Em meio ao caos das enchentes que atingem o Rio Grande do Sul, um acontecimento trouxe um raio de esperança para Porto Alegre. Onde se erguia uma loja de móveis, hoje se destaca um salão de festas, palco de um casamento coletivo.
Seis casais, até então desconhecidos entre si, uniram-se em matrimônio neste sábado (25), em um abrigo improvisado, demonstrando que o poder do amor transcende mesmo os momentos mais desafiadores.
O casamento foi todo organizado por voluntários, em parceria com empresas de diversos segmentos, em apenas três dias.
“O abrigo já está vivendo, desde o início dele, 90% de doações”, conta Rodrigo Tavares, responsável pelo alojamento e celebrante do evento.
“Quando a ideia era de um casamento, todo mundo quis doar, mas de repente avolumou a coisa, eram seis casais e a demanda também cresceu. A empatia e o voluntariado foram preponderantes nesse momento”, detalhou Rodrigo.
A inspiração para esse momento surgiu quando Ederson Fanfa, decidiu pedir a mão de sua companheira, Ariane da Silva, em casamento. E o cenário perfeito se revelou durante a festa de aniversário da filha do casal. O evento foi organizado pela equipe de médicos voluntários que presta assistência no espaço.
“Na hora fiquei em choque, botei as mãos no rosto e perguntei: será que estou sonhando? Mas não, era verdade. E agora estou aqui, muito feliz”, conta Ariane.
Após o pedido, outros casais também resolveram celebrar a união.
“Através do meu gesto, todo mundo se mobilizou, e se sentiu tocado em pedir suas companheiras em casamento”, conta Ederson.
O casal morava na Ilha da Pintada, na capital gaúcha, e não é a primeira vez que precisam morar em espaços como este.
“A gente já passou por três enchentes. Queremos ajuda para poder dar outro lar para os nossos filhos, queremos um lugar para poder dormir e acordar tranquilo”, revela Ariane.
A celebração matrimonial foi repleta de significado, mesmo para aqueles que já possuíam uma união formal estabelecida. O propósito essencial dos voluntários era garantir que a festividade ocorresse de maneira equitativa para todos os casais, com todos os elementos essenciais que uma cerimônia dessa natureza demanda.
Toda a infraestrutura, desde a decoração até os vestidos e sapatos usados pelos noivos, foi doado ou emprestado. As noivas ganharam um dia de cuidados e mimos, incluindo penteados e maquiagem profissional.
Fotógrafos profissionais se prontificaram a registrar o evento, enquanto voluntários se dedicaram a preparar um churrasco. Confeitarias locais contribuíram com uma mesa repleta de doces.
A estudante de enfermagem Fernanda Evangelista Maretoli é uma das mais de 20 voluntárias dedicadas a prestar auxílio diário às vítimas da enchente.
“Assim que tudo começou, senti o desejo de ajudar diretamente as pessoas e perguntei a uma amiga onde poderia contribuir cuidando delas. Ela me indicou este lugar, e aqui estou”, relata.
Após o susto de ajudar a organizar um casamento coletivo, Fernanda experimentou um profundo sentimento de gratidão por fazer parte de momentos tão especiais para os abrigados.
“No começo foi chocante, pois nunca tinha vivenciado algo assim. Mas graças aos ajudantes e aos que nos apoiaram, conseguimos realizar tudo. Sinto-me feliz por poder contribuir, mesmo que seja um pouquinho, para realizar o sonho dessas pessoas”, afirma a jovem.
Atualmente, mais de quarenta pessoas residem no Abrigo da Bento. O local acolhe principalmente moradores da zona norte da capital gaúcha, especialmente dos bairros Farrapos e Humaitá, que ainda sofrem com inundações três semanas após o início das enchentes.
Em Porto Alegre, aproximadamente 12 mil pessoas encontram-se abrigadas em ginásios ou em estruturas montadas pela prefeitura e pela sociedade civil.