Iniciativas para transformar Jaraguá do Sul em polo turístico da cerveja ganham força

Foto Eduardo Montecino/OCP News

Por: Pedro Leal

11/10/2018 - 05:10

A Associação Empresarial de Jaraguá do Sul (Acijs) e representantes do setor cervejeiro deram nesta segunda-feira (8) o primeiro passo para a formação do núcleo das cervejarias de Jaraguá do Sul, durante a plenária semanal da entidade.

Participaram do encontro, além de fornecedores, representantes das cervejarias Stannis, Königs, Roth North, Maestro e Karsten.

Conforme o vice-presidente da Acijs, Odair Freitas, a iniciativa visa integrar estes empreendedores ao trabalho que a entidade já realiza no sentido de fomentar a economia regional.

“Queremos entender as necessidades, dificuldades e saber como as estratégias que a Acijs desenvolve pode proporcionar uma melhora na geração de negócios para as empresas da região, utilizando o associativismo para ajudar no crescimento desta atividade que vem conquistando espaço na economia brasileira”, diz.

Além de fabricantes de cerveja, a reunião buscava sensibilizar empresas envolvidas no segmento cervejeiro, como distribuidores de materiais e equipamentos, lojas de máquinas, entre outras.

Segundo um dos sócios da Cervejaria Stannis, Denis Torizani, por ora o núcleo deve ser composto por 12 pessoas, entre representantes de cervejarias, fornecedores e pessoas que trabalham com tecnologia para o setor.

Stannis lançou recentemente cervejas enlatadas | Foto Divulgação/Stannis

“Na próxima reunião devemos definir as lideranças do núcleo e como vamos coordenar nossas ações em conjunto para lidar com os desafios do setor”, explica.

O setor cervejeiro artesanal em Jaraguá do Sul está em forte expansão: são cinco cervejarias consolidadas, com outras duas em estágio de formação ainda por abrir. Com isso, a cultura da cerveja tem crescido na cidade.

“Hoje temos uma cidade que está tendo novos entrantes com uma grande aceitação do público entendido. E a cidade está começando a entrar no mapa cervejeiro do país, por conta disso temos que nos organizar”, diz.

Segundo Gustavo Ariel Nicolodelli, da Cervejaria Roth North, apesar da população reduzida – cerca de 170 mil, segundo o IBGE – Jaraguá do Sul tem espaço para mais cervejarias.

“Aqui a concorrência ainda é amistosa, não é uma competição desleal, estamos todos alinhados no mesmo sentido, crescendo de forma sustentável”, avalia.

Fundador da Königs, Dennis Torres, ressalta que o núcleo deve dar uma força maior para resolver problemas no setor, unindo forças para encontrar soluções e para negociar medidas.

Prefeitura elabora programa de incentivo

Diante do potencial produtivo do município, a Prefeitura também está desenvolvendo o Programa de Incentivo às Microcervejarias Artesanais, Brewpubs e Cervejeiros Artesanais. O projeto já foi apresentado a empreendedores do setor.

A intenção é efetivar ações para desburocratizar e estimular os avanços, regulamentando a produção artesanal e caseira de cerveja. A ideia foi levada ao Executivo pelo vereador Eugênio Juraszek (PP).

De acordo com o diretor de Desenvolvimento Econômico, Neivor Bussolaro, a ideia inicial é organizar os empreendimentos por capacidade de produção e armazenamento e definir locais onde será possível fabricar cerveja artesanal.

Neivor Bussolaro participa dos debates sobre criação de núcleo cervejeiro | Foto Arquivo OCP News

Atualmente, explica o diretor, toda produção é considerada e, portanto, taxada como industrial. Se a nova legislação for aprovada, por exemplo, bares no perímetro urbano poderão ter uma pequena produção de cerveja – de acordo com critérios estabelecidos.

“Estamos estudando alguns incentivos para instalar em áreas tombadas, para também dar vida a esses imóveis e incentivar o turismo, rotas cervejeiras”, comenta. A lei está em análise no setor jurídico da Prefeitura e deve ser encaminhada para a Câmara de Vereadores em novembro.

Mercado tem crescido fortemente

Segundo Loreno Minati, o diretor administrativo da AllBot equipamentos, empresa de maquinário para engarrafar cerveja, o mercado das cervejas artesanais está em crescimento exponencial, com crescimento de 60% a 70% ao ano em produção e venda.

“Temos um momento sem precedentes e um cenário muito positivo, com grande espaço a ser explorado ainda”, explica.

O empresário Gustavo Ariel Nicolodelli avalia que parte do potencial de crescimento do setor está na difusão de informação sobre as cervejas “especiais”. “Muita gente nem conhece cerveja artesanal, nunca experimentou uma, e neste público leigo há muito espaço para crescermos”, explica.

Segundo dados da Abracerva – Associação Brasileira de Cerveja Artesanal, Santa Catarina possui o equivalente a uma cervejaria para cada 89,7 mil habitantes, a segunda maior proporção no país. Em Jaraguá do Sul, essa proporção é de uma cervejaria para cada 34 mil habitantes.

Cervejas artesanais são muito apreciadas na região | Foto Eduardo Montecino/OCP News

A entidade estima crescimento de 20% a 25% em 2018. Com isto, o número de empresas, hoje cerca de 80, pode alcançar pelo menos 100. A cerveja artesanal representa algo próximo a 3% do mercado nacional de cerveja. Em termos de volume, cerca de 1% a 3% do faturamento.

Dependendo do ambiente econômico, de incentivos e desoneração fiscal, a expectativa para os próximos anos é de crescimento da ordem de 8% a 10%, avalia a Abracerva.

Minati destaca que, embora o mercado de cerveja em si não seja sazonal, várias cervejas o são, e por conta disso o setor encara altos e baixos. “Tem cervejas que são mais apropriadas para épocas mais quentes ou para dias mais frios. Outras dependem de ingredientes que são sazonais, mas o setor tem tido força mesmo com oscilações”, diz.

Com o fim do ano e as festas cervejeiras se aproximando, o setor tem encarado dias de movimentação intensa.

Cultura tem mudado

O crescimento do setor tem acompanhado a difusão da cultura cervejeira pela região, e uma das metas do novo núcleo é incentivar a disseminação desta cultura.

“As pessoas ainda não vivenciam muito essa cultura e por conta disso a cerveja mais consumida segue sendo a pilsen, mais comercial, mas a população já está demonstrando interesse por cervejas mais amargas e mais fortes”, comenta o sócio da Stannis, Denis Torizani.

Gustavo Nicolodelli destaca que o consumidor de cerveja “entendido” é mais dado a pesquisar e degustar as cervejas, hábito que tem se espalhado para a população em geral. “As pessoas tem demonstrado mais interesse pelo sabor da cerveja, perguntado, e isso demonstra a aceitação”, diz.

A cerveja artesanal vai de encontro às chamadas cervejas “comerciais”, dominadas pela pilsen – a receita tcheca domina 98% do mercado nacional de cerveja – e atende a uma demanda diferente. “O consumidor de cerveja artesanal busca mais aroma, corpo, não é tanto pelo fator alcoólico”, diz Fábio Cristiano Stein, proprietário da cervejaria Maestro.

Além do consumidor de cerveja habitual, há também quem faça cerveja em casa. “Trata-se já de um estilo de vida cervejeiro, uma cultura própria, não só um hobby”, avalia Stein.

Em seu ver, a difusão de uma cultura de consumo de cerveja também ajuda tornar o consumo mais saudável e seguro. “Essa cultura toma o lugar da velha mentalidade de beber aos montes em prol de beber melhor, degustar, apreciar o sabor, beber pelo gosto, não pelo álcool”, avalia.

O boca-à-boca tem sido um fator importante para divulgação das cervejas especiais. ” O mercado está se abrindo com um leque de opções e o público está cada vez mais interessado  em degustar novos sabores e aromas, mas muitas vezes tem contado com sugestões e indicações de amigos ao invés de escolher pelo cardápio”, comenta Minati.

Para o fundador da Königs, Denis Torres, Jaraguá do Sul tem um potencial muito grande para o turismo e a cultura de cerveja, devido as raízes que incluem a cultura germânica”, conta.

Ele acredita que a onda de cultura cervejeira não chegou no seu pico e que a cidade ainda não está no centro deste movimento. “A gente só tem a crescer, a procura pela cerveja artesanal só tem crescido, assim como a busca de informação sobre isso”, diz.

Planejamento turístico é essencial

Com o crescimento do setor, Jaraguá do Sul tem começado a marcar presença nos mapas cervejeiros do país, ainda de forma tímida – e isso tem exposto a necessidade de um planejamento turístico para o setor, de forma a atrair e manter turistas interessados na cultura da Cerveja.

“Jaraguá do Sul precisa entrar na rota do turismo da cerveja. As pessoas passam por aqui mas não ficam na cidade, vão para Joinville, Blumenau ou Pomerode e Jaraguá vira só uma parada na rota”, explica Nicolodelli.

Este aspecto é outro em que o núcleo pretende atuar com força. “Parte da meta do grupo é pensar em iniciativas próprias e em conjunto com outros setores para atrair turismo para a cidade, pensando sempre de forma cooperativa”, explica Torizani.

Uma das ideias é trabalhar em cooperação com o núcleo de hospitalidade, de forma a atrair consumidores para o setor cervejeiro. Outra ideia, mencionada por Stein, é a de um ciclo turístico da cerveja em Jaraguá do Sul, ao estilo do que já é feito em outras cidades.

Segundo Torres, Jaraguá precisa se colocar como uma “marca” de cerveja. “O turista acaba passando por aqui só por meia hora, uma hora, as vezes vai para o parque Malwee, e isso poderia ser melhor explorado. Se não por uma política pública para este turismo, pela iniciativa privada”, nota.

Outra coisa que o setor julga ser necessário é uma política de incentivos para as micro e pequenas cervejarias. “Nós pagamos o mesmo imposto que uma Ambev, mas não tem como comparar nossas operações. Aqui em Jaraguá temos um bom subsídio empresarial para abrir a empresa aqui e trabalhar com insumos locais, mas seria bom pensar em um incentivo fiscal”, avalia Nicolodelli.

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