A riqueza escondida nos recantos bucólicos

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Por: Pedro Leal

11/03/2018 - 16:03 - Atualizada em: 11/03/2018 - 22:22

A partir deste fim de semana, e pelos próximos 12, o OCP traz uma série de reportagens com foco na agricultura local e regional. Denominada “Riqueza Rural”, a série tem o objetivo de descobrir o meio rural e suas principais riquezas, conquistas e dificuldades, além de contar a história das famílias que têm na agricultura a base de seu sustento. Nesta primeira reportagem, conheça as principais culturas de Jaraguá do Sul.

Jaraguá do Sul é conhecida por ser um polo industrial. Cercada por municípios com um perfil agrícola, a cidade é mais conhecida por suas grandes indústrias – o que esconde a riqueza de seus 402,447km² de área rural, equivalentes a 76% do território do município, cercada por belas paisagens.

Engana-se quem pensa que, por seu perfil industrial, Jaraguá do Sul não conta com uma produção agrícola significativa. Segundo dados da Prefeitura de Jaraguá do Sul, são 1.738 produtores regularizados no município, setor que movimentou em 2016 R$ 31,795 milhões em notas fiscais declaradas.

“Nossas raízes estão na agricultura, que hoje é o segundo principal empregador do município, perdendo apenas para a empresa WEG. Além disso, muitas pessoas trabalham no sistema part time, onde num período trabalham na empresa e outro na sua propriedade, com atividades agropecuárias”, descreve o secretário municipal de Agricultura, Daniel Peach.

A agricultura na região se caracteriza por um perfil familiar, com predominância de pequenos produtores. E Jaraguá do Sul não é exceção. Apesar do volume significativo de produção e do secretário destacar que é um grande empregador, o setor vive na informalidade: segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), são apenas 170 empregos formais no setor em Jaraguá do Sul – cerca de 0,27% da força de trabalho municipal.

INCENTIVO À PRODUÇÃO DE ORGÂNICOS PELO CINTURÃO VERDE 

Parte da invisibilidade do setor se deve ao fato de sua produção ser incapaz de atender às demandas do município: 90% dos produtos alimentícios vêm de fora do município, uma realidade que a Prefeitura trabalha para mudar. “Estamos trabalhando para que Jaraguá do Sul produza mais e melhor com o projeto Cinturão Verde, incentivando a produção de orgânicos dentro do município”, explica Peach. O programa foi iniciado com uma turma de 40 famílias, com cursos de capacitação, investimentos em equipamentos e incentivo à diversificação de suas propriedades.

Outra preocupação é com o êxodo rural. Para convencer os sucessores das propriedades rurais do município a se manterem na agricultura, um dos desafios é estender as facilidades do meio urbano para o meio rural – como saneamento básico pelo Projeto Sanear e acesso a internet – sem levar à urbanização, ao mesmo tempo em que se cria possibilidades para renda no campo. “Estamos em uma região consumidora e temos potencial, com clima favorável e terra e água em abundância para algumas culturas, como a horticultura”, conta Peach.

“Nossos projetos futuros são especialmente para que o agricultor produza o que consumimos, estamos numa região consumidora e temos potencial, como clima, terra e água em abundância para algumas culturas, como a horticultura. Gostaríamos de atingir os jovens sucessores das propriedades, para que eles produzam com responsabilidade, tenham renda no campo e os benefícios que os moradores da cidade têm.

“Hoje já fizemos o nosso dever de casa quanto à merenda escolar, nossos alunos já se alimentam com a maioria do que é produzido em Jaraguá do Sul, mas queremos estender para os mercados locais, empresas e feiras livres”, planeja.

GADO DE CORTE E AVICULTURA SOFREM COM FECHAMENTO DE FRIGORÍFICOS 

Além da agricultura e da piscicultura, o município tem forte presença na pecuária – particularmente na criação de gado para corte e ordenha e na avicultura. São cerca de 17 mil hectares dedicados ao pasto, distribuídos por toda a área rural do município.

Censo de 2016 apontou exatamente o número de cabeças de gado existentes em Jaraguá | Foto Eduardo Montecino/OCP

Segundo dados do IBGE, datados de 2016 – um pouco defasados – o município contava então com 10.650 cabeças de gado, 201.532 galináceos, 213 codornas e 3.252 porcos. De 10.650 bovinos, 4.662 eram vacas ordenhadas, gerando 9.605 mil de litros de leite. Por sua vez, a avicultura resultava em 201 mil dúzias de ovos de galinha e 4 mil dúzias de ovos de codorna.

A avicultura vem sofrendo baques devido desligamento dos frigoríficos da Seara, em 2012, e do Peccin, em 2017, o que levou os criadores para outras produções. “Muitos agricultores tinham aviá- rios em funcionamento, gerando maiores volumes de vendas. Mas a agricultura de Jaraguá do Sul se adaptou, buscou outras formas de produzir e aproveitar os espaços ociosos dos antigos aviários. Incentivamos a sua reutilização para a produção de horticultura”, explica o secretário de Agricultura.

O município conta com outros pequenos rebanhos, segundo os dados do IBGE. No ano em questão, eram 600 carneiros, 1.120 coelhos, 82 cabras e 115 búfalos, além de 650 cavalos usados como animais de tração.

BANANICULTURA E RIZICULTURA DOMINAM A SAFRA 

Segundo dados do IBGE de 2016 – o levantamento mais recente – o cultivo de banana cobre uma área de 2.100 hectares, o equivalente a 5% do território rural de Jaraguá do Sul. Destes, 1.900 hectares são dedicados ao cultivo da banana-caturra e 200 ao cultivo da banana-prata. Esse cultivo se concentra primariamente na localidade do Garibaldi, com expressões menores no Ribeirão Grande do Norte, Rio Cerro, Rio da Luz e Santa Luzia.

Os frutos são o principal cultivar do município e geram 1.250 empregos diretos, predominantemente entre as 250 famílias que vivem da bananicultura. Em 2017, o município produziu 47,5 mil toneladas de banana-caturra e 3,6 mil toneladas de banana-prata. Além da produção em si, a bananicultura traz consigo impactos na indústria e no comércio, com pequenos empreendimentos focados em produtos à base de banana.

Depois da banana, o principal cultivo do município é o arroz | Foto Eduardo Montecino/OCP

Depois da banana, o principal cultivo do município é o arroz, com predominância nos bairros Santa Luzia e Rio Cerro, cobrindo área de 900 hectares, com produção anual de 6,5 mil toneladas. O Norte catarinense é notório pela produção de arroz – são 22 mil hectares de plantações nos municípios de Araquari, Barra Velha, Corupá, Garuva, Guaramirim, Itapoá, Jaraguá do Sul, Joinville, Massaranduba, São Francisco do Sul, São João do Itaperiú e Schroeder. Destes 22 mil, Jaraguá do Sul representa 4,09%.

Outra safra em que Jaraguá do Sul se destaca é o aipim. O município produz 7.200 toneladas da raiz, sendo o maior produtor de aipim do Norte do Estado, com 360 hectares de terras dedicados ao cultivo, nas localidades do Jaraguazinho e do Garibaldi.

PALMITO, MEL E LENHA TAMBÉM TÊM PRODUÇÃO EXPRESSIVA 

Embora sejam as safras mais expressivas, banana e arroz não são as únicas safras de Jaraguá do Sul. O município tem uma produção expressiva de palmitos, e a Prefeitura atua no intuito de diversificar a safra das palmáceas. São cerca de 150 produtores com 200 hectares e uma produção anual de cerca de 140 toneladas por ano, por toda a área rural.

Uma área que merece destaque é a silvicultura: são estimados 3.000 hectares de mata cultivada, com uma produção anual de 72.770m³ de toras e lenha. Esse cultivo se dá em várias localidades rurais do município, com predominância do Garibaldi, Ribeirão Grande do Norte e Rio Cerro.

O município produz anualmente 4 mil toneladas de cana de açúcar, com 240 hectares de terras dedicadas à cultura usada para produção de melado e a silagem para o gado. A produção é tida como uma cultura secundária e não se concentra em nenhuma localidade específica. O milho é outra cultura secundária mantida por produtores locais, com produção de 640 toneladas por ano e 200 hectares de terras dedicadas ao grão.

Um produto de origem animal com produção significativa em Jaraguá do Sul é o mel. São 18 toneladas de mel produzidas por ano por apicultores locais, segundo a Prefeitura, com produção espalhada pelo município.

Além disso, o município tem uma produção pouco expressiva na área de olericultura, com 15 hectares cultivados para a produção de legumes e hortaliças como pepinos, beterrabas, e alface, assim como dois hectares dedicados à produção hidropônica de folhosas, estimada em 50 mil unidades por mês.

PISCICULTURA CONQUISTA ESPAÇO E GANHA ATÉ UMA FESTA 

A piscicultura também é destaque. São cerca de 600 produtores, com 50 destes já dentro da adequação técnica, segundo dados do IBGE. São mais de 300 hectares de lâminas d’água, com produção de 311 toneladas em 2016.

Piscicultura também é destaque: são cerca de 600 produtores Foto Eduardo Montecino/OCP

Essa produção é vendida diretamente ao consumidor, a pesque-pagues na região – muitos dos quais de produtores – e para peixarias. Uma meta da Prefeitura para o segmento – assim como ocorre em outros – é ampliar a participação dos criadouros locais no mercado jaraguaense.

Uma das formas tradicionais de presença dos peixes criados localmente é o Caminhão do Peixe, da Associação Jaraguaense de Aquicultores (AJA), que circula pelos bairros. O veículo foi cedido à Prefeitura pelo governo federal em 2011 e começou a circular em agosto do mesmo ano.

Para incentivar os produtores, a Prefeitura mantém há 20 anos campanhas de entrega de alevinos para os criadouros locais a preços reduzidos. No ano passado, foram 34 mil alevinos de 26 espécies diferentes, com predominância da tilápia e da carpa.

Campanhas de distribuição de alevinos incentivam produtores locais | Foto Eduardo Montecino/OCP

No ano passado, foi promovida a primeira Festa do Peixe de Jaraguá do Sul, no bairro Rio da Luz, promovida pela AJA e a Sociedade Desportiva Recreativa Rio da Luz 2, com apoio da Prefeitura. O evento foi mais uma das medidas buscadas para dar destaque à criação local.