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Na contramão dos EUA, shoppings retomam crescimento no Brasil

Por: Pedro Leal

08/02/2018 - 05:02 - Atualizada em: 09/02/2018 - 08:19

O desenvolvimento do setor de shopping centers no Brasil segue em direção contrária à dos Estados Unidos e da Europa, onde a tendência é a desativação das unidades comerciais. Enquanto nos EUA a previsão é de que até 25% dos 1,1 mil shoppings do país fechem nos próximos anos, o Brasil deve chegar à marca dos 700 shoppings nos próximos sete anos, segundo projeções da Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce). Hoje, o país conta com 571 centros.

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No caso do Jaraguá do Sul Park Shopping, em Jaraguá do Sul, 2017 registrou um crescimento de vendas de 21%, apesar do ano de “ajustes” na economia, conta o superintendente Olímpio Couto. O resultado foi significativamente melhor do que a média do setor: contabilizando apenas as chamadas “vendas das mesmas”, com lojas que já estavam abertas no começo do ano, o crescimento foi de 16%, contra a média de 3% dos shoppings brasileiros, de acordo com dados da Abrasce.

“Nos Estados Unidos, os shoppings ainda são em grande parte um espaço só para lojas, e a busca por atendimento especializado tem afastado o público das grandes lojas”, diz Couto, adicionando que o mercado norte-americano tem buscado nos shoppings brasileiros uma referência. De acordo com ele, um pilar fundamental das estratégias do setor foi a mentalidade de “mixed use” (uso misto) por trás do planejamento dos centros, agregando uma série de serviços ao espaço comercial. “Os visitantes vêm aqui para ir na academia, ir no cinema, e nisso faz compras e agrega fluxo às lojas”, explica.

Praça de alimentação, cinema e academia são atrativos para circulação nas lojas | Foto Eduardo Montecino/OCP

Em 2017, o setor faturou em todo o país R$ 167,7 bilhões, com alta de 6,2% sobre o ano anterior. A variação reverteu a tendência de queda registrada nos dois anos anteriores, mas ainda ficou abaixo da projeção da Abrasce, de 7%. Foram investidos R$ 166 bilhões no setor, entre expansões e 30 novos shoppings, 13 deles em cidades que não contavam com empreendimentos do tipo. Destes 30, 12 foram inaugurados. Já 2018, por sua vez, prevê a inauguração de 23 shoppings.

Couto destaca que o foco do setor tem se voltado cada vez mais para experiência do consumidor e não só a oferta de produtos, caso que se aplica ao shopping jaraguaense, que prevê para 2018 a instalação de um centro de ensino superior, que deve agregar movimentação para a parte comercial da unidade.

FALTA DE SEGURANÇA PODE TER CONTRIBUÍDO PARA O MOVIMENTO DO SETOR NO PAÍS 

Segundo um estudo da consultoria americana Lizan Retail Advisors, publicado em dezembro de 2017, há outro fator que explica o sucesso dos shopping centers no Brasil e no resto da América Latina: a falta de espaços públicos seguros para o lazer e o consumo. A carência destes espaços levaria a população para os shoppings, por oferecerem um conforto que o espaço público não oferece. O Brasil perde apenas para o México na taxa de abertura de shoppings.

Outro fator, de acordo com o estudo, é o poder de consumo e o acesso ao e-commerce: enquanto nos EUA o poder de consumo da população está estancado desde 2008 e as compras online se tornam cada vez mais comuns, no Brasil e na América Latina, os shoppings se popularizaram com o crescimento do acesso ao crédito e do consumo. A recente crise financeira causou uma queda perceptível na movimentação dos shoppings em 2015 e 2016, que foi recuperada ao longo de 2017. Cerca de 55% das compras em shoppings feitas no ano passado foram feitas em cartões de crédito ou débito.

Embora esteja em crescimento, o e-commerce ainda encontra barreiras que acabam levando ao consumo diretamente nas lojas, por conta do acesso limitado à internet – 58% da população tem acesso à rede – e à lentidão dos serviços postais, fatores que levam às lojas virtuais a ocasionalmente servirem como pesquisa antes de dirigir a uma loja física.

O conjunto de fatores também ajuda a explicar a popularidade do modelo dos shopping centers em outros países marcados por aumento do poder aquisitivo da população, carência de espaços públicos seguros e serviços postais ineficientes – como países do sudeste asiático, Oriente Médio e África.

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Pedro Leal

Analista de mercado e mestre em jornalismo (universidades de Swansea, País de Gales, e Aarhus, Dinamarca).