Lidar com autismo ainda é um desafio para empresas, avalia AsQ

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Por: Pedro Leal

15/03/2024 - 15:03 - Atualizada em: 15/03/2024 - 15:38

Segundo o IBGE, 85% das pessoas autistas não conseguem colocação no mercado de trabalho. Inclusão e ações para diagnosticar e cuidar do bem-estar dos colaboradores também são desafios

Uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostrou que 85% dos profissionais diagnosticados com transtorno do espectro autista estão desempregados. No Brasil, são dois milhões de pessoas com TEA, segundo o Ministério da Saúde. É fato que já se fala mais sobre o assunto no ambiente corporativo, mas falta avançar em ações efetivas.

Esta é a avaliação que dá a psicóloga Joicy Veras, da AsQ, empresa especializada em gestão de saúde corporativa, em entrevista exclusiva para o OCP News.

Joicy Veras é responsável técnica pelo programa de saúde mental da AsQ, que ajuda empresas a promoverem ações de bem-estar por meio de rodas de conversas, dicas de saúde e capacitação de líderes.

Ela adiciona que não só o autismo, mas outras formas de neurodiversidade são desafiadoras no ambiente empresarial, não só o autismo mas TDAH, ansiedade generalisada e outras excepcionalidades, que não tem um tratamento adequado ainda no meio corporativo.

Além disso, o tema do autismo é muito encarado socialmente ainda como uma questão da infância, com pouco conhecimento sobre o autismo em adultos e pouco preparo para se lidar com o diagnóstico tardio. Muitas vezes, o tratamento é diferente quando um funcionário é diagnosticado quando já foi admitido na empresa, em comparação com a admissão de um novo funcionário no espectro autista, explica Veras.

Como está a discussão sobre pessoas com espectro autista dentro das empresas?

Faltam ações efetivas, estamos ainda na fase de começar a falar. As empresas sabem que precisam acolher, mas como não sabem como fazer isso, muitas vezes deixam a questão de lado. Temos que discutir ações de curto, médio e longo prazo. Aqui na AsQ temos entendido que precisamos falar mais do tema. Estamos discutindo sobre incluir um módulo sobre neurodiversidade na capacitação para líderes, de forma que eles possam lidar com as diferenças na organização. Ainda temos muito a aprender.

Qual o impacto do TEA na saúde das organizações?

O transtorno de espectro autista foi incluído no rol das operadoras há muito pouco tempo. O tema é novo ainda e muitos casos têm sido diagnosticados tardiamente. É preciso estudar que adaptações precisam ser feitas no curto, médio e longo prazo, caso a caso. Também é preciso preparo para as empresas entenderem as questões jurídicas de direitos e deveres, facilitar onde a empresa pode encontrar essas informações, e como lidar com o plano de saúde, pois faz pouco tempo que o autismo foi incluído dentro do rol de deficiências.

Que dicas você daria para introduzir o tema nas empresas?

Podemos criar espaços de acolhimento, incentivar as pessoas a falarem sobre o assunto, sem tabu, questionar a forma como lidamos com a questão e oferecer suporte para as lideranças também são pontos importantes. Começar a conversar sobre e principalmente aprender com quem já sabe. Entender as leis e direitos. E trazer cada vez mais o assunto para o cenário de gestão de pessoas das empresas.