A quinta exposição das seis programadas para esse ano pela Acap (Associação Catarinense dos Artistas Plásticos), em comemoração aos seus 50 anos, estreia nesta quarta-feira (19), às 19h, no Museu Victor Meirelles, em Florianópolis.
“Movências: Ressignificação dos Oito Fundadores da Acap: Eli Heil, Franklin Cascaes, Martinho de Haro, Max Moura, Ernesto Meyer Filho, Pedro Paulo Vecchietti, Rodrigo de Haro e Vera Sabino” ocupará o casarão que foi morada do manezinho que é referência em pintura histórica e autor de uma das mais populares telas brasileiras, a “Primeira Missa no Brasil”.
O museu, vinculado ao Ibram (Instituto Brasileiro de Museus), órgão do Ministério da Cultura, está instalado desde 1952 na casa onde o artista nasceu, tombada como patrimônio histórico e artístico nacional. O espaço de abordagem contemporânea abrigará “Movências…” até 2 de fevereiro de 2026. Nela, os artistas ressignificam o legado de cada um dos fundadores, imprimem sua marca e se mantêm dispostos a dar continuidade à história de meio século da entidade. A curadoria é de Meg Tomio Roussenq e Anna Moraes.
O Olimpo da Ilha em aquarela
A celebrada Vera Sabino, 77 anos, única fundadora viva e em plena fase criativa, inspirou a aquarelista Gabriela Luft a criar “O Monte Olimpo da Ilha”. “Do diálogo entre a obra de Vera e minha pesquisa em aquarela, ressignifico o universo simbólico e colorido, transportando-o para um território mítico onde a antiga Desterro (atual Florianópolis) torna-se cenário”, explica Gabriela. A criação traz um panteão de 12 deusas, cada uma guardiã de um aspecto da alma da Ilha, no qual o Morro da Cruz ergue-se como o Olimpo.
Roberta Viotti também busca traços de Vera no mundo submerso em “Freguesia dos Peixes Manezinhos”, levando a bruxaria pro fundo do mar!
A herança de Vecchietti é reafirmada por seis artistas

Onildo Borba criou “Bromélia Interrogatória” | Foto: Divulgação/Acap
Presente em todas as exposições da Acap, o associado mais antigo e tesoureiro há 30 anos, Onildo Borba criou “Bromélia Interrogatória”, inspirado nas vinhetas do mestre tapeceiro Pedro Paulo Vecchietti. “Identifiquei a bromélia como um dos possíveis símbolos para o trabalho estilizado do artista, voltado às formas originais da natureza”, explica Borba, que usou técnica mista com acrílica e pirógrafo sobre carpete.
Vecchietti também inspirou Dulce Penna para criar “Entre o Fio e o Fogo – As Muitas Tramas da Vida”. A artista tem nas tapeçarias um território de memória. Do macramê passou à cerâmica, criando uma trama de contrastes com os fios. “Meu trabalho nasce, em parte, em diálogo com as tapeçarias de Vecchietti, que compreendeu o tecer como ato poético”, observa.
Da mesma forma, David Ronce traz “A Adversidade Educa o Redondo”, em que propõe ressignificar sensivelmente a linguagem gráfica de Vecchietti, expandindo seus gestos e fragmentos em uma cartografia poética que dialoga entre o desenho e a abstração. A composição sugere paisagens mentais e topografias simbólicas.
Ana da Nova lembra que desde a emblemática exposição da Cabrinha, em 1958, com o GAPF (Grupo dos Artistas Plásticos de Florianópolis), Vechietti se destacou como um pioneiro, explorando novas materialidades e elevando a tapeçaria além do ornamento. Inspirada por esse legado, ela mergulhou na técnica do bordado de esmirna, introduzida pelo mestre, para criar “Inconveniente”.
Com uma obra sem título, Miriam Porto lembra que Vecchietti sempre foi um homem à frente de seu tempo, na busca de novas técnicas e conceitos, utilizando o ponto esmirna em tapeçaria para redesenhar seus ícones. Em uma foto que tirou do rebento de uma palmeira, desenhou em seu entorno e bordou detalhes como inovação da natureza.
Ricardo Rosário homenageia Vecchietti e também Meyer Filho e Rodrigo de Haro. A “Coruja Cósmica X” é personagem constante em suas obras, em que ele conta a lenda deste ser que veio do espaço (releitura de Meyer), adicionando uma simbologia relacionada às estrelas (Vecchietti) e, por fim, mostrando Florianópolis (Rodrigo).
Meyer Filho, as lendas e a força dos quintais

Silvia Da Ros usa o bordado livre sobre tecido para ressignificar Ernesto Meyer Filho em “qui omnia videt” (o que tudo vê) | Foto: Divulgação/Acap
Silvia Da Ros usa o bordado livre sobre tecido para ressignificar Ernesto Meyer Filho em “qui omnia videt” (o que tudo vê) e lembrar uma passagem em que o artista, na Lagoa da Conceição, bem no alto, onde acaba o calçamento de pedra feito especialmente para passagens (1845 e 1861) do imperador Dom Pedro 2º, observa o entorno.
Maravilhado, rodopia e questiona: “Marte é aqui? Marte não é aqui?” E recorrendo aos lápis e papel – que sempre enchiam seus bolsos à espera de seres arrebatados de espaços extras – cria mais e mais.
Em “Além do Quintal”, Audrey Laus usou colagem e bordado sobre fotocópias de fotos para ressignificar Meyer Filho, repensando as dimensões possíveis de um quintal, um lugar de memórias e experimentações, de onde o artista tirou o galo fálico e sua potência criadora.
Max Moura e o rompimento de padrões tradicionais
Max Moura, o primeiro homenageado pela Acap, em fevereiro, inspirou o presidente Gelsyr Ruiz em “Rios Voadores – Um Fio de Esperança”, onde focaliza o período em que Moura rompe com os suportes tradicionais, predominantes entre os artistas catarinenses da época, incorporando técnicas de colagem, fotogravura e outras experimentações materiais.
Da mesma forma, a vice-presidente, Maria Esmênia, traz “Manifesto da Fresta”, instalação composta de um cobertor tomara que amanheça e um mapa-mundi impresso sobre tecido em um suporte de bambu sustentado por pés de concreto. “Neste trabalho, trago minhas inquietações e as exponho sobre varais, preservando as referências do artista e contextualizando minha obra no atual momento político, social e econômico mundial, em uma referência aos milhões de pessoas que vivem em situação de rua, fruto das desigualdades sociais e da má distribuição da renda”, reflete ela.
Andrea V Zanella também dialoga com Moura. Lembra que o artista considerado o “eterno enfant terrible da arte catarinense” lançou mão de técnicas variadas, como pinturas, gravuras, desenhos, monotipias e instalações sobre superfícies variadas, conjugando cores primárias, o preto e o branco. De “Figura de Mulher”, recolhe o arabesco para construir, pelo bordado e desenho em algodão, “Sororidade”. “Expressões” traz fitas de cetim de variadas cores descendo de um suporte de madeira, como metáfora para a pluralidade de existências com as quais convivemos.
Próximas exposições da ACAP
Mesc (Museu da Escola Catarinense)
- “Coletoras: Ressignificação de Eli Heil e Vera Sabino”
- Quando: de 5/12/2025 a 31/1/2026
MArquE (Museu de Arqueologia e Etnologia) da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina)
- Além das seis exposições de 2025, a curadora Meg Tomio Roussenq assinará em 2026 coletiva exaltando Franklin Cascaes, no espaço que guarda o acervo do artista
- Quando: 3/3/2026