Na década de 1960, Jaraguá do Sul começou a mudar o seu perfil de município agrícola para se transformar em um dos polos industriais mais importantes de Santa Catarina. Segundo dados do censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia Estatística), até 1970 havia mais pessoas residindo na área rural do que na urbana. Na década de 1980 essa proporção se inverteu e, no final dos anos 1990, 77% da população estava na cidade e apenas 22% no interior. Atualmente, o município é sede de grandes empresas nacionais e multinacionais, mas a atividade agrícola ainda resiste. De acordo com o secretário municipal de Desenvolvimento Rural e Abastecimento, Alceu Moretti, a prefeitura possui o cadastro de 1.725 famílias de agricultores.
“O perfil da nossa agricultura é basicamente a agricultura familiar, com alguns médios agricultores que produzem o arroz e a banana. O plantio do arroz está mais concentrado nas regiões de Santa Luzia e Nereu Ramos. Já as plantações de banana estão localizadas em maior quantidade no Rio Cerro, Garibaldi e Rio da Luz”, informa Moretti, completando que a Secretaria Municipal de Agricultura oferece subsídio aos produtores com relação às horas/máquina, apoio técnico agronômico e veterinário, melhorias no acesso às propriedades para escoamento da produção e também a busca de calcário em parceria com o governo do Estado. A prefeitura tem ainda profissionais que fiscalizam e acompanham as agroindústrias que produzem alimentos embutidos.
Alceu Moretti destaca que grande parte dos produtos utilizados na merenda das escolas e creches da rede municipal de Jaraguá do Sul vem da agricultura familiar aqui do município, como por exemplo, as hortaliças, peixe, banana e aipim. “Os produtores de hortaliças são vários e muito importantes para o fornecimento de seus produtos para a merenda escolar. Além disso, atendem cooperativas e alguns mercados”, informa o secretário.
O gosto em trabalhar com a terra
Vanderlei Walter Henrique Lenz junto com sua esposa Sandra Denise cultivam cerca de quatro toneladas de hortaliças e legumes por mês na propriedade localizada no Rio Cerro II. Eles plantam alface, pepino, berinjela, abobrinha e aipim, que são comercializados em sua maioria por meio da Cooperativa de Produção Agropecuária de Jaraguá do Sul (Copajas), da qual Vanderlei é vice-presidente. Parte da produção é vendida para dois atacadistas e uma fábrica de conservas. O aipim, com e sem casca, também é comercializado diretamente para o consumidor final.
Para dar conta do serviço, o casal trabalha das 6h da manhã até a noite, sete dias por semana, principalmente agora que é época de colheita do pepino. Antes de iniciar na atividade agrícola, Sandra trabalhava como secretária e Vanderlei atuava na área de informática, como programador. Ele diz que sempre gostou da agricultura e da sensação de liberdade em meio à natureza. Entre as dificuldades enfrentadas na profissão atualmente, cita a falta de linhas de crédito adequadas, de assistência técnica específica e de mão de obra.
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Vanderlei e Sandra cultivam cerca de quatro toneladas de hortaliças e legumes por mês no Rio Cerro II | Foto: Fábio Junkes
Ofício passado de pai para filho
O agricultor Alceu Olska trabalha no cultivo da banana, ao lado dos pais Afonso e Ana Maria, e da esposa Bianca, além de contar com a ajuda de alguns funcionários. A agricultura é um ofício que vem de família. Ele nasceu e trabalha no Garibaldi, em uma propriedade herdada do avô.
Alceu lembra que ainda criança já ajudava o pai nos horários em que não estava na escola. “Começamos bem de baixo, foram anos de muita dificuldade. Meu pai trabalhava só com boi e carroça, depois passou para uma picape Aero Willys e um trator. Fomos evoluindo e hoje temos uma frota de cinco tratores e caminhão. A pulverização dos bananais era um trabalho sofrido, feito com uma bomba que a gente carregava nas costas, mas hoje fazemos isso usando drones. Atualmente, somos o maior produtor de banana de Jaraguá do Sul. A produção é vendida para Florianópolis e para os estados do Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro”, conta Alceu, que é pai de dois meninos – um de seis anos e outro de dois meses. “Se Deus quiser, meus filhos vão seguir o nosso caminho também”.
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Bianca, esposa de Alceu, com um dos filhos do casal | Foto: Arquivo pessoal
Arroz, pupunha e palmeira real
Max Koehler trabalhou como agricultor até os 24 anos, depois atuou por duas décadas como funcionário do ramo metalúrgico. Após se aposentar na indústria, voltou para a agricultura e hoje se dedica à produção arroz, palmeira real e pupunha na região de Santa Luzia e Vila Chartres.
Em suas terras, são colhidas anualmente sete mil sacas de arroz, com 50 quilos cada, além de duas mil unidades de palmeira real e pupunha. O arroz é vendido para a Cooperativa Juriti, de Massaranduba, e os outros produtos são comercializados junto a fábricas de conserva da região. Ele aponta como principais dificuldades do setor “o alto custo dos insumos e o baixo preço do produto na hora de vender”.
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Max Koehler se aposentou na indústria e voltou para a agricultura| Foto: Fábio Junkes
Trabalho em família
Rafael Glatz trabalha junto com os pais Alindo e Lorena e o irmão Alison, com pecuária e avicultura na propriedade da família, em Rio da Luz. A produção de frangos é uma parceria com a empresa Seara, que fornece os pintinhos e a ração. Já o gado é vendido para abatedouros da região. “A agricultura sempre esteve presente em nossas vidas, sempre com o intuito de produzir para comercialização”, diz.
Segundo ele, a maior dificuldade enfrentada na atividade hoje em dia é a insegurança financeira. “Não temos nenhuma garantia de retorno, então se houver qualquer perda no processo produtivo o prejuízo é direto. A gente perde tanto o tempo quanto os insumos investidos, porque trabalhamos em uma indústria a céu aberto, que está diretamente ligada à questão climática, a qual não temos como regular”, observa.
O produtor destaca o incentivo recebido da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Rural e Abastecimento de Jaraguá do Sul. “Temos assistência técnica veterinária, inseminação, serviço de máquinas para atividades mecanizadas e outros. Não é gratuito, porém temos um bom desconto que nos auxilia bastante”, afirma.
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Rafael com os pais Alindo e Lorena e o irmão Alison, na propriedade da família, em Rio da Luz | Foto: Fábio Junkes