Números apontam retomada e aumentam otimismo do mercado, dizem especialistas
Economia
terça-feira, 08:03 - 18/04/2017

Por: Kamila Scheineder
Com os sinais de retomada da produção industrial e a melhora nos índices de emprego, o mercado se mostra otimista diante de uma recuperação gradual e consistente da economia nos próximos meses, apontam especialistas. Enquanto o ritmo de queda da taxa básica de juros continua intenso, a inflação mantém a tendência de desaceleração e o cenário se torna mais propenso ao consumo, fator crucial para a retomada do crescimento interno.
Em Jaraguá do Sul, a expectativa é voltar a atingir índices representativos já no próximo ano. O otimismo se deve, em grande parte, devido ao preparo e à solidez da indústria, dizem os especialistas. Alguns prejuízos, entretanto, devem acompanhar o mercado por mais tempo – a participação na divisão do ICMS, por exemplo, deve ser retomada somente em longo prazo. Para entender melhor como o ano começou, a reportagem do OCP fez um balanço dos principais números e conversou com especialistas para saber o que esperar daqui para frente e como estar preparado para este novo cenário.
Mercado apresenta potencial para recuperação no número de empregos
Um dos fatores que mais preocupa o mercado é o desemprego, afinal, a população precisa ter renda para fazer a economia interna girar. Entre janeiro e março, Jaraguá do Sul surpreendeu ao gerar 1.098 novos postos, índice que não supera a grande perda registrada no ano passado (foram 3,9 mil vagas perdidas), mas que demonstra potencial para recuperar o ritmo de crescimento de anos anteriores. Para efeito de comparação, no primeiro trimestre do ano passado, foram criadas apenas 67 novas vagas na cidade.
De acordo com o economista e professor da Católica SC, Jamis Antonio Piazza, o mercado local é formado principalmente de empresas sólidas e que souberam se preparar para a crise, adotando medidas que permitem uma retomada rápida nos resultados. Sendo assim, a geração de emprego tende a crescer de forma mais acelerada, ainda que não de uma só vez, aponta o economista.
Os avanços no mercado externo são primordiais neste sentido, pois suprem a necessidade de produção que o mercado interno ainda não comporta. Segundo Jamis, a liberação dos recursos do FGTS e a queda na taxa básica de juros são outros dois fatores que estimulam o aumento do emprego, uma vez que estimulam o consumo e aumentam a confiança do setor empresarial.
Arrecadação fica estagnada e recuperação demora mais no setor público
Apesar dos avanços percebidos no mercado, o setor público ainda amarga índices abaixo do esperado. A arrecadação de ISS, por exemplo, cresceu apenas 0,2% no primeiro trimestre, resultado irrisório diante do avanço de 9% esperado pela Prefeitura, totalizando R$ 7,812 milhões. Já o ICMS caiu 2,2% no primeiro trimestre, frente ao mesmo período de 2016, somando R$ 36,9 milhões (quase R$ 800 mil a menos do que no ano passado).
Segundo o secretário da Fazenda de Jaraguá do Sul, Marcio Erdmann, apesar da estagnação, o poder público está confiante de que a melhora no mercado interno somada a ações de combate à inadimplência e à sonegação irão impulsionar a arrecadação nos próximos meses. “Tributos que afetam o nível de lucratividade geram efeitos mais tardios, mas outros impostos tendem a acompanhar de perto os indicadores econômicos”, explica Erdmann.
O secretário cita o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), divulgado ontem (17), para explicar os números: em fevereiro, a economia brasileira cresceu 1,31%, na comparação com janeiro. Se levados em conta os últimos 12 meses, entretanto, a atividade econômica apresenta queda de 3,56%. “O mercado trabalha hoje com crescimento de 0,40% do PIB, enquanto o BC adota estimativa de 0,50% do PIB. O mercado e o governo esperam praticamente o mesmo, mas a tendência é que se recupere de pouco em pouco. Por enquanto, se não tem queda já é positivo”, ressalta o secretário.
Indústria está pronta para conquistar mais espaço no mercado externo
A Balança Comercial de Jaraguá do Sul começou o ano com crescimento de 10,5%, alcançando superávit de US$ 52,3 milhões no primeiro trimestre. O resultado ainda é baixo se comparado aos anos anteriores à crise, como 2013, por exemplo, que teve superávit foi de US$ 91,6 milhões. Entretanto, representa um avanço importante frente ao primeiro trimestre de 2016, quando o saldo atingiu o menor patamar em 11 anos.
“O que temos visto é uma melhora sensível, resultado do aumento nas vendas no final do ano passado. O mercado internacional está mais receptivo, e apesar de ser um desafio, cada vez mais nossas empresas vêem isso como um desafio positivo e se preparam culturalmente para exportar. Isso é fundamental neste momento”, aponta o vice-presidente da Fiesc para o Vale do Itapocu, Célio Bayer.
Na avaliação de Bayer, os números mostram que Jaraguá do Sul já está retomando espaço no mercado externo e a expectativa é manter o crescimento. “As empresas investiram e prospectaram novos mercados no ano passado, então os frutos serão colhidos agora. O setor têxtil jaraguaense tem trabalhado muito nesse sentido. Não podemos esquecer que outros países também estão de olho no nosso mercado, que está se recuperando, então precisamos manter o equilíbrio entre a atuação externa e interna”, indica.
Confiança ajuda a elevar consumo e a manter inflação sob controle
Os cortes também mostram que o governo está ciente da importância de melhorar os ânimos e dar mais segurança ao consumidor, ao mesmo tempo em que dá subsídios para o crescimento da iniciativa privada. “Quanto mais consumimos e menos produzimos, maior a inflação. É um veneno que precisa ser combatido. O governo sempre toma ações pensando em aumentar a produção e o consumo na mesma medida, mas para que isso aconteça espera-se que o mercado acompanhe certas ações”, afirma o economista Gustavo Lima Soares.
Por enquanto, a inflação dá sinais de desaceleração e deve se manter assim.
No primeiro trimestre, a inflação oficial, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), ficou em 0,96%, o menor desde o início do Plano Real. No mesmo período do ano passado o índice estava em 2,62% e em 2015 chegou a atingir 3,5%. Se a produção industrial avançar, entretanto, o consumo precisará acompanhar esse crescimento, e é aí que mora o desafio.
“Em geral, o brasileiro ainda está com medo da crise. As pessoas tendem a ganhar dinheiro e guardar um pouco mais, por isso o consumo que se espera pode não vir tão de imediato. Tudo vai depender do quanto o governo conseguir mostrar que está tudo bem e incentivar o consumo de forma saudável”, destaca Soares. Por enquanto, a meta do BC é fechar o ano com a inflação em 4,5%.
Selic deve seguir em queda para estimular consumo interno
O Banco Central tem apostado na intensificação dos cortes na taxa básica de juros (Selic). Na última semana, o banco anunciou corte de 1% na Selic, que foi de 12,25% para 11,25% ao ano. Foi o maior corte em mais de oito anos. Desde abril de 2013, a Selic enfrentou aumento gradual até alcançar 14,25% em julho de 2015.
Somente em outubro do ano passado o BC voltou a reduzir os juros básicos brasileiros.
Para este ano, o mercado financeiro vê a Selic a 8,50%, o que significa que os cortes devem continuar. Segundo o economista e especialista em gestão de negócios, Gustavo Lima Soares, o ritmo de cortes adotado pelo BC é fundamental para a retomada do consumo interno, já que a taxa básica influencia todas as outras taxas de juros.
“Reduzindo a taxa do cartão de crédito, por exemplo, os bancos tendem a segurar outras taxas, como de financiamento de automóveis ou imóveis, estimulando o consumo de bens de valor agregado, que são os que efetivamente influenciam o crescimento do PIB”, explica.
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