Juros baixos enganam e investimentos podem dar mais lucro que parecem

Por: Pedro Leal

22/12/2017 - 05:12

A queda da taxa Selic (Sistema Especial de Liquidação e de Custódia), atualmente em 7% ao ano, pode ter diminuído a lucratividade nominal de vários planos de investimentos, baseados na taxa básica de juros, mas segundo o consultor financeiro Layon Dalcanali, da agência de jaraguaense de investimentos Patrimono, ligada à XP Investimentos, isso não significa que o cenário tenha se tornado menos lucrativo. “O que importa é o lucro real do investimento e não apenas o nominal”, explica Dalcanali, destacando a inflação baixa.

Tida como a forma mais segura de investimento, a caderneta de poupança tem seus rendimentos baseados em 70% da taxa básica de juros – e devido a isso, a redução na taxa de juros e a recuperação da economia geram a sensação de retornos menores. Outras formas de investimentos, como CDB (Certificados de Depósito Bancário)e fundos de renda fixa podem ter retornos maiores com riscos similares. “E ao longo do tempo, essa pequena diferença de lucros tem um impacto considerável”, ressalta Dalcanali.

De acordo com o consultor, muitos investidores não levam em conta a inflação ao calcular seus rendimentos, ressaltando que há uma desvalorização do dinheiro quando a inflação está em alta. De acordo com ele, ano passado, sob uma taxa de juros em 14% e uma inflação que beirava 11%, um plano de investimentos que rendesse 100% da Selic tinha lucros reais de 3%. “Este ano, temos 7% de juros e 2,83% de inflação. O mesmo plano tem 4% de lucro real. O rendimento pode parecer menor, mas em termos de valorização é maior.”

Com a Selic baixa, os investimentos mais seguros – como poupança, fundos de renda fixa e CDBs pré-fixados, alguns dos quais são tão seguros quanto à poupança, com mais rentabilidade – se tornam menos lucrativos em termos nominais, mas não se deve descartar o impacto de pequenos ganhos ao longo do tempo, ressalta Dalcanali.

Para lucrar acima da taxa de juros, no entanto, os riscos aumentam com a queda da taxa. Investimentos mais ousados, como Dólar e ações exigem cuidados. “O dólar deve dar uma oscilada e baixar um pouco, o que deve oferecer oportunidades para compra e com as flutuações no mercado, podem aparecer oportunidades na bolsa, mas estas opções têm seus riscos”, destaca. Segundo o consultor, é importante pensar nos riscos e na possibilidade do investimento não vingar, não só nos lucros em potencial

Cenário de juros baixos é sustentável, avalia consultor

A baixa taxa de juros mantida pelo Banco Central não é causa de preocupação, segundo Dalcanali, que vê recuperação na economia. “Ao contrário do que tivemos no governo Dilma, com uma taxa de juros baixa mantida artificialmente que resultou em uma explosão inflacionária, hoje temos uma inflação sob controle e a taxa deve se manter baixa até 2019”, avalia. Conforme o consultor, a economia se encontra em recuperação e isso garante a sustentabilidade da taxa.

Ele frisa que a taxa de juros é essencialmente “o custo do dinheiro”, e que as variações na taxa tem impactos em todo o mercado financeiro. Se por um lado os rendimentos de certas formas de investimento caem junto com a Selic, a baixa taxa de juros oferece oportunidades mais lucrativas para os negócios e atraem investidores estrangeiros.

Mas ainda há fatores de instabilidade

Mas existem fatores a serem levados em consideração. Devido às eleições e à reforma da Previdência, que deve ser votada em fevereiro, 2018 promete ser um ano turbulento em certos aspectos. Segundo Dalcanali, a reforma é essencial, mas não resolve o problema, apenas tapa o buraco de forma provisória. O efeito da reforma nas perspectivas de investimento no país levou o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, a uma teleconferência com as agências de avaliação de Risco nesta quinta-feira (21) para pedir que as avaliações esperem até a votação da reforma.

O impeachment de Dilma Rouseff no ano passado diminuiu o Risco-País – indicador que avalia a possibilidade de mudanças negativas no ambiente de negócios de um país – mas os sucessivos adiamentos da reforma da Previdência ameaçam reverter o indicador. “Seria importante votar a reforma no começo do ano, antes das eleições, até pelo risco de outro governo a retirar de pauta caso não seja votada”, explica, destacando que, como está, os custos da Previdência dobram a cada quatro anos, “E o país não tem como dobrar a cada quatro anos”, ressalta.

Na terça-feira (19), o Risco-país era de 234 pontos-base, com base no indicador EMBI+ . O indicador mostra a diferença entre a taxa de retorno dos títulos de dívida emitidos pelo país e a daqueles oferecidos pelo governo americano, o que se reflete no risco de não pagamento destas dívidas. Quanto maior o indicador, maior o risco assumido ao se investir no país- o que afasta o interesse estrangeiro. Em fevereiro do ano passado, no auge da crise, o indicador chegou a marcar 569 pontos-base. Antes disso, a última vez que o risco havia alcançados as cinco centenas foi em 2008.

Começar a formar reservas é essencial

Para quem deseja começar seu plano de investimentos, adquirir segurança financeira ou quer mudar seu perfil financeiro, Dalcanali tem dois conselhos fundamentais: “Comece a formar reservas para poder investir e invista em conhecimento financeiro”. O controle de gastos e a avaliação de suas prioridades financeiras são cruciais para a formação dessas reservas, afirma o consultor.

O importante em um primeiro momento é começar e, com a geração dessa reserva e do hábito de poupar, acumular um capital para investir se torna mais fácil, explica Dalcanali. É preciso também cortar gastos desnecessários e dívidas – segundo Dalcanali, juros ao mês com cartões de crédito e cheque especial chegam a superar os rendimentos anuais de investimentos. “Às vezes compensa mais quitar uma dívida de uma vez só do que pagar parte dela e guardar o resto”, ressalta.

Para o investidor principiante, compensa procurar cooperativas de crédito para fazer seus investimentos. Embora tenham mais risco do que os bancos, os valores necessários são menores. “É importante buscar o investimento mais rentável para o seu perfil”, destaca Dalcanali, lembrando que sempre é útil procurar a ajuda de especialistas para avaliar seus investimentos.

Bitcoin: altíssimo risco exige cuidados

Quanto às moedas digitais, especialmente a Bitcoin, que teve imensa valorização após sua estréia no mercado financeiro no começo do mês, Dalcanali ressalta que elas são um investimento de altíssimo risco especulativo.

Como não há regulamentação deste mercado no país, não há comercialização regular destas moedas no país e as agências ligadas à XP não negociam Bitcoins ou similares – embora haja demanda e curiosidade por parte de investidores.

Essas moedas tiveram uma valorização sem precedentes  ao longo do ano. Negociada pela internet a US$ 1.000 no começo do ano, a Bitcoin entrou no mercado financeiro na segunda-feira passada (11) à US$ 18 mil, acumulando mais de 1700% de crescimento. O Ether, ligado ao sistema Ethereum, teve crescimento ainda maior no ano: atualmente negociada a cerca de US$ 480, a moeda teve crescimento de 5.865% entre dezembro passado e segunda-feira da semana passada (11).

Justamente por conta disso, há o risco de uma bolha financeira, pois elas estão sendo compradas primariamente como ativos financeiros e não por seu valor em si – e isso sujeita o valor a manipulações do mercado, já que o único “lastro” é a oferta e a procura. “Isso já aconteceu muitas vezes antes na história, começando pela bolha das tulipas no século XVII”, relembra Dalcanali. Na ocasião, as flores se tornaram símbolo de status na Holanda e subiram de valor vertiginosamente, chegando a 2000% de valorização em um mês, antes de despencarem em 1637.

Por conta desse risco, ele frisa a importância de investir uma parcela muito pequena de seu patrimônio, para não prejudicar sua saúde financeira. Nos EUA, investidores têm hipotecado suas casas para comprar moedas, muitas das quais sem uso no mercado. Ao mesmo tempo, ele ressalta que as moedas alternativas estão aí para ficar e que há de vir algum tipo de regulamentação sobre as mesmas.

Patrimono: uma história de sucesso

Fundada em 2008, a Patrimono conta hoje com mais de 2000 clientes, a Patrimono atingiu em 2017 a marca de R$ 1 bilhão em investimentos financeiros. Uma agência autônoma de investimentos ligada à XP Investimentos, a empresa jaraguaense é um dos maiores escritórios de investimentos do país, com um ano extremamente positivo onde mais do que dobrou seu portfólio: Em 2016, eram R$ 489 milhões sob assessoria da empresa; cinco anos atrás, em 2012, eram apenas R$ 32 milhões.

“Uma coisa é certa, com todas essas mudanças é cada vez mais importante investirmos em nosso conhecimento financeiro, e é isso que a Patrimono tem feito em seus quase 10 anos de atuação”, diz Dalcanali. Em 2017, a empresa foi eleita a melhor assessoria de investimentos ligada à XP. Dalcanali frisa que é sempre importante buscar a ajuda de especialistas para planejar seus investimentos.

Para pequenos investidores, com valores entre R$ 50 mil e 300 mil, a agência oferece atendimento digital com acompanhamento 24 horas pelo site ou pelo aplicativo da empresa. Investidores maiores contam com assessoria exclusiva para seus objetivos financeiros. “Não temos como dar o mesmo tempo e atendimento personalizado para o pequeno investidor, mas isso não significa que não possamos atender suas necessidades financeiras”, explica. Além dos serviços com investimentos, a Patrimono conta também com serviços de seguros, câmbio, gestão de recursos e investimentos internacionais.

Este ano, a empresa abriu seu  quinto escritório,em Curitiba. Além deste e da matriz em Jaraguá, a Patrimono conta com escritórios em Blumenau, Florianópolis e Itajaí.

INDICADORES E PREVISÃO DO MERCADO:
IPCA

2017 – 2,83%

2018 – 4%

2019 – 4,25%

CRESCIMENTO DO PIB

2017 – 1%

2018 – 2,64%

2019 – 2,75%

Câmbio Dólar

2017 – 3,30

2018 – 3,30

2019 – 3,40

SELIC

2017 – 7%

2018 – 7%

2019 – 8%