Longe do mar, jaraguaense ganha a vida fabricando pranchas de surf

Edson Thonsen comercializa itens para surfistas | Foto Eduardo Montecino/OCP News

Por: Elissandro Sutil

18/09/2018 - 05:09 - Atualizada em: 18/09/2018 - 09:39

Se hoje não é tão difícil ver carros saindo de Jaraguá do Sul sentido litoral com pranchas de surf bem presas ao teto dos veículos, o cenário era bastante diferente em meados da década de 1980, quando o então orçamentista da WEG Edson Thonsen dava os primeiros passos, ou melhor, as primeiras braçadas no mundo do surf.

Das águas de São Francisco do Sul, onde costumava e ainda costuma surfar, para a oficina improvisada foi um pulo. Ele conta que o ano era 1985 quando, pela primeira vez, se aventurou pelo universo artesanal das pranchas de surf.

Hoje, aos 45 anos, Thonsen é dono da própria loja que comercializa artigos voltados ao surf e, claro, as queridinhas: as pranchas.

De lá pra cá ele já perdeu as contas de quantas pranchas passaram por suas mãos, mas ele viu o número de surfistas multiplicar no município que está a cerca de 75 quilômetros das praias preferidas de Edson.

São Francisco do Sul é o destino perfeito, uma vez que, se o vento não for favorável em uma das praias, certamente será em outra, graças ao desenho do litoral.

Empresário viu o número de surfistas multiplicar na região | Foto Eduardo Montecino/OCP News

Empresário viu o número de surfistas multiplicar na região | Foto Eduardo Montecino/OCP News

O número limitado de surfistas na época fazia com que a oferta desse tipo de serviço também fosse ínfima, o que acabou motivando o gosto pelas lixas, tecidos e resinas. “Não tinha ninguém para consertar as pranchas aqui, tinha que ir para Joinville ou alguma praia”, lembra.

A distância acabava não compensando financeiramente e esse foi o gatilho para que ele começasse a testar, em sua própria prancha, os consertos.

Com a experiência, o número de surfistas multiplicando assim como o de clientes, o horário “extra” após o serviço já não era suficiente para dar conta do volume de pedidos, nem da ansiedade de Thonsen. “Eu não queria mais aquilo de viver para trabalhar, eu queria trabalhar para viver”, diz.

Em 2009 saiu da WEG e com o dinheiro da rescisão investiu na loja que mantém até hoje, afinal, o número de potenciais clientes na cidade saltou.

Se eram 10 em 1985, hoje, garante ele, gira em torno de 300. “Mas os surfistas que estão na ativa mesmo, até no inverno, devem ser uns 80”, complementa.

Negócio se tornou rentável

Ao longo dos anos, o surfista empreendedor criou um leque de opções para os clientes. Na loja, há opções para quem quer comprar pranchas usadas ou fazer sua encomenda personalizada.

“O cara encomenda e eu faço desde o zero até o acabamento final”, fala. Além disso, ele não deixou a oficina de lado e segue consertando as peças.

Uma das principais fontes de receita é a venda de pranchas usadas porque, ele explica, as pessoas deixam na loja para vender mediante uma comissão. “Em dezembro passado, por exemplo, eu vendia cinco pranchas por dia”, conta.

Passatempo se transformou em negócio | Foto Eduardo Montecino/OCP News

Passatempo se transformou em negócio | Foto Eduardo Montecino/OCP News

Se antes o trabalho era feito por hobbie, hoje é dele que sai o ganha pão da família. O negócio deu tão certo que nasceu a “Challenge Surfboards”, a marca própria de Thonsen. Atualmente, são cerca de 130 pranchas usadas disponíveis para venda, 15 novas e duas na oficina sendo consertadas.

Hoje, o movimento é razoável, mas ele conta que em dezembro, “o bicho pega”. “Agora é mais tranquilo, mas no verão… Como agora o pessoal não está surfando, deixa a prancha parada lá, aí quando vão olhar precisa de conserto e isso aqui vira uma loucura”, diz.

Fabricação artesanal e cuidadosa

Detalhista, o processo de fabricação do jaraguaense leva, em média, duas semanas, embora dê o prazo de três semanas para o cliente, para garantir que não haverá atrasos.

Utilizando tintas à base de água, o processo de secagem pode demorar mais do que as produções em grande escala, mas ele não abre mão de materiais menos danosos ao meio ambiente.

Com o bloco de isopor trazido de Florianópolis nas mãos, inicia a produção: tecido, resina, lixa, resina, lixa, resina. Ele não se importa em repetir o processo desde que a prancha esteja perfeita. “Se eu ver um pedacinho de tecido, lixo e resino de novo, chega a ser exagero”, brinca.

Para o jaraguaense que largou a estabilidade de um emprego na maior empresa da cidade pela liberdade do próprio negócio e do surf, só há uma certeza na vida: irá surfar até o fim.

Aposta do empresário é na fabricação artesanal das pranchas | Foto Eduardo Montecino/OCP News

Aposta do empresário é na fabricação artesanal das pranchas | Foto Eduardo Montecino/OCP News

“É uma sensação única que só quando tu desce a primeira onda, tu entende. É como se sentisse ‘eu consigo fazer isso’. Não tem explicação”, diz.

A paixão pelo surf é tanta que desde o ano passado, Thonsen e um grupo de 12 jaraguaenses se organizam para uma viagem única rumo a Indonésia. Em junho de 2019, o grupo embarca para a Ilha de Mentawai, considerada um templo do surf mundial.

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