Depois de atravessar duas semanas de saídas, os fundos brasileiros dedicados a criptoativos fecharam o início de abril com entradas líquidas próximas de $250 mil de dólares, cerca de R$1,4 milhão. O reforço devolveu o fluxo ao campo positivo e acendeu a expectativa de que, ainda em 2025, o país supere o recorde de captação visto no ano passado.
O pano de fundo ajuda a explicar por que, mesmo modesta, a cifra foi celebrada. Em 2024, o Brasil já havia alcançado a terceira colocação global em captação, somando $234 milhões de dólares (aproximadamente R$1,44 bilhão) em aportes, atrás apenas dos Estados Unidos e da Suíça.
No mesmo período, os produtos cripto do mundo inteiro bateram o recorde anual com entradas de $44,2 bilhões de dólares, quase quatro vezes o pico anterior registrado em 2021. Isso coincide com o aumento do interesse de gestores por tokens ligados à inteligência artificial, área em que muitos projetos tem ganhado espaço.
As melhores criptomoedas de AI estão conquistando os brasileiros, chegando em um mercado aquecido e cheio de oportunidades. Porém, 2025 começou turbulento. Nos três primeiros dias úteis do ano, os ETFs à vista listados em Nova York responderam por $585 milhões de dólares de novos aportes, mas o saldo da semana, já incluindo os dois últimos pregões de 2024, virou negativo em $75 milhões de dólares.
Isso refletiu a realização de lucros após a disparada do Bitcoin. E o Brasil sentiu essa gangorra de perto. Na última semana de março, investidores locais sacaram líquidas $1,3 milhão de dólares (aprox. R$ 7,5 milhões), indo na contramão de mercados como Estados Unidos e Suíça, que permaneceram compradores.
Os números da reversão no Brasil e no mundo
A reversão de abril, que devolveu R$1,4 milhão aos fundos, mostra, segundo analistas, que parte desse capital apenas aguardava preços mais convidativos para retomar posições. Enquanto isso, o cenário internacional voltou a ganhar tração. No relatório semanal de 12 de maio, a CoinShares registrou $882 milhões de dólares em entradas globais.
Essa é a quarta semana seguida no azul e é suficiente para empurrar o fluxo acumulado de 2025 para $6,7 bilhões de dólares. Por aqui, o patrimônio líquido sob gestão (AuM) dos veículos brasileiros ronda $1,13 bilhão de dólares, valor que coloca o país na sexta posição mundial, mesmo após a recente maré de volatilidade.
A cifra reforça a percepção de que, mantido o ritmo atual, e sem novos choques externos, o mercado doméstico tem margem para ultrapassar o recorde de 2024 antes do quarto trimestre. Entre os fatores que sustentam essa tese está o avanço regulatório. A Resolução CVM 175, em vigor desde outubro do ano passado, colocou 38 normas em um único texto.
Além disso, passou a autorizar, de forma expressa, cotas de fundos expostos a criptoativos, desde que estes sejam negociados em ambientes sujeitos a supervisão equivalente. A maior previsibilidade reduziu custos de compliance e abriu caminho para estruturas mais sofisticadas.
Outro impulso vem da enxurrada de liquidez direcionada aos ETFs à vista de Bitcoin e, mais recentemente, de Ethereum nos Estados Unidos. Esse apetite transborda para outras jurisdições, inclusive o Brasil, tanto via arbitragem como pela necessidade de hedge cambial.
Ao mesmo tempo, o Banco Central segue testando sua plataforma de Drex (o real tokenizado), o que tende a estimular iniciativas locais de tokenização de ativos de renda fixa e de recebíveis. Em outras palavras, há uma regulação clara, um ecossistema doméstico mais profissional e um interesse renovado por ativos de risco visto em todo o mundo.
Tudo isso ajuda a explicar por que as plataformas projetam volumes acima do pico de 2024. Se o fluxo líquido permanecer em torno de $5 a 6 milhões de dólares mensais (patamar observado nas semanas positivas de 2025), o Brasil encerrará o ano com captação superior a R$1,6 bilhão, superando a marca anterior.
O avanço das criptomoedas na economia brasileira já aparecia como vetor de diversificação para empresas e varejo, junto a stablecoins lastreadas em real. A migração de parte desse capital informal para fundos regulados tende a tornar o ciclo de 2025 o mais institucional da curta história dos criptoativos no Brasil.
A convicção de muitos gestores é que a janela entre o segundo e o terceiro trimestres, período tradicionalmente forte para o mercado de capitais local, pode selar o novo recorde. Se a liquidez global continuar a favorecer ativos digitais e o arcabouço regulatório mantiver a trajetória de refinamento.