovens se impressionam e os mais velhos recordam da sua infância ou adolescência com nostalgia”, comenta a diretora.

Esse contraste entre a história e a inovação está presente nos ares do museu. Enquanto visita pela primeira vez o local, a pequena Jaqueline Fernandes, de dez anos, registra com o celular algumas fotos de como eram as salas de aula antigamente em Jaraguá. Em comparação com os materiais de hoje, ela acredita que antes eles tinham mais qualidade. Jaqueline ainda comenta que gosta de conhecer um pouco mais sobre a história de onde vive.

Jaqueline Fernandes fotografa peças do acervo que lembram como eram as salas de aula | Foto Eduardo Montecino/OCP

Ainda na sala dos objetos educacionais, as mesas duplas e réguas de madeira, lancheiras de lata e lousas de pedra atraem os olhares, além da intimidante palmatória. Mais à frente está exposto o primeiro traje de formatura da Fundação Educacional Regional Jaraguaense (FERJ), fundada em 1973. O uniforme é de 1978 e foi usado na colação de grau da turma de estudos sociais.

Salas de aula tinham mesas de madeira e até mesmo de ferro, com estrutura para acolher dois alunos | Foto Eduardo Montecino/OCP

Na área que reproduz como eram os primeiros fóruns do município, uma homenagem ao escrivão Amadeus Mahfud, que deu o pontapé inicial para a formação do Museu Emília da Silva. Máquinas de escrever e uma urna eleitoral de couro ajudam a compor o cenário.

A peça mais antiga do acervo é um livro de temas diversos escrito com pena e publicado em 1541. A capa do livro foi feita com pele de porco e revela o nome da obra: Textoris Officina Tomus 2. Ivana enfatiza que cada peça recebe uma manutenção específica para os determinados materiais.

Livro com capa feita de pele de porco é o objeto mais antigo em exposição, com data de publicação de 1541 | Foto Eduardo Montecino/OCP

Os monitores Rosane Neitzel Gonçalves e João de Araújo Vicenti contam que, por volta dos anos de 1930, era comum as mulheres reunirem a família nas comemorações de bodas de casamento. Na ocasião, elas mostravam o véu utilizado na cerimônia, preservado dentro de uma pequena caixa.

Véu utilizado no casamento era preservado em uma pequena caixa e mostrado para as próximas gerações | Foto Eduardo Montecino/OCP

Atividades do museu retornaram neste mês

Segundo a diretora do Museu Emílio da Silva, Ivana Cavalcanti, o número de visitas ao museu vem aumentando nos últimos anos. Em 2017, 8418 pessoas passaram pelo local. Destes, 2.687 eram estudantes, 39 estrangeiros e 5694 visitantes da comunidade em geral. Para 2018, a programação ainda está sendo planejada, mas a diretora garante que o calendário será repleto de exposições e atividades diferenciadas. O museu retornou às atividades na última quinta-feira (1).

Ivana Cavalanti mostra a toga de formatura da primeira turma da Ferj, usada em 1973 | Foto Eduardo Montecino/OCP

A grande movimentação de crianças no local, conforme Ivana, comprova que elas não são apenas “o futuro, mas também são responsáveis pela preservação da história”. Para a monitora de visitas, Rosane Neitzel Gonçalves, as visitas ao museu conseguem resgatar os costumes de diferentes culturas e gerações.

Proprietário volta ao museu para rever sua primeira bicicleta

Antes de serem doadas para o acervo do Museu Emílio da Silva, as peças acompanharam o cotidiano dos respectivos proprietários. Uma das bicicletas expostas, emplacada em 1963, carrega as melhores histórias do aposentado Gervásio da Silva, de 82 anos. Antes mesmo de emplacá-la, o então alfaiate já utilizava o meio de transporte. “Ela foi tudo na minha vida”, declara. Foi com ela que Silva se mudou do bairro Baependi para o Nova Brasília, “com os móveis em cima segurando”.

A bicicleta também era usada para o alfaiate fazer as entregas de ternos aos clientes. “Tinha muito buraco na rua e quando chovia, tudo ficava com lama. Para não respingar no terno, eu desviava”, conta. Silva ganhou uma bicicleta nova dos filhos e precisou a relíquia. Na época, o meio de transporte custou 2050 cruzeiros.

“Ele veio algumas vezes até o museu antes de doar efetivamente a bicicleta e, mesmo assim, volta para revê-la com frequência e dá dicas de como fazer a manutenção”, revela a diretora do museu, Ivana Cavalcanti. A doação de objetos é gratuita. Antes de ser agregada ao acervo, a peça passa por uma avaliação da equipe.