A Regional Norte da Facisc, segunda maior exportadora de Santa Catarina, com cerca de R$ 9,2 bilhões em vendas externas em 2024 e 584 empresas exportadoras ativas, é uma das regiões que têm melhor desempenho diante do tarifaço imposto pelos Estados Unidos. A região responde por 20% das exportações catarinenses e é líder entre as 12 regionais da Federação em vendas para os EUA, o que representa 32% do total enviado ao mercado norte-americano.
A Regional é representada pelas associações empresariais de Araquari, Corupá, Garuva, Guaramirim, Itapoá, Jaraguá do Sul, Joinville, Massaranduba, São Francisco do Sul e Schroeder
Os dados são estimativas e levantamentos feitos pela Facisc, que foram apresentados nesta sexta-feira (26), em reunião de presidentes das associações empresariais da região.
Diferente do restante do estado, o perfil exportador do Norte é composto por vários produtos de alta intensidade tecnológica, como motores elétricos, silicones em formas primárias, transformadores,aparelhos de controle e maquinários para diversas indústrias, insumos essenciais para a indústria global.
Dos produtos da região que mais dependem suas exportações aos EUA, estão o silicone em formas primárias, com 60% das vendas para o país, os motores elétricos (30%), os aparelhos de controle (27%) e extratos de chá e café (30%). Há também os produtos como carbonatos e máquinas de terraplanagem com forte relação com o mercado norte-americano.
Setores impactados
Os efeitos iniciais sentidos pelos setores da região devido ao tarifaço são diversos. Há um grupo de setores que registraram queda expressiva nas exportações aos EUA em agosto, principalmente segmentos que são menos representativos na pauta de exportação principal da região, mas que são importantes para a diversificação produtiva, com destaque para extratos de chá, carbonatos e máquinas para peneiração de grãos.
O setor de insumos automotivos também registrou queda, mesmo não estando com tarifa máxima de 50%, e com a alíquota de 25% aplicada a todos os países. Além da queda nas vendas aos EUA, o segmento caiu nas exportações para outros países, como os fronteiriços com os EUA e alguns países da Europa.
Por outro lado, outros segmentos registraram crescimento robusto no mesmo período, como transformadores elétricos (+439%) e painéis para comando elétrico (+52%), que possuem vários produtos isentos da tarifa máxima. Além disso, cresceram em vendas internacionais alguns setores tarifados a 50%, como as máquinas para embalar mercadorias (+300%), silicones (+94%) e motores elétricos (+40%).
“Além da parcela significativa de fornecimento com os EUA, a produção de alta intensidade tecnológica na região faz com que várias empresas americanas dependam mais dos nossos setores, mesmo que o custo dos produtos estejam mais caros. Isso porque, são produtos mais específicos com maior dificuldade de substituição, fazendo os efeitos do tarifaço ou demorarem mais para acontecer, ou ocorrerem em menor magnitude”, explica o vice-presidente Regional da Facisc, Paulo Chiodini.
Diversificação de mercado
A análise da Facisc destaca que essa diversidade é justamente um dos trunfos do Norte. Além do aumento nas exportações para os EUA, esses setores também ampliaram as vendas para vários países, como Arábia Saudita, África do Sul, países da América do Sul e Central.
Outro ponto que diferencia o Norte das demais regiões é a estratégia de diversificação em vários setores. Nos últimos dez anos, apesar de grande parte manter a ou aumentar a participação dos EUA em suas exportações, empresas da região ampliaram as vendas também para outros mercados como México, Canadá, Turquia, Austrália, países da Europa Oriental (Romênia, Tchéquia, Eslováquia) e da América do Sul, além de conquistarem novos destinos como África do Sul, Emirados Árabes e Filipinas. Em 70% dos setores analisados, houve aumento da representatividade das vendas para outros países, sem perder o peso do mercado norte-americano.
O estudo alerta, no entanto, que o Brasil está em desvantagem competitiva, enquanto 32 países já renegociaram tarifas com os EUA, incluindo União Europeia, China e Japão, o Brasil permanece com uma das taxas mais altas, semelhante à da Índia. “Isso eleva o risco para setores estratégicos do Norte, que competem com países que já reduziram significativamente seus custos de exportação para o mercado norte-americano”, destaca Chiodini.
Para a Facisc, independente do resultado das negociações do Brasil com os EUA, é preciso fortalecer a diversificação comercial e ampliar negociações internacionais. “É preciso pensar em políticas no longo prazo para consolidar parcerias com novos mercados, especialmente na Europa em desenvolvimento, América Latina, Oceania e países pares ao Brasil, como África do Sul e Turquia”, que estão dentre os potenciais compradores dos nossos produtos, aponta.
Assim, mesmo diante do impacto do tarifaço, a Regional Norte se mantém como um dos principais motores da economia catarinense, sustentada por inovação, tecnologia e capacidade de adaptação em cenários adversos.