Lula tem feito governo retrógrado, diz Financial Times

Foto: Ricardo Stuckert/PR

Por: Pedro Leal

27/07/2023 - 13:07 - Atualizada em: 27/07/2023 - 14:25

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) estaria trazendo uma sensação decididamente “retrô” ao governo, segundo reportagem publicada pelo jornal britânico “Financial Times” nesta quarta-feira (27) e reproduzida no Brasil pelo “Valor”.

O FT destaca como exemplos disto uma estratégia setorial baseada em subsídios e em impulsionar a indústria e uma política externa que reafirma a posição do Brasil de nenhum alinhamento a bloco internacional.

“Muitas das políticas que distinguiram o governo trouxeram ecos de uma era passada, segundo críticos que defendem uma abordagem mais moderna”, destacou o FT.

Uma das críticas é às tentativas do governo de impulsionar a indústria, um setor que vem perdendo força desde 1985.

Em vez de atacar as raízes do declínio industrial como os baixos níveis de educação, a logística cara e a burocracia pesada, Brasília concentra esforços na distribuição de benefícios, segundo o texto.

O jornal cita o subsídio de R$ 650 para o setor automotivo e a proposta de direcionar US$ 20 bilhões pelos próximos quatro anos para fortalecer a atividade industrial, com foco no apoio à “inclusão socioeconômica e na promoção de bons empregos e salários”. A mentalidade, segundo a reportagem, é típica dos anos 1970, quando a indústria tinha um papel relevante na economia – e não no cenário vigente, centrado em serviços e tecnologia.

A publicação frisa que muitos dos que estavam ao lado de Lula, enquanto ativista sindical nos anos 1970 e 1980, ainda têm um papel influente. É o caso de Aloizio Mercadante, um dos fundadores do PT e nomeado presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A instituição é uma das líderes da iniciativa de “neoindustriazação” do governo Lula.

Outro foco da “mentalidade retrô” do governo está na política externa, disse Bruno Carazza, professor da Fundação Dom Cabral (FDC), ao FT. Isto é mais evidente, segundo ele, com a perspectiva de Guerra Fria de Lula a respeito da invasão da Ucrânia pela Rússia.

“Enquanto enfatiza o status não alinhado do Brasil, Lula diz que a Ucrânia tem tanta responsabilidade quanto a Rússia pelo conflito e crítica o líder ucraniano Volodymyr Zelenski por querer a guerra”, destaca Carazza.

O texto do Financial Times afirma que uma “notável exceção” à agenda retrô de Lula é o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Um dos pontos fortes dele, segundo a reportagem, é a ajuda na condução da reforma tributária. “A reforma, que, segundo projeções, impulsionaria o crescimento de longo prazo até 2,4%, chega em meio a um panorama cada vez mais otimista para a economia, com as previsões de expansão do PIB tendo sido incrementadas para 2,2%”, cita a reportagem.

 

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Pedro Leal

Analista de mercado e mestre em jornalismo (universidades de Swansea, País de Gales, e Aarhus, Dinamarca).