Jaraguá do Sul foi palco na noite da terça-feira, dia 28, de um dos debates da programação nacional Circuito Urbano 2025, iniciativa do ONU-Habitat Brasil, que reúne reflexões sobre o futuro das cidades. Promovido localmente pelo Instituto Cocidades, o painel “Clima em ruínas, territórios em ação” trouxe ao vivo, via Youtube, um olhar para as mudanças climáticas a partir de quem vive, resiste e recria seus territórios em meio às adversidades.
A conversa conectou virtualmente duas situações extremas do país: a seca histórica do Amazonas e as enchentes devastadoras ocorridas no Rio Grande do Sul, mostrando que a crise climática é também uma crise social e territorial. Mediado por Rodrigo Willemann, diretor-presidente do Instituto Cocidades, o encontro reuniu os pontos de vista da pesquisadora amazônida Sharlene Melanie, doutora em Design e fotógrafa ativista, e do urbanista gaúcho Leonardo Brawl Márquez, coordenador do coletivo de inovação social e urbana TransLAB.URB, de Porto Alegre.
Sharlene apresentou ao público um retrato sensível das comunidades ribeirinhas e indígenas da Amazônia, destacando como os modos de vida tradicionais se reinventam frente à escassez de recursos e à degradação ambiental. “O rio, que sempre foi fonte de alimento e vida, virou lama. E as pessoas seguem resistindo, recriando formas de cuidado baseadas nos saberes ancestrais”, afirmou. Em sua fala, ela reforçou sobre o papel das mulheres amazônidas na criação de soluções comunitárias, indo desde a bioeconomia ao turismo de base local, e alertou para a urgência de dar protagonismo às vozes da floresta nas decisões sobre o clima.
Já Leonardo apresentou algumas das experiências do TransLAB.URB, coletivo de urbanistas que atua em processos colaborativos e redes cidadãs no enfrentamento a diferentes tipologias de desafios urbanos. Em Porto Alegre, relatou como a comunidade da Ilha do Pavão, fortemente atingida pelas enchentes de 2024, foi capaz de organizar mutirões, produzir dados e desenvolver ações de recuperação baseadas na inteligência coletiva. “A solução não vem de fora. O papel dos técnicos é mediar, não impor. As comunidades sabem onde está o problema e, muitas vezes, também a resposta”, explicou.
Ambos convidados, durante o debate, refletiram especialmente sobre a necessidade de se ampliar o diálogo entre territórios vulneráveis e o poder público na construção de soluções. Para Sharlene, é preciso “ouvir mais antes de agir”, frisando que as políticas nasçam a partir das realidades locais. Leonardo complementou, lembrando que a inovação urbana passa por redes humanizadas e não apenas pela tecnologia. “Recriar o tecido social é tão importante quanto reconstruir infraestruturas”, destacou.
Segundo a arquiteta e urbanista Laryssa Tarachucky, diretora de programas e metodologias do Instituto Cocidades, o evento representou para Jaraguá do Sul “uma oportunidade de escuta e aprendizado mútuo”. Segundo ela, o encontro evidenciou a importância de se conectar inovação, participação social e sustentabilidade, convidando o público a reconhecer os territórios como protagonistas da ação climática.
Sobre o Circuito Urbano
O Circuito Urbano é uma iniciativa do ONU-Habitat no Brasil que ocorre a cada dois anos durante o mês de outubro, mês dedicado à reflexão sobre o futuro das cidades e à promoção de ambientes urbanos mais inclusivos, sustentáveis e resilientes. A iniciativa promove visibilidade e apoio institucional a eventos organizados por diferentes atores, como governos, empresas, universidades e organizações da sociedade civil, em todo o país. Em 2025, a 7ª edição veio com o tema “Enfrentando desafios urbanos: caminhos para cidades justas e sustentáveis”, alinhado à COP30.