Você está investindo dinheiro em fundos onde quem mais lucra é o banco?

Por: Pedro Leal

03/04/2018 - 11:04 - Atualizada em: 03/04/2018 - 12:31

A queda na taxa básica de juros – reduzida a históricos 6,5% – reduziu os rendimentos de vários fundos financeiros, agravando uma situação que já se desenvolvia há algum tempo: muitos catarinenses estão investindo dinheiro em fundos onde quem mais lucra é o banco – quando este não é o único que lucra com o investimento.

Enquanto a Selic se aproxima da linha de 6%, as taxas de manutenção anuais de alguns fundos chegam a passar de 4% ao ano – restando ao investidor menos de 2% de rendimentos depois de descontar impostos.

Segundo o analista financeiro Roberto Seidel, da Patrimono, a cobrança de taxas de manutenção é uma parte natural e uma exigência legal dos fundos de investimentos.

“O problema é o quanto que é cobrado de taxas de manutenção, particularmente nos fundos de ‘baixo risco’, como fundos de renda fixa. O que seria justa seria de 0,4% a 1% ao ano, que seria retirada dos seus rendimentos”, explica.

Mas o que acontece é que muitos programas que prometem pagar a taxa básica de juros cobram taxas de 4 a 5% – mais de dois terços dos rendimentos. “Aí neste caso sobra para o investidor menos de um terço do rendimento que é dele, o que é um verdadeiro roubo”, explica.

Atualmente, os rendimentos anuais de um CDI (Certificado de Depósito Bancário) são de 6,64% ao ano, e servem como base para todos os cálculos de renda fixa.

O caso mais grave é um plano de investimentos do Santander, o Santander Asset – com uma taxa de manutenção de 5,5% ao ano, segundo apurado pelo site InfoMoney.

Levando em conta a Selic atual de 6,5%, um investimento de R$ 100 mil no plano renderia R$ 6.500 ao ano – e pagaria R$ 5.500, deixando R$ 1.000 para o investidor, antes dos impostos, e uma receita do banco  450% maior do que os rendimentos do dono do dinheiro.

1,2 milhão de brasileiros tem investimentos “furados”

Segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiros e de Capitais (Anbima), a região Sul do país tinha em dezembro passado R$ 68 bilhões em fundos de investimentos de renda fixa, R$ 9,227 bilhões em fundos multimercado,  R$ 1,68 bilhão em fundos acionários e R$ 1,43 bilhão em fundos estruturados, ou ETFs. A entidade não tem dados específicos para Santa Catarina.

No país, são cerca de 1,2 milhão de brasileiros que tem investimentos “furados”, depositando seus recursos em programas que dão mais dinheiro para o banco do que para seus investidores – isso quando não estão em programas onde basicamente se paga para investir e o rendimento real, descontado impostos e inflação, acaba negativo.

Consumidor deve buscar alternativas

A perda de rendimentos com as taxas elevadas não leva em conta a inflação – ou seja, a perda de valor do dinheiro em si  – e mesmo com o Índice de Preços para o Consumidor Amplo (IPCA) em uma baixa histórica, os rendimentos podem terminar abaixo da inflação – cenário em que, além de dar lucro para o banco, o investidor termina o período em prejuízo. Para 2018, o Banco Central prevê inflação de 3,7%.

Segundo Luiz Felipe Eichstadt de Bem, da firma de consultoria Sherpa Wealth Guides, com a queda da taxa de juros para mínimas históricas o investidor deve procurar alternativas para a tradicional poupança e CDB (Certificado de Depósito Bancário), que tem rendimentos em queda.

“Atualmente uma boa opção são os fundos multimercados, que investem em diversas categorias como juros, moedas e bolsa de valores pelo mundo todo”, destaca.

Fundos multimercados são uma boa opção

Seidel destaca que esse tipo de fundos estão em alta na atual situação do mercado, e se encontram sujeitos à flutuações cambiais e de mercado.

Como o trabalho em gerir esses fundos é mais alta, as taxas de administração destes fundos ficam na faixa de 1% a 2% – no entanto, os rendimentos também ficam mais altos.

“Enquanto um fundo de renda fixa paga entre 100% e 120% do CDI, um fundo multimercado pode pagar até 200% do CDI”, explica. Por conta disso, as taxas mais elevadas as vezes compensam pelos rendimentos mais altos. “O que não dá para aceitar são fundos que cobram 4,5%, por exemplo, para pagar 6% ao ano, onde o investimento não compensa”.

Rafael Lehmkuhl, da mesma empresa, ressalta que para quem não tem experiência de mercado e recursos para contratar uma empresa de assessoria financeira, as cooperativas financeiras são opções mais atraentes do que os bancos, com taxas de juros melhores tanto para o crédito quanto para os investimentos.

O consultor frisa no entanto que é extremamente importante ter seu consultor de confiança o quanto antes, de forma a garantir bons investimentos.