Jaraguá do Sul completa seis meses de combate à Covid-19 com foco na saúde e no bem-estar econômico

Foto Fábio Junkes/OCP News

Por: Natália Trentini

12/09/2020 - 05:09

Jaraguá do Sul mantém os menores índices de proliferação do coronavírus e a menor taxa de mortalidade entre os municípios de Santa Catarina com mais de 100 mil habitantes – são 2.820 casos e 37 óbitos causados pela Covid-19 até esta sexta-feira (11).

Em outras cidades da mesma dimensão a situação é diferente: Tubarão passa dos 5 mil casos e Itajaí registra 154 mortes.

Em meio ao impacto na vida de tantas pessoas, o município atravessa a pandemia há 6 meses. As ações integradas entre poder público e privado, acredita a presidente do Comitê Extraordinário Covid-19, Emanuela Wolff, justificam os indicadores, ao lado da boa estrutura na atenção básica.

“Quando você conversa com a indústria, com o comércio, e você consegue passar um protocolo só, você tem um controle maior. É lá onde as pessoas trabalham, onde saem todo dia de casa”, explica “Porque não adiantava só os serviços públicos se fecharem, nós tínhamos que manter a economia aberta, mas fazer com que reduzisse a circulação do vírus”.

A estratégia de manter os atendimentos de suspeitos diretamente nos 27 postos de saúde espalhados pela cidade, avalia Emanuela, ajudou a fazer essa contenção na circulação. Ao invés de ter pessoas com sintomas andando pela cidade para um hospital de campanha ou central única de consultas, os deslocamentos foram locais.

Com as unidades na linha de frente de atendimento, outro trunfo foi os atendimentos por telefone. O que só foi possível porque o município já estudava protocolos de telemedicina para o SUS (Sistema Único de Saúde) – que foi aprovada pelo Congresso durante a pandemia.

Médicos dos grupos de risco e especialistas de setores que foram paralisados durante a pandemia foram destinados a nessa nova forma de atendimento, que monitorou milhares de pacientes ao longo dos últimos meses.

“Cuidamos do início de quem tem sintomas. E isso é tratamento precoce. Tratamento precoce não é tomar remédio antes de ficar doente, tratamento precoce é cuidar da pessoa quando ela tem os primeiros sintomas para que ela não chegue a uma internação, não chegue à UTI”, comenta a presidente do Comitê.

Segundo Emanuela, nos municípios em que o número de óbitos vem sendo mais elevado, os pacientes demoram a ter o primeiro atendimento, logo no início da doença. E sem o devido acompanhamento, os sintomas evoluem rapidamente. A pessoa logo está em estrado grave e precisando de um atendimento que nem sempre está disponível.

O secretário de Saúde, Alceu Moretti, reforça o quanto a estrutura de saúde do município foi fundamental nesse momento, justamente por organizar esse suporte inicial e também ter capacidade de atender os casos mais extremos.

Isso desde a parte física, com postos, unidades de pronto atendimento e dois hospitais equipados, até a parte médica, com profissionais altamente especializados.

 

Acompanhe a evolução da pandemia de Covid-19 em Jaraguá do Sul aqui

 

“Poucos os municípios do Brasil tem a estrutura de saúde pública que o município de Jaraguá do Sul tem”, reforça.

Essa capacidade física e de pessoal garantiu que ao longo da pandemia, melhorias pudessem ser feitas para sistematizar ainda mais o enfrentamento a Covid-19, como é o caso da recente abertura da Unidade de Apoio ao Pronto-Socorro (UAPS).

Localizada ao lado do Hospital São José, esse será um local para receber a demanda dos pacientes suspeitos de coronavírus, somando mais um ponto de acolhimento junto ao Pronto Atendimento Médico e Ambulatorial (Pama) e o teleatendimento.

A unidade vai funcionar todos os dias das 7h às 19h. Dois médicos farão o atendimento, com o auxílio de um enfermeiro, e a estimativa é que a capacidade de atendimento seja de 8 a 10 pacientes por hora.

Priorização do combate e conscientização

O trabalho para entender a pandemia que chegava ao Vale do Itapocu quatro meses após o novo coronavírus ser diagnosticado pela primeira vez em Wuhan, na China, a mais de 18,3 mil quilômetros de distância.

Os esforços acabaram sendo somados através de um Comitê único incluindo segurança pública, judiciário, hospitais, instituições de ensino, entre outros, com a coordenação da administração municipal orientada por especialistas.

Desde então, esse grupo se reúne diariamente pela manhã para avaliar o quadro e tomar decisões úndicas e coordenadas.

Representando o setor econômico, o presidente da Acijs (Associação Empresarial e Jaraguá do Sul), Luis Hufenüssler Leigue, reforça que essa dinâmica de avaliação diária deu agilidade às ações e evitou gargalos no sistema de saúde.

“Se não fomos perfeitos, de outro lado vemos que o município não passou por maiores apertos e deu à situação a atenção que o assunto sempre mereceu na resposta para uma crise que em outras regiões atingiu uma dimensão maior”, avalia.

Restrições com equilíbrio

O Comitê Gestor se concentrou em criar protocolos que fossem possíveis de ser seguidos por um longo período, uma vez que a população irá conviver com a Covid-19 até a massificação da vacina.

As ações tentavam equilibrar fatores complexos: ora restringir sem prejudicar atividades que geram emprego e renda, ora liberar atividades sem aumentar a proliferação do vírus.

Nesse meio campo, foi preciso trabalhar dentro das possibilidades. A presidente da CDL (Câmara de Dirigentes Logistas), Talita Beber, ressalta a importância do apoio às compras no comércio local e também a liberação de crédito pelo Juros Zero, feita pela Prefeitura – o pequeno empreendedor pôde financiar de R$ 3 mil a R$ 5 mil, sendo que os juros das operações quitadas em dia serão assumidos pela Prefeitura.

Presidente da CDL ressalta medidas que contribuíram para apoio financeiro. Foto: Divulgação

“Ressalto todos os treinamentos que oferecemos aos nossos associados para que eles introduzissem em seus negócios a utilização de multicanais, o projeto Jaraguá Entrega, que deu suporte para os associados no quesito de vender via delivery, o apoio às vendas através de campanhas em datas comemorativas e todo o suporte em opções de microcrédito”, pontua.

Para o presidente da Acijs, considerar os impactos da pandemia no setor econômico foi importante. Mesmo assim, foram fechadas 1.400 vagas de emprego até julho, segundo dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados).

“Ainda estamos vendo o impacto da crise na empregabilidade e no número de postos de trabalho, mas podemos ter um aumento no trabalho remoto, em atividades home-office, que agora ganham mais força com esta nova realidade do pós-pandemia”, acredita Leigue.

Foto Divulgação

Se a redução de postos de trabalho impactou de um lado, por outro, houve um número expressivo de abertura de empresas. De janeiro a agosto, 1.626 negócios foram formalizados em Jaraguá do Sul – quase o mesmo número que em 2019, um ano sem pandemia em que foram abertas 1.654 empresas no mesmo período.

“Jaraguá do Sul e a nossa região tem esta vertente de empreendedorismo, de gente batalhadora. Então vai ser normal vermos um movimento de abertura de empresas porque muitas pessoas precisarão refazer seis negócios, de buscarem a inovação na medida em que surgem novas oportunidades e muitos que perderam seus empregos podem buscar alternativas para não ficarem parados”, avalia o presidente da Acijs.

Presidente da Acijs acredita no potencial de reinvenção das empresas locais. Foto: César Castro/Divulgação

Conforme avaliação do poder público, os indícios de recuperação vistos na abertura de empresas pode ser relacionado com a facilidade para formalização, vinda de programas de desburocratização. Hoje é processo é praticamente todo online.

Olhar para recuperação sem descuidar

O cenário de pandemia é imprevisível e a conscientização segue importante – pela avaliação do Estado estamos em na macrorregião Norte, considerada de risco pela situação dos demais municípios, como Joinville.

Mas o cenário de controle das infecções visto nesse momento é favorável para que os negócios sigam em funcionamento e setores que estão parados consigam voltar gradativamente, com medidas de segurança bem definidas.

“O importante agora é ter um olhar sistêmico do mercado e das oportunidades que ele traz após a pandemia. É claro que não dá para mitigar que há empreendedores que sofreram duros golpes, mas é preciso olhar para a frente”, enfatiza Leigue.

Para o presidente da Acijs, todo o cuidado tomado até agora deve ser mantido, assim como a atenção dada ao assunto. Ele acredita que é momento para as entidades organizadas motivarem a busca por novos caminhos, soluções e reposicionamentos.

“Na Acijs, temos buscado olhar para as nossas estruturas de serviços e soluções para os associados, com ferramentas que ajudem a impulsionar os negócios, que contribuam para a melhoria da gestão”, destaca.

Setores como o dos núcleos empresariais e outros canais que ajudem a enxergar novos caminhos e na abertura de outras portas para o fortalecimento destes segmentos devem ganhar mais ênfase, segundo o presidente.

Para os lojistas, Talita ressalta que será preciso manter o contato virtual, algo que já vinha crescendo nos últimos anos, além de ações institucionais para potencializar a economia.

“Mais do que nunca, está trabalhando com diferentes meios, como WhatsApp Business, agendamentos e lives para vender produtos, e introduzindo no negócio modalidades como delivery, drive thru, takeaway, por vezes com e-commerce, entre outras frentes”, comenta.

Empregos

1.405 postos de trabalho com carteira assinada foram perdidos em 2020. Jaraguá do Sul registrou um saldo positivo de abertura de 41 postos de trabalho formais no mês de julho.

O saldo positivo foi puxado pela indústria de transformação – o setor registrou um saldo positivo de 166 empregos, com altas nos setores têxtil, com 75 postos, e de maquinário, com 70.

A construção civil também teve alta, com saldo positivo de 34 postos.

Novas empresas

Foram abertas 1.626 empresas de janeiro a agosto de 2020, contra 1.113 que foram fechadas: um saldo de 513. No passado 1.654 abriram as portas e 1.115 fecharam nesse mesmo período: um saldo de 539.

Segundo informações da Prefeitura, os piores meses na abertura de negócios foram março e abril, bem no começo da pandemia.

Em maio veio sinal de recuperação. Junho, julho e agosto superaram os números do ano passado.

 

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