Em uma época em que os alimentos industrializados dominavam as prateleiras do mercado, o empresário Rogério Manske já começava a se aventurar pelo segmento de alimentos orgânicos. Fascinado pela relação entre a comida e a saúde do corpo, Manske foi um dos pioneiros na importação e comercialização de grãos nobres no Brasil. Fundador da Vitalin, há 12 anos o empresário e sua equipe são responsáveis por levar mais saúde à mesa dos consumidores.
Com 31 colaboradores, a Vitalin produz mais de 600 toneladas de alimentos por ano, produção que vai de Jaraguá do Sul aos quatro cantos do país. Agora, a empresa mira também o mercado externo: ainda este ano, a Vitalin começa a exportar para os Estados Unidos e para a América do Sul, concorrendo de igual para igual com gigantes da indústria alimentícia.
OCP ONLINE – De onde veio a vontade de trabalhar nesse ramo?
ROGÉRIO MANSKE – Eu sempre explorei muito a relação entre um produto e seus nutrientes, tentando entender os benefícios deste produto. Sempre acreditei que a alimentação é capaz de tratar o corpo, aquela velha premissa de que o alimento é o seu remédio.
Quando a vontade de empreender se concretizou?
Começamos a atuar no mercado no ano 2000, com foco na produção de Cogumelo Agaricus Blazei (cogumelo do sol), uma espécie de cogumelo medicinal. Entretanto, em 2004, empresas chinesas entraram no mercado e o produto que vendíamos a 140 dólares o quilo era comercializado pelos chineses a 30 dólares. Então começamos a procurar outros produtos, como a linhaça, a fibra de maracujá e a quinoa. Daí surgiu a Vitalin.
Por que a empresa resolveu explorar o segmento?
Em 2011 nos demos conta de que praticamente toda a nossa linha era sem glúten, isso em um momento em que a legislação brasileira começou a exigir este tipo de informação no rótulo. Foi então que pensamos em segmentar nossa atuação. A expansão efetiva do mercado sem glúten começou em meados de 2014.
Quais são os maiores desafios deste mercado?
Como indústria, o maior desafio é homologar bons fornecedores. Por trás do produto exposto na prateleira existe toda uma cadeia. Temos que olhar desde a matéria-prima para nos certificarmos que o consumidor tenha uma garantia em relação ao produto final. Encontrar estes fornecedores não é algo simples, envolve visita in loco, conhecimento da área produtiva e de todos os processos. Tanto o orgânico quanto o sem glúten trazem muitas restrições, a matéria-prima fica limitada.
Que tipo de restrições?
No Brasil, por exemplo, existe uma legislação do mínimo de percentual de orgânicos que é preciso colocar nestes produtos, que é de 95%. Existem ainda as barreiras com relação à importação de produtos. Temos muitos produtos de qualidade inclusive em países vizinhos, mas que nós não podemos importar por barreiras sanitárias, acordos comerciais de exportação, o que limita o desenvolvimento.
E como são as matérias-primas oferecidas no Brasil?
O Brasil tem uma carência muito grande de matérias-primas para esta indústria, especialmente de grãos nobres, os chamados super foods. Hoje optamos pela importação principalmente por questões de padrão de qualidade e origem, 70% das nossas matérias-primas são importadas. A quinoa, por exemplo, é produzida em muitos países, mas no Salar de Uyuni, na Bolívia, ela é produzida a 4,5 mil metros acima do nível do mar, fazendo com que os benefícios nutricionais do grão sejam superiores aos demais. Isso é oferecer um diferencial ao consumidor e torna o produto premium.
O consumidor está disposto a pagar mais por um produto premium?
Quem tem a cultura de consumir produtos dentro desta gama, como orgânicos e sem glúten, entende que os processos são diferentes. Em um cultivo orgânico, livre de agrotóxicos, a escala de produção é menor e o custo de produção é mais alto. No caso dos sem glúten, as matérias-primas são mais caras, uma mistura de bolo, por exemplo, vai levar farinha de arroz, que é quase o dobro do preço da farinha de trigo. Este consumidor conhece o valor agregado do produto e entende que vai pagar mais caro.
Isso motivou a empresa a buscar o selo Glúten Free (em português, Sem Glúten)?
No Brasil, existe uma lei específica para orgânicos, mas os produtos sem glúten ainda não são regulamentados. O setor Glúten Free, oferecido por uma empresa americana, foi a maneira que encontramos de mostrar ao consumidor que toda a nossa linha é certificada. O processo de obter este selo foi relativamente simples porque estávamos preparados. Também adquirimos recentemente o selo Kosher, que certifica produtos consumidos pela comunidade judaica.
Como é o mercado sem glúten hoje no Brasil?
É um mercado em plena expansão. Em geral, este setor cresce em torno de 25% a 27% por ano, o que representa uma aceitação fantástica do consumidor se comparado a outros mercados.
Como a inovação corrobora com a evolução do mercado?
Cada vez mais é preciso buscar produtos que agreguem algo a mais para o cliente. Não basta que seja um produto sem glúten, tem que buscar novas tendências e enriquecer este alimento. Nós investimos em uma área de pesquisa e desenvolvimento por acreditar nisso. Estamos lançando a linha de misturas para bolo, por exemplo, que era uma carência do mercado. A ideia é que o consumidor tenha uma vida normal e possa ter a versatilidade de produtos de rápido consumo como qualquer outro.