Após oito temporadas de sangue, ardis estratégicos e reviravoltas, Game of Thrones chegou ao seu fim – e para a surpresa de poucos, o fim da série da HBO parece ter agradado um público ainda menor.
Enquanto se espera para se ver se George R.R. Martin vai dar um final melhor para as Crônicas de Gelo e Fogo – e se pela frente teremos um “Broterhood” de Game of Thrones, como outra série que terminou antes do material de origem teve, readaptando a obra completa… fica a pergunta: O que ver agora?
Para os leitores carentes de tramas sobre os violentos jogos do poder, seguem cinco sugestões em várias mídias do que ler e assistir enquanto espera pela próxima “maior série de todos os tempos”.
Duas delas são animações – mas não se deixe enganar: não é por serem desenhos que sejam “inocentes”, “imaturos” ou “fofinhos”. Elas não devem em nada para GoT em termos de mortes brutais, tópicos pesados ou conspirações.
É claro, não são as únicas obras do tipo – e fica o pedido: o que mais você recomendaria para o público de Game of Thrones, agora carente de seus jogos de poder?
1. O Romance dos Três Reinos
A mais obscura – aqui – das minhas recomendações, o Romance dos Três Reinos também é a única que, tragicamente, não está disponível na integra em português – embora várias de suas adaptações estejam disponíveis – entre elas o drama de John Woo, “A Batalha dos Três Reinos”. O livro na integra pode ser lido (em inglês, infelizmente) aqui.
Atribuído ao dramaturgo Luo Guanzhong (1330-1400 d.c.) e baseado no vasto trabalho de pesquisa histórica de Chen Shou (233-279 d.c), o épico de 800 mil palavras trata da queda da dinastia Han oriental (a segunda dinastia imperial chinesa, governando a china de 206 a.c a 220 d.c.) e da disputa de poder em meio ao colapso da era de ouro da China.
https://www.youtube.com/watch?v=CfAbBaqC5XU;feature=youtu.be
Com centenas de personagens, a obra foca em três grupos específicos: os reinos de Cao Wei, regido pelo último chanceler da dinastia Han, Cao Cao; Shu Han, fundado por Liu Bei, primo distante do imperador Shao; e Sun Wu, fundado pelo tataraneto de Sun Tzu, Sun Quan, unificando os territórios conquistados por seu irmão Sun Ce.
Considerado um dos quatro grandes épicos da literatura chinesa, o Romance faria inveja na obra de Martin: traições, assassinatos, ardis estratégicos, perdas fúteis de vidas, alianças escusas e conspirações abundam em meio ao século de história coberta por Guanzhong, indo de pouco antes da rebelião dos Turbantes Amarelos (181-205), que prenunciou o fim da dinastia Han até a unificação da China sob a dinastia Jin em 265 d.c.
O período é considerado o mais sangrento da história chinesa, e a segunda pior guerra da história da humanidade; estima-se que entre 35 e 40 milhões de pessoas tenham morrido durante os 96 anos do período dos Três Reinos. Alianças são temporárias, pessoas perdem suas vidas na ponta de lança e sacrifícios são feitos em nome do poder.
2. Duna
No futuro distante, todo o espaço conhecido é governado pelas casas nobres do Landsraad, sob o jugo do imperador-padixá Shaddam Corrino.
Temendo a crescente influência do carismático duque da casa Atreides, Leto Atreides, o imperador transfere os Atreides para o distante planeta Arrakis, fonte do recurso mais valioso do universo: a especiaria Melange, em um plano para destruir a casa Atreides e enfraquecer seus rivais, a casa Harkonnen.
Sem que o imperador saiba, outras forças poderosas conspiram ao redor do conflito Corrino-Atreides-Harkonnen – e o jovem herdeiro da casa Atreides, Paul Atreides, se revela uma importante figura entre a o culto local dos Fremen.
Uma das mais importantes obras de ficção científica e fantasia do século XX, o épico de Frank Herbert tem uma influência imensa sobre os dois gêneros – vide a saga Star Wars, que pode muito bem ser chamada de Duna Light.
A longa saga de intriga política, jogos de poder e fanatismo religioso influenciou centenas de autores, e poderia muito bem ser descrita como “Game of Thrones no Espaço” – não tivesse vindo antes, isso é.
Seria melhor chamar GoT de “Duna em Fantasia”. Nada é o que parece ser e cada ação traz consigo consequências surpreendentes em um universo construído minuciosamente. E é claro: todos podem morrer à qualquer momento.
https://www.youtube.com/watch?v=bqM3raJFGLs;feature=youtu.be
Os primeiros quatro livros da saga estão disponíveis em português pela editora Aleph. A obra de Herbert foi adaptada para as telas duas vezes: como um filme dirigido (e renegado) por David Lynch, e como um par de minisséries pelo antigo Sci-Fi Channel, atual SyFy.
Nenhuma das duas é exatamente boa. Uma terceira adaptação, dirigida por Dennis Villeneuve, está em produção.
Pode ser comprado pela Amazon AQUI
3. Mobile Suit Gundam: Orfãos de Ferro e Sangue
Não deixe o visual te enganar: não há nada de fofinho e inocente nessa série. E eu não contaria com a sobrevivência de grande parte dessa imagem.
A mega franquia de ficção científica Gundam abrange 40 anos de publicação, em variados graus de tramas políticas e de guerra. Como entrar de cabeça no meio disso é uma tarefa complicada, tenho que isolar uma obra para indicar: Órfãos de Ferro e Sangue, de 2015.
Mais de 300 anos após uma grande guerra entre a Terra e suas colônias espaciais, a esfera terrestre é governada pelas dinastias aristocráticas da Gjallarhorn.
Em uma missão diplomática para negociar direitos de extração mineral – em si um pretexto para garantir a autonomia marciana – a nobre e ativista política Kudelia Aina Bernstein contrata uma companhia mercenária para escoltá-la, sem saber que que a companhia acaba de ser violentamente tomada por seus soldados infantes, liderados pelo carismático Orga Itsuka e seu frio braço-direito, Mikazuki Augus.
Ao mesmo tempo, partes da Gjallarhorn tramam seu assassinato como desculpa para incitar a revolta em Marte – e justificar um controle maior sobre a colônia.
https://www.youtube.com/watch?v=hEmNe109Ipo;feature=youtu.be
Como GoT, Orfãos de Ferro e Sangue é uma obra onde reviravoltas violentas espreitam a cada esquina, e ninguém é exatamente o que parece ser (salvo a Atra: ela parece um amorzinho, e é tão amável quanto parece).
O conflito central abrange autonomia política, jogos de interesse aristocráticos, corrupção, conspirações, e um grupo de jovens soldados rapidamente ascendendo ao status de um power actor nas relações muitas vezes ilícitas do poder.
A franquia nunca teve medo de chocar a audiência, e Órfãos faz isso de sua forma mais intensa, contando com o mais claro conjunto de anti-heróis (isso se não forem vilões protagonistas) de seus 40 anos.
Com 52 episódios, a série está disponível (junto com outras séries da franquia) pela plataforma de Streaming Crunchyroll. O serviço pode ser usado gratuitamente (com anúncios) ou assinado sem anúncios e com simulcast de outras séries, disponibilizadas uma hora após a exibição.
4. Deuses Americanos
O renomado romance de fantasia moderna de Neil Gaiman mistura mitologia, sociologia e o tipo de trama cheia de reviravoltas que deve agradar aos fãs de Game of Thrones.
Recém saído da prisão e recém viúvo após a morte de sua esposa em um acidente de carro, o golpista Shadow se vê envolvido com o misterioso Sr. Wednesday e uma revelação que abala seu mundo: os mitos – todos os mitos – são reais. E estão morrendo.
O mundo não tem mais lugar para os deuses do velho mundo – as pessoas mudaram, não tem mais tempo para os velhos deuses. E Wednesday quer mudar isso.
Wednesday recruta o relutante trambiqueiro para uma guerra contra os epônimos “Deuses Americanos” – mídia, tecnologia, dinheiro, a globalização – em uma trama surreal e brutal cheia de reviravoltas, traições e surpresas, além de discussões sobre imigração, identidade cultural, fé e nacionalidade.
https://www.youtube.com/watch?v=3SNJ20hIfv0;feature=youtu.be
O livro foi publicado em português várias vezes e sua adaptação para a TV está atualmente em sua segunda temporada, disponibilizada pelo serviço de Streaming por assinatura Amazon Prime video.
5. Record of Grancrest War
A segunda e mais breve recomendação de animação vem de um nome que para os familiares com animação japonesa de fantasia, não significa pouca coisa: Ryo Mizuno autorou um dos maiores clássicos do gênero, Record of Lodoss War.
Se lá nos anos 90, Mizuno trazia uma trama clássica de bem e mal, em Grancrest ele meio que vira a fórmula de ponta cabeça, em uma série que foca mais em políticas feudais do que em heróis e vilões de forma simples.
Por gerações, o continente de Atlatan esteve em guerra – tanto entre os poderes feudais quanto contra invasores extra-dimensionais do profundo caos..
O continente se vê ante a uma possibilidade de paz com o casamento dos herdeiros dos ducados de Kreische e Doucet – um casamento que termina em tragédia com a morte dos dois arquiduques e o cancelamento do matrimônio pela duquesa de Kreische. Novamente, o continente se vê em guerra total.
https://www.youtube.com/watch?v=S-HBLiUdH1k;feature=youtu.be
Em meio ao caos, a jovem maga Siluca Meletes se une ao cavaleiro errante Theo Cornero em uma jogada por poder, aproveitando do idealismo do jovem barão para se estabelecer como uma autoridade política – um jogo arriscado que sacode as estruturas do poder em Atlatan. Grancrest é uma série breve – apenas 26 episódios – extremamente violenta e complexa, embora sofra de um final apressado.
Poucos personagens podem ser resumidos como “bons” ou “maus”, e poucas coisas andam da maneira que seria de se esperar. Como Gundam, a série está disponível com legendas em português através do Crunchyroll.
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