Ajude a imortalizar a história do Juventus: autor jaraguaense pede apoio dos torcedores

Por: Elissandro Sutil

13/06/2016 - 10:06 - Atualizada em: 13/06/2016 - 11:07

Há quarenta anos, o Grêmio Esportivo Juventus entrava em campo pela primeira vez para disputar um Campeonato Catarinense de futebol. E qual é o jaraguaense torcedor do Moleque Travesso, que não gostaria de saber dos primeiros passos dados pela equipe no Estadual?

Na época, o “Time do Padre” realizou vinte e seis jogos, que renderam uma série de histórias que se perderam no tempo e na mente daqueles que a protagonizaram. E para comemorar a marca das quatro décadas da equipe desde a primeira participação no campeonato, o autor Henrique Porto decidiu compilar tudo em um livro e precisa do apoio dos torcedores para tornar o projeto realidade.

O material – previamente intitulado “A primeira vez do Moleque” – contará com 250 páginas, repletas de fotos, histórias, fichas técnicas dos jogos e dos atletas, além de curiosidades. O lançamento está previsto para o dia 6 de novembro, data que não foi escolhida ao acaso. “Será o dia da última partida do Juventus em casa pelo Campeonato Catarinense da Série B e pode significar nosso retorno à elite do futebol estadual”, informa o autor.

Mas, para viabilizar a impressão da obra será necessário contar com o apoio de empresas e apaixonados pelo clube. “Sei que o momento econômico não é propício, mas existe todo um contexto histórico para o livro ser lançado ainda neste ano”, adianta o autor. “Qualquer valor é bem-vindo”, informa Porto, enaltecendo que os patrocinadores da iniciativa terão seus nomes ou logomarcas estampadas nas orelhas do livro, eternizando o apoio proporcionado.

Outras informações sobre como ajudar a publicação da obra podem ser obtidas com Iriane Porto, pelo telefone (47) 9632-8028 ou pelo e-mail irianev@gmail.com. “O aporte também renderá uma determinada quantidade de cópias da obra ao apoiador”, conclui Porto.

Capa

A busca envolveu consultas aos acervos dos arquivos históricos de Jaraguá do Sul, Joinville e Blumenau, além do apoio de historiadores esportivos por toda Santa Catarina. Foram pesquisados os arquivos dos jornais A Gazeta, O Correio do Povo, Diário de Joinville, A Notícia, Jornal de Santa Catarina e O Estado. Além disso, os atletas que disputaram o certame na ocasião já foram ou ainda estão sendo entrevistados.

“Está sendo como montar um quebra-cabeças. De início não tinha certeza se conseguiria reunir todas as peças. Hoje tenho, em detalhes, um resumo de como foi cada um dos vinte e seis jogos”, informa Porto. Ele convida o leitor para conferir na sequência um capítulo completo da obra. Veja na íntegra:

Família Bozzano conhece a ira jaraguaense
Jogo 06 | 21/04/1976 | Juventus 0x0 Avaí

A marcação do primeiro gol trouxe um novo alento ao Juventus, que na rodada seguinte teria pela frente o Avaí, no Estádio João Marcatto. O palco novamente apanhou um grande público para o prélio que iniciou às 15h30, gerando uma renda de Cr$ 24.720,00 que, como já vimos, bancava uma folha de pagamento inteira da equipe. É fato que acompanhar ao ‘Moleque’ havia se tornado um grande entretenimento para os jaraguaenses e famílias de todos os cantos se deslocavam até o campo da margem esquerda do Rio Jaraguá.

O ‘Time do Padre’ havia se transformado no ‘Time das Famílias’ e era bonito de ver os pais chegando de mãos dadas com seus filhos nos dias de jogos. Ou buscando uma forma deles acompanharem as partidas com um pouco mais de conforto na saudosa ‘arquimorro’ (‘arquibarranco’ para alguns), sempre lotada. Um pedaço de madeira qualquer servia como assento para uma família inteira. Com ‘uma bundinha para frente’ e ‘uma bundinha para trás’, todos cabiam. E se faltava lugar, a solução era colocar um filho no colo. Um tempo romântico do futebol, em nada comparado às atuais arenas, que na verdade mais parecem shoppings centers.

Mas voltando ao jogo, o Leão da Ilha – então campeão catarinense – não fazia uma boa campanha no Estadual e o trabalho de Áureo Malinverni já era questionado pela imprensa da Capital. Para piorar, existia um clima de ‘já ganhou’ por parte da torcida avaiana, impondo aos atletas uma obrigatoriedade da vitória em terras jaraguaenses. Prevendo que o adversário viria para cima, o técnico Hélio Rosa armou novamente seu ferrolho, alinhando com Wilfrit; Bebeco, Ginho, Pimentel e Nilo; Gerson, Juquinha e Russinho (depois Arizinho); Pastoril, Paulista e Moisés (depois Aldinho). No Avaí, Malinverni testava o atacante Renato Sá atuando mais pelo meio de campo, iniciando com Danilo; Sousa, Ari Prudente, Veneza e Orivaldo; Lourival (depois João Francisco), Balduíno, Celso e Carlos; Renato Sá e João Carlos (depois Volnei).

Desde o início do jogo o Avaí deixou claro que buscaria ganhar os dois pontos de qualquer maneira. Dominou o encontro na etapa primeira, abusando das jogadas individuais, porém sem objetividade. O tricolor só se defendia, congestionando a meia cancha e a grande área. Com o tempo, o esquema de Hélio Rosa encaixou e os visitantes só conseguiam avançar com tranquilidade até a intermediária. O único risco acontecia quando o Juventus tentava algum contra-ataque, deixando espaço para os laterais Sousa e Orivaldo avançarem. Perigo mesmo os avaianos levaram aos 28’ e aos 35’. No primeiro lance, Balduíno acertou a trave direita de Wilfrit. No outro, Carlos ficou livre para finalizar, cara a cara com o arqueiro juventino, mas furou na hora de completar para o gol o cruzamento de Celso.

Na etapa complementar, o Juventus assustou inicialmente, chamando a torcida para jogar junto. Porém, assim como os adversários na etapa inicial, o volume ofensivo não era traduzido em chances de gol. A equipe estreava um novo uniforme, oferecidos pela Confecção Eduardo, querendo batizá-lo com vitória. Também era dia de vestir os novos agasalhos, doados pela Marquardt S/A, em modelo idêntico ao que a empresa havia doado para o Figueirense um ano antes. O Avaí respondeu aos 6’, com Renato Sá finalizando forte, rente ao gol. Aos 12’, Wilfrit e João Carlos trombaram e a bola sobrou para o avaiano, que não conseguiu marcar. Nos minutos finais o Juventus enfim partiu ao ataque. Aos 36’, Juquinha avançou e soltou a bomba, sua marca registrada, com a bola passando raspando no ângulo esquerdo de Danilo.

Aos 43’, o volante Russinho avançou em velocidade, vencendo a defesa avaiana. Já dentro da área, notou a marcação do zagueiro Ari Prudente e tratou de mudar sua trajetória, puxando para o lado esquerdo. O zagueiro do Leão fez a leitura da jogada e novamente bloqueou a passagem do juventino, causando uma trombada entre ambos. Foi uma dividida normal? Russinho apenas tropeçou na bola e depois nos pés de Ari? Ou o zagueiro realmente cometeu a penalidade? “Recebi o cruzamento da direita e dominei a bola no peito, na corrida. Quando fui chutar em gol, o Ari Prudente me empurrou com o braço esquerdo e fui para o chão”, relembra Russinho. “O goleiro Danilo agarrou a bola e deu o balão rapidamente. Reclamamos, mas não adiantou de nada”. De nada mesmo. Para o árbitro Celso Bozzano tratou-se de um lance normal e a bola seguiu rolando até o seu apito anunciar o fim do encontro. Certo ou errado, o homem de preto descontentou a torcida local, que precisou ser contida pela Polícia Militar e membros da diretoria.

Com certeza o irmão do polêmico Dalmo Bozzano se esqueceu que, para acessar o vestiário dos visitantes e da arbitragem no João Marcatto de 1976 (ambos de madeira), era preciso passar pelo meio da torcida. Assustado, Bozzano percorreu o trajeto até o quartinho caminhando de cócoras, enquanto os jogadores do Juventus, mostrando uma desportividade ímpar, tentavam acalmar seus adeptos. No quartinho, ele e seus auxiliares (Alécio da Silva e Arlindo Costa) puderam refletir sobre suas atuações individuais e coletiva por cerca de uma hora e meia, tempo que foi necessário para acalmar a ira e dispersar a dezena de torcedores que insistia em protestar contra o lance não marcado. No dia seguinte, foi preciso que diretores do Juventus utilizassem os microfones da Rádio Jaraguá para condenar a atitude do grupo, com receio que o fato prejudicasse a imagem do clube e da cidade, que na ocasião estava completando cem anos de fundação. 

Polêmica a parte, o empate foi bastante festejado. O esquema de Hélio Rosa havia sido incorporado pelos atletas e o Juventus já apresentava um ‘modus operandi’, uma forma de atuar que permitia ao elenco, mesmo com suas limitações, pregar algumas peças nas grandes equipes. Tanto que, ao final do encontro, até mesmo a imprensa da Capital reconheceu o empate como sendo um bom resultado, classificando o Juventus como uma equipe voluntariosa e valente. Já o técnico avaiano reclamava do grupo, dizendo que tudo estava ruim na sua equipe. Ruim como o clima no vestiário após o jogo, que teve sua porta trancada de forma abrupta pelo presidente João Salum para uma conversa em particular com os atletas. Como desculpa, foi utilizado o fato dos torcedores estarem atirando pedras de barro nos visitantes.

Em entrevista ao jornal O Estado, o técnico Hélio Rosa afirmava que a fase de estudos e adaptação havia passado, lamentando a chance de vencer a partida com o pênalti não marcado. “A vitória nos escapou pelas mãos”, disse na ocasião. “A fase de estudos acabou. Agora os atletas estão bem amadurecidos e tendem a ter uma produção melhor nas próximas partidas”, acrescentou na sequência. E o tempo iria mostrar que o comandante realmente sabia o que estava dizendo. Era questão de tempo até a primeira vitória acontecer”.

Fonte: Assessoria de Imprensa Henrique Porto
Foto: Lucas Pavin/Avante! Esportes