Inovação na agricultura depende da engenhosidade de produtores da região

Projetos de inovação na produção e manejo agrícola estão mais alinhados a criatividade do que à tecnologias | Foto Eduardo Montecino/OCP News

Por: Pedro Leal

21/07/2018 - 05:07

Como todas as formas de produção, a inovação é parte integral da agricultura. Ao longo de seus quase 12 mil anos, a produção agrícola passou por várias inovações – de cruzamentos selecionados e rotação de colheitas até maquinário e os polêmicos transgênicos.

E a agricultura continua passando por inovações, das grandes à pequenas mudanças implementadas. A frente destas inovações estão tanto grandes produtores quanto pequenos agricultores e agências estatais.

Na região do Vale do Itapocu, projetos de inovação na produção e manejo agrícola estão mais alinhados a criatividade do que à tecnologias com viés futuristas.

São peças de equipamento, estudos para aumentar a produtividade, até métodos de manuseio e reaproveitamento de biomassa de banana – projeto mantido por uma cooperativa em Corupá.

Para exemplificar algumas dessas inovações, projetos na rizicultura e na bananicultura – pequenas amostras da engenhosidade e da inovação na produção – revelam a algumas mudanças no dia a dia da produção rural.

Rodão-Faca inspirado em outros equipamentos

Algumas inovações são de ordem material – caso este daquilo que o rizicultor Mauro Hornburg chama de “rodão-faca”. A peça, um rodado especial para o preparo do terreno, é usada no lugar da rotativa no trator, e foi inspirado em equipamentos que Hornburg viu na internet. “Eu estava procurando maneiras de preparar o terreno com maior antecedência”, relembra.

Uma dessas ideias foi o chamado “rolo faca”, peça puxada pelo trator e usada para remover ervas daninhas, palhadas e restos da colheita anterior no preparo do terreno.

No entanto, segundo Hornburg, a peça encontrava problemas em lidar com o terreno – e a rotativa usada para a rizicultura não funcionava bem no solo mais seco.

“O que fizemos foi montar uma peça similar ao rolo faca, só que posta na frente do trator. O investimento acabou sendo menor do que com a rotativa normal”, explica. A maior vantagem foi com a antecipação do preparo do terreno. “Como podemos trabalhar no terreno antes, isso nos deixa mais tempo para o plantio, o que alivia o trabalho e aumenta a produtividade”, conta.

O equipamento começou a ser utilizado em 2016, com testes. Segundo Hornburg, ainda há pouco uso deste tipo de peça pelos rizicultores. “Ainda não temos muita gente usando, essas coisas começam aos poucos, mas o investimento é pequeno e o uso é mais fácil do que a peça puxada pelo trator”, conta.

Renovação dos bananais é simples e traz resultados

Nem todas as inovações na agricultura envolvem tecnologias novas ou equipamentos: algumas vezes, bastam algumas mudanças na maneira como as coisas são feitas para trazer resultados visíveis na produção. Um exemplo é o programa de renovação dos bananais mantido pela Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri).

O programa visa recuperar a produtividade através do remanejo do bananal e do solo, com uso de plantas de cobertura do solo, espaçamento devido das plantas e diversificação da safra, como explica a engenheira agrônoma Mônica Segatto, responsável pelo projeto no escritório da Epagri em Corupá.

“Não é uma inovação muito vistosa, mas é algo que surgiu como resultado de pesquisas e testes para ver o número ideal de plantas por hectare, as plantas adequadas para cobertura verde e as medidas ideais para renovar o solo”, explica.

Entre as medidas, estão o alinhamento das plantas para melhor rendimento, a troca de bananeiras antigas e menos produtivas por mudas novas, a redução do uso de herbicidas e o uso de “adubação verde”, cobrindo o terreno com vegetação rasteira para fortalecer o solo, aumentar a permeabilidade e reciclar nutrientes.

Resultado já pode ser visto

O jovem bananicultor Jackson Oesterreich, 20 anos, tem implementado a renovação há dois anos, e tem se aproximado da colheita dos primeiros cachos após o processo. Segundo o rapaz, os resultados já podem ser vistos na bananeira, mas ainda falta a colheita para saber o impacto em peso.

Ele implementou o programa como parte do projeto de conclusão de curso junto à Epagri, visando reforçar a produtividade dos campos da família. “São bananais antigos, tem uns 30, 40 anos, então já precisava de um trabalho”, conta.

A diferença entre as plantações tratadas e as antigas é perceptível pelo alinhamento das plantas: enquanto os bananais já renovados estão alinhados, os mais antigos e que ainda precisam de trabalho são mais dispersos e assimétricos.

O trabalho permitiu recuperar o vigor dos bananais e facilitou a sucessão familiar. “Minha mãe é agricultora e queria se  aposentar,  o projeto foi uma maneira minha de me manter no cultivo e melhorar a produção”, explica Jackson.

Segundo ele, o método não aumentou o trabalho. “É quase a mesma coisa, só precisa roçar um pouco a vegetação rasteira para que ela não suba nas bananeiras, mas fora isso não é trabalho a mais e traz frutos”, conta.

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