Mercado de carros elétricos no Brasil traz desafios e oportunidades para cadeia automotiva

Foto: Caroline Stinghen

Por: Pedro Leal

12/06/2024 - 17:06 - Atualizada em: 12/06/2024 - 17:18

Em 2023, o segmento de carros elétricos no Brasil registrou a venda de 50 mil unidades, enquanto nos primeiros cinco meses deste ano 33 mil unidades foram comercializadas. Volume pequeno diante do mercado global, mas que reflete uma tendência de crescimento e os potenciais para toda a cadeia automotiva do país, ao mesmo tempo que esta expansão traz desafios que vão da produção e manutenção à infraestrutura para abastecimento da frota.

Todos estes aspectos do negócio que atende às exigências pela sustentabilidade global, que tem como um dos eixos a transição energética e a necessidade de redução das emissões de gases de efeito estufa, com a substituição de combustíveis fósseis, foram abordados no . o 2º Painel de Carros Elétricos que os Núcleos de Automecânicas e de Concessionárias de Veículos da Acijs realizaram no dia 4, no Centro Empresarial de Jaraguá do Sul.

Participaram do painel o engenheiro Eduardo José Batista, chefe de projetos de mobilidade elétrica da WEG, que falou sobre o desenvolvimento da indústria de baterias para carros elétricos e como a empresa vem se posicionando neste segmento; Diego Zaninotto, diretor da Uvel Veículos, mostrou como o mercado vem se comportando para atender a demanda; e Frederico R. Bastos, CEO na TBOX Automotive Diagnostics, falou sobre as oportunidades que a eletro mobilidade pode oferecer a profissionais da cadeia automotiva. Mediador do painel, o empresário Odair Borges de Freitas, da ABF Bosch Service e integrante do Núcleo Estadual de Automecânicas e da Associação de Reparadoras de Veículos de Santa Catarina, ressaltou a importância da iniciativa, em sua segunda edição, de compartilhar informações sobre o assunto. Ex-coordenador do Núcleo Empresarial de Automecânicas da ACIJS de 2004 a 2007 e ex-vice-presidente da entidade, Freitas destacou que há grandes desafios, mas também novos caminhos para empresas já atuantes e outras que podem aproveitar novos nichos em torno dos motores híbridos ou totalmente elétricos.

Eduardo José Batista disse que a WEG vem acompanhando o mercado e está atenta às oportunidades de ampliar o leque de atuação no segmento de veículos elétricos, porém dá atenção especial principalmente ao desenvolvimento de soluções para o transporte coletivo e veículos pesados como caminhões. Ele informou no painel que a empresa investe em uma nova planta industrial em Jaraguá, com previsão de inauguração ainda em 2024, para a fabricação de baterias elétricas para ônibus.

“A WEG avalia uma grande oportunidade visto que em todo o Brasil existe um grande movimento de eletrificação dos veículos de transporte público, de ônibus e caminhões. Então, visando principalmente num primeiro momento atender ao mercado interno, nós estamos nos capacitando e ampliando toda a nossa capacidade produtiva para atender a este mercado”, assinalou.

Hoje a WEG produz baterias para equipar 5 ônibus por dia e com a nova planta duplicará esta capacidade. Além disso, a empresa desenvolve soluções como baterias para veículos menores, estações de recarga e outros equipamentos direcionados ao segmento.

De olho no crescimento do mercado, as concessionárias e revendas também se preparam para atender a demanda por modelos híbridos ou totalmente elétricos. Acompanhando o quadro estadual de aumento nas vendas, Jaraguá do Sul e os municípios da região estão entre os centros onde a procura por carros elétricos mais tem se acentuado. Somente de janeiro a maio, 63 unidades já foram comercializadas na região, com projeção de duplicar esse número nos próximos anos. Para o diretor da Uvel Veículos, Diego Zaninotto, este desempenho tem impacto sobre toda a cadeia automotiva, mas o mercado ainda passa por um período de adaptação à nova realidade em torno da eletro mobilidade.

“Toda a tecnologia nova como é a do veículo elétrico passa por um período de maturação, mas também vem para superar uma anterior. Mas independente do tempo para esta adaptação, esta nova tecnologia acaba superando a existente e quanto mais as pessoas entenderem essa mudança elas irão buscar opções de acordo com as suas necessidades. Com o carro elétrico, vai acontecer da mesma maneira, mas o que não podemos é confundir é que o carro elétrico terá uma aplicação muito mais específica e ele não vem para substituir ou pra fazer com que outros meios deixem de existir. Nós teremos os carros elétricos cada vez mais com uma participação maior, teremos os híbridos, mas também os veículos à combustão, e todas estas tecnologias continuarão existindo e funcionando. O consumidor irá utilizar uma tecnologia específica para a sua necessidade”, argumenta.

Ele explica que as montadoras acompanham esta evolução com o olhar atento em toda a cadeia produtiva, para atender os clientes e dar segurança aos novos usuários de veículos elétricos. Ele dá o exemplo da marca que representa e cita que esta é uma preocupação que vem antes da venda, com treinamento dos vendedores para que conheçam a nova tecnologia que exige profissionais capacitados e ferramentas específicas para a manutenção destes veículos.

O setor de reparos também vislumbra novas oportunidades, mas conforme Frederico Bastos, especialista em diagnóstico automotivo e instrumentalização eletrônica, profissionais da área precisam buscar conhecimento sobre o assunto. Segundo ele, o mecânico que hoje atua com motores à combustão terá de direcionar o conhecimento técnico para o funcionamento de baterias elétricas e componentes destes veículos. Ele aponta um cenário promissor para os profissionais que se atualizarem ou aqueles que buscam ingressar neste novo mercado, citando que atualmente se projeta até 100 carros elétricos para cada técnico habilitado.

Ele diz que o primeiro passo é estudar o assunto e buscar uma grade modular de especialização, porque há muita eletrônica embarcada e noções de programação, mas também entender que é uma nova tecnologia com uma linha de largada e ao mesmo tempo que dá um tempo para se qualificar até que venha essa demanda maior. Aponta um período de dois a três anos para que o setor de oficinas receba maior demanda, o que dá para ampliar a capacidade técnica e até cognitiva de entender a nova tecnologia.

“Para o mercado de reparação, há possibilidades de dobrar ou até triplicar o ticket médio, mas os profissionais terão de se reinventar não só na capacidade de ter noções de robótica, pneumática, até a inteligência artificial e aprender a interpretar textos’, completa.

 

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Pedro Leal

Analista de mercado e mestre em jornalismo (universidades de Swansea, País de Gales, e Aarhus, Dinamarca).