Por Kamila Schneider
Nem mesmo a incerteza econômica foi o suficiente para segurar a intenção de investimento das indústrias catarinenses. É o que aponta uma pesquisa divulgada esta semana pela Fiesc: segundo o levantamento, as empresas do setor pretendem investir R$ 7,3 bilhões este ano. Apesar de ser menor do que o montante investido no ano passado, quando a indústria destinou R$ 7,6 bilhões para a melhoria de suas estruturas e processos, o presidente da entidade, Glauco José Côrte, avalia o valor como positivo considerando as reviravoltas políticas e econômicas vivenciadas no país.
Para realizar o levantamento, a Fiesc ouviu 218 empresas catarinenses de diferentes portes, das quais 61% projetaram algum investimento para este ano. Ainda segundo o estudo, 87% das empresas pesquisadas dizem estar com a capacidade produtiva adequada à demanda, o que demonstra que o industrial catarinense mantém o foco no futuro.
“Desde o início da crise a indústria trabalha com 80% da sua capacidade. Enquanto isso, esses 20% de ociosidade vinham corroendo suas margens. Para vencer a concorrência, estas empresas estão apostando em novos produtos, demanda que é atendida em parte pela força ociosa e em parte pelos investimentos feitos nos últimos anos”, explica o coordenador do Observatório da Indústria Fiesc e responsável pela pesquisa, Sidnei Rodrigues.
A pesquisa mostra ainda que 41% dos investimentos previstos para este ano devem ser direcionados ao mercado externo o que, segundo Rodrigues, indica que a indústria está madura para conquistar espaço no cenário internacional. “O mercado externo qualifica o produto e a competitividade de uma economia. Investir fora mostra que a indústria está preocupada em adequar o seu produto para aumentar o seu market share (grau de participação) nas principais economias do mundo. Isso é extremamente positivo, especialmente por que também acontece nas pequenas e médias empresas”, avalia o coordenador da pesquisa.
Segundo Rodrigues, esse movimento pode ser notado na utilização destes recursos, uma vez que são investimentos voltados para tornar a indústria mais produtiva, relacionados a equipamento, tecnologia, pesquisa e inovação. “Eles estão colocados na parte mais nobre da indústria e a responsável por preparar as empresas para a retomada do crescimento”, salienta.
Com a demanda em recuperação, a aquisição de máquinas e equipamentos se torna o principal destino dos recursos para 76% dos entrevistados, seguida pela atualização tecnológica e modernização (64%) e a ampliação da capacidade produtiva (63%). “Não tenho dúvida de que isso fará a indústria catarinense sair da crise mais forte do que entrou”, afirma Rodrigues.
“Hoje, a indústria de SC é uma das que melhor reage ao cenário de crise, com ótimos indicadores de confiança, produção, exportação, geração de emprego. Não significa que ela passa à margem da crise, mas sim que está melhor preparada, principalmente por que temos uma das indústrias menos concentradas do Brasil, com uma matriz dominada por diversos setores”, complementa Rodrigues.
Para atrair investimentos, microrregião precisa apostar em infraestrutura e desburocratização
Para ser capaz de atrair uma fatia mais representativa dos investimentos, a microrregião precisa desenvolver projetos capazes de melhorar a infraestrutura e desburocratizar a rotina dos negócios, defende o presidente da Associação Empresarial de Jaraguá do Sul (Acijs), Giuliano Donini. Só assim o município poderá alcançar o desenvolvimento econômico e social que almeja, acredita o empresário.
“Precisamos continuar gerando condições para que se invista na região. Não podemos baixar a guarda e achar que está bem como está – questões como a burocracia ainda são um problema e neste sentido não estamos conseguindo evoluir. Precisamos acordar para a situação para que não vejamos o potencial das empresas ser direcionado para outras regiões”, afirma Donini.
Segundo o empresário, a desburocratização é uma das poucas questões que podem ser quase que completamente sanadas diretamente no município. “Falta um entendimento claro sobre o que motiva o empreendedor. E com isso não defendo que ‘tudo é válido’, mas sim de que é preciso razoabilidade, saber o que é possível, por que no final quem paga é a sociedade”, diz ele. “O bom senso precisa estar em todos os órgãos, esferas e pessoas. É responsabilidade de todos”, acrescenta.
Conforme Donini, o cenário econômico ainda passa por períodos de instabilidade, o que significa que o mercado irá enfrentar desafios até que haja uma retomada efetiva do crescimento. Até lá, qualquer investimento tem o potencial de se tornar um verdadeiro motor para a economia local, analisa.
No que diz respeito à infraestrutura, o representante da Acijs avalia que nos últimos anos a microrregião se viu obrigada a lidar com investimentos parciais em obras que ajudariam a sanar parte do problema, mas não são suficientes para trazer uma solução efetiva. “Soa como bater na mesma tecla, mas temos que trabalhar e brigar para criar as melhores condições para viabilizar a ampliação dos investimentos”, salienta Donini.
Qualificação profissional é a maior vantagem do estado, aponta a estudo
A pesquisa revelou ainda que para 62% dos empresários entrevistados, a maior vantagem de investir em Santa Catarina é a qualificação dos trabalhadores. Além disso, 59% dos gestores apontam os colaboradores como um dos fatores que mais impactam positivamente no desempenho industrial, logo após o método de gestão (69%).
Para Donini, o resultado reforça a importância de investir também em educação e ações de qualificação, trabalho que, segundo ele, tem sido amplamente realizado em Jaraguá do Sul. “Notamos que é uma questão cultural em que não se aceita ficar estagnado”, comenta ele. Na avaliação de Donini, à medida que o mercado cresce e evolui, a força de trabalho tende a acompanhar o cenário, o que reforça, mais uma vez, a importância de atrair investimentos. “Movimentos como a vinda da BMW para Araquari provam que grandes demandas ajudam a desenvolver um ambiente mais qualificado”, diz.
Perspectivas da indústria
Investimentos feitos em 2016
58% das indústrias realizaram algum investimento. A média ficou abaixo
da nacional, que foi de 67%.
As indústrias do Estado destinaram
R$ 7,6 bilhões para o desenvolvimento de produtos
ou melhoria de processos, sendo
que 80% delas utilizaram recursos
próprios como fonte.
Os recursos foram destinados para a continuação de projetos em 56% das empresas. Outras 20% investiram em novos projetos e 24% dividiram entre ações novas e em andamento.
42% das empresas
afirmaram que os investimentos não
foram realizados integralmente.
A aquisição de máquinas e equipamentos foi o principal destino dos investimentos de 77% das empresas.