Filho de comerciante e com um “gosto nato” pelo comércio, o novo presidente da CDL (Câmara de Dirigentes Logistas), Marcelo Nasato, toma posse nesta quinta-feira, às 20h na Scar, com a promessa de renovar os parâmetros do setor em Jaraguá do Sul. Acostumado a passar o dia entre corredores e produtos desde pequeno, Nasato vê no associativismo uma forma de incentivar a evolução e o desenvolvimento conjunto da região, mas não deixa de lado bandeiras antigas defendidas pela entidade e que continuam a gerar debate entre os diferentes lados da classe comerciante. Em entrevista ao jornal O Correio do Povo, o lojista comenta sobre os principais projetos para 2016, como o da decoração natalina, fala sobre a abertura do comércio aos domingos e sobre os desafios do setor em um ano de desafios da economia.
OCP – Quais são os primeiros passos da nova gestão?
Marcelo Nasato – Neste primeiro momento, nos voltamos para dentro da entidade para rever o que estava sendo feito e tentar de alguma forma renovar os processos. A maior preocupação é buscar esta oxigenação, trazer novas ideias, que são sempre válidas. Já estamos com alguns projetos, o principal deles talvez seja o da decoração natalina, que estamos desde já batalhando para viabilizar junto ao poder público, ou quem sabe em parceria com a iniciativa privada. Também temos algumas ideias de ferramentas que podem auxiliar na ampliação das vendas, como por exemplo a criação de um aplicativo para reunir informações sobre os lojistas. Algo no sentido de facilitar a busca por produtos, lojas, localizações, fotos, informações de venda em geral. Estamos afinando a conversa para quem sabe ter algo em breve.
Como estão as expectativas para o setor neste ano?
É sem dúvida um período mais turbulento, parece que há uma nuvem cinza, uma insegurança, que não deixa a coisa andar. Mas o comércio por si é uma atividade dinâmica, que exige mudanças rápidas, adequação de vitrine, busca por novas mercadorias. É preciso inovar, criar, para mudar este cenário ou pelo menos manter o que já vinha se fazendo. Sabemos que não é o momento de ousar com grandes investimentos, mas em aspectos pontuais para melhoria do negócio. Observar realmente o que acontece, o comportamento dos clientes, melhorar o atendimento, buscar novas perspectivas e com isso aproveitar ao máximo o potencial consumidor
A CDL defende a bandeira da liberação da abertura nos sábados. Ainda há movimentação nesse sentido?
É preciso ter em mente que nenhum empresário vai trabalhar se não for rentável para o negócio. A sugestão não é abrir sempre, mas aproveitar datas estratégicas. Se há um evento na cidade e ele é interessante para o meu comércio, as pessoas estão circulando, por que não abrir minha loja e promover algo específico para aquele evento? É algo pontual. Além disso, é uma decisão conjunta com a equipe, que será remunerada com horas extras, dentro da lei.
E quanto ao projeto que permitiria a abertura do comércio aos domingos, qual é a visão?
Eu sempre digo que não abriria aos domingos, mas, novamente, se você tem um evento ou um motivo, por que não abrir? O que questionamos é a proibição. É claro que é preciso regularizar, manter tudo dentro da lei e ter o sindicato acompanhando para saber se as empresas cumprem com o dever. Mas não dizer que não pode. Quanto me custa hoje um aluguel, uma energia? Às vezes estas horas a mais podem pagar esta conta. É um debate que deve evoluir na cidade, mas também é preciso ter em mente que Jaraguá precisa comportar isso. Não adianta abrir para ter a mesma receita. Temos que conseguir atrair mais pessoas, de forma a ampliar a receita. Essa é a forma inteligente de pensar. Proibir não é interessante, mas fazer por fazer também não. Tem que ser justificado.
Por que há polêmica nas feiras itinerantes?
A CDL não é contra as feiras, mas contra a desigualdade de tratamento. Em qualquer comércio você ganha um cupom fiscal que automaticamente representa um tributo daquele produto, a empresa paga impostos sobre a venda. No regime de feiras como costumava ser, se pagava um valor sobre quanto deduzia faturar, e se você tem menos custo, vende mais barato. Além disso, é preciso questionar a origem dos produtos, por que não possuem nota fiscal, essas coisas. O dinheiro gasto aqui fica na cidade, enquanto o gasto numa feira vai embora. Não há retorno e o consumidor ainda corre o risco de adquirir um produto sem procedência ou suporte. Agora, com a lei estadual que regulamenta isso, o que cobramos é que seja fiscalizado pelo poder público.
Como manter os consumidores na cidade?
Essa é uma pergunta que temos feito muito e nos estimulou a começar uma pesquisa para entender o comportamento do consumidor. Sabemos que grandes centros oferecem muitas opções, mas hoje consideramos Jaraguá do Sul sortida e no mesmo patamar. Talvez o atendimento não seja o que as pessoas esperam, apesar de já ter melhorado muito. Mas muitas vezes é só uma questão de oportunidade, de estar em outra cidade e decidir consumir nessa cidade.
E como mudar esse cenário?
Talvez procurando se antecipar, criando campanhas, atrativos. Fazer com que o consumidor escolha ficar aqui porque tem preço justo, qualidade, procedência. Tornar vantajoso. Precisamos “vender” a cidade! O município precisa se vender e acho que Jaraguá do Sul tem se reestruturado nesse sentido. Alguns investimentos e eventos mostram isso. A mudança ocorre em várias frentes. As entidades de classe e a iniciativa pública precisam se engajar nisso, fazer a comunicação fluir. Trata-se de mostrar o que temos de melhor. Nós ajudamos a vender a cidade num primeiro momento, e depois a cidade ajuda o comércio vender, é uma contrapartida.
Como será essa pesquisa que o senhor mencionou?
Estamos fazendo uma série de reuniões para definir as linhas que queremos seguir, o que precisamos saber. Queremos entender o que o consumir compra na cidade e por que ele não compra. Se gosta do atendimento, das lojas, dos horários. Ver se é um hábito ou se ele prefere outros meios. Esperamos que até março tenhamos essa pesquisa pronta.
Que ações a CDL prepara para a inovação?
Temos programadas quatro grandes palestras com empresários de referência no mercado, duas para cada ano. A ideia é não atolar os empresários de palestras, mas sim trazer algo que realmente colabore, com pessoas que fizeram a diferença, foram inovadoras e ousadas. É um estímulo para que eles também façam diferente. Junto a isso vamos trabalhar a ideia de oferecer cursos e workshops.
A rotatividade de funcionários ainda é um grande problema no setor?
Percebemos que a rotatividade caiu bastante. Antes havia uma facilidade de que a demanda [de empregos] era maior do que a oferta [de profissionais]. Então, em qualquer oportunidade, as pessoas tendiam a ir para a indústria, por causa dos horários, principalmente. Com a escassez de emprego, a rotatividade diminuiu. A vantagem disso é que você prepara melhor o funcionário, que se torna mais capaz de melhorar a qualidade do atendimento. Vai do comerciante saber aproveitar essa oportunidade.