Mercado local ainda luta para se recuperar da crise, dizem especialistas

Por Kamila Schneider | Foto Arquivo OCP

A instabilidade política, os baixos índices de consumo e a escassez de ações públicas para o fomento da economia fizeram com que o cenário econômico avançasse pouco nos primeiros seis meses do ano. É esta a avaliação de alguns representantes e especialistas do setor empresarial de Jaraguá do Sul. Apesar dos indicadores que mostram avanços em áreas relevantes, como emprego e comércio internacional, a região ainda “patina” para fugir dos reflexos da crise que, segundo os especialistas, continua a assombrar boa parte dos setores.

O cenário segue a tendência observada no mercado nacional – há avanços, sim, mas não suficientes para retomar o crescimento de forma efetiva, aponta o presidente da Associação Empresarial de Jaraguá do Sul (Acijs), Giuliano Donini. “A macroeconomia mostra que a recuperação não aconteceu. Vemos números positivos em relação à inflação, mas a queda dos preços em um momento em que o consumo não cresce também traz perda de rentabilidade para a indústria”, analisa ele.

“Para estimular o consumo é preciso retomar o crédito e isso exige juros mais baixos. O brasileiro está calejado dos juros e vem de uma época de muito endividamento. A expectativa era de que a liberação do FGTS inativo alterasse isso, mas o dinheiro aparentemente foi muito mais para o pagamento de dívidas do que para o consumo”, complementa o empresário.

Segundo Donini, a matriz econômica diversificada e o alto número de empresas de força internacional ajudaram Jaraguá do Sul a conquistar certo avanço no primeiro semestre, mas não foi o suficiente para garantir a retomada efetiva do crescimento. “Sempre soubemos reagir com rapidez e temos o mérito de estar evoluindo dentro de um cenário ainda ruim. Mas o melhor que podemos tirar desse semestre são as perspectivas trazidas por movimentos que aconteceram agora, como a reforma trabalhista, por exemplo”, sinaliza ele.

Para o empresário, a reforma foi fundamental para trazer mais otimismo ao setor empresarial e estimular novos investimentos. O mesmo vale para a redução da taxa Selic, fundamental para incentivar o consumo – recentemente economistas voltaram a sinalizar a possibilidade de fechar o ano com a Selic na casa dos 7%, o que antes havia sido desacreditado devido aos escândalos de corrupção envolvendo o presidente Michel Temer.

“A riqueza se faz através do fomento da atividade econômica, e da atividade industrial, em especial, porque é ali que acontece a transformação da matéria-prima em produto e se dá valor ao processo”, ressalta Donini. E é este setor que tende a se recuperar primeiro, pelo menos quando o assunto é emprego: entre janeiro e junho, por exemplo, a indústria da transformação criou 998 vagas de emprego em Jaraguá do Sul, quase 800 vagas a mais do que o segundo colocado, o setor de serviços.

Conforme o economista e professor da Católica SC, Rene Grossklags Junior, setores como construção civil e comércio estão diretamente ligados a investimentos e gestão do crédito, o que retarda o processo de recuperação. “No caso da construção civil, os agentes econômicos estão com receio de investir devido ao aumento do risco político que dificulta o crescimento econômico, gerando insegurança. Já o comércio está ligado a tudo isso: sem investimento não tem consumo e, consequentemente a economia não gira”, explica ele. Todo este cenário leva a uma previsão de crescimento do PIB entre 0,5% e 1,0% este ano, o que o economista avalia como “muito pouco” para uma economia como a brasileira.