Indústrias do mundo todo têm estabelecido metas que visam zerar a emissão de carbono. Para acelerar a descarbonização do setor em Santa Catarina, a Federação das Indústrias criou o Hub de Descarbonização Fiesc, iniciativa inédita que visa mobilizar os setores produtivos, governo, universidades e centros de pesquisa. O programa será apresentado nesta quarta-feira, dia 3 de abril, durante o Radar Reinvenção, encontro realizado na sede da Federação, que vai abordar fundamentos e tendências da neoindustrialização.
Para o presidente da Fiesc, Mario Cezar de Aguiar, o assunto precisa estar no centro da agenda da indústria e do poder público. “Descarbonizar a indústria significa reduzir as emissões globais de gases de efeito estufa, contribuindo para mitigar as mudanças climáticas. É a transição para uma economia mais sustentável e queremos liderar esse processo”, destaca. “Ao mesmo tempo, a produção sustentável é cada vez mais fator essencial de competitividade no mercado global”, completa.
Empresas que investem em descarbonização muitas vezes encontram oportunidades de inovação, como o desenvolvimento de novas tecnologias e processos mais eficientes. Também é estratégia para cumprir normas impostas por regulamentações cada vez mais rígidas relacionadas às emissões de carbono.
O Brasil está entre os países que assumiram no Acordo de Paris o compromisso de alcançar a neutralidade de emissões de carbono até 2050.
Temáticas de atuação
O hub organizado pela Fiesc atua na formação de pessoas, em pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias para o uso em escala e novos modelos sociais. O foco é descarbonizar arranjos produtivos.
O primeiro programa já vem sendo conduzido na cadeia da proteína animal, explica o diretor regional do SENAI, Fabrizio Machado Pereira. O desafio é ter 100% dos dejetos suínos sendo aproveitados para a geração de biogás em Santa Catarina em dez anos. “É uma agenda permanente e novos integrantes vão sendo inseridos nos grupos de acordo com a adesão ao tema. Além disso, teremos frentes de trabalho em outras cadeias como carvão, cerâmica e plástico, têxtil, entre outros, permitindo que a descarbonização alcance diversos segmentos”, detalha.
Outro papel do hub é direcionar ações que visam mensurar as emissões de gases de efeito estufa, mapear energias renováveis para nortear investimentos no estado e aferir o potencial de geração de créditos de carbono. Santa Catarina tem grande potencial para atuar neste mercado por conta das possibilidades de evitar emissões de gases de efeito estufa (GEE), seja substituindo combustíveis de base fóssil por renovável, ou removendo dióxido de carbono (CO2) da atmosfera por meio das áreas de florestas naturais ou plantadas.
A serviço da indústria
Entre as soluções que o Senai já oferece está o inventário de gases de efeito estufa (GEE) que vai mensurar as emissões da indústria catarinense. O levantamento é conduzido por pesquisadores do Instituto SENAI de Tecnologia Ambiental e empresas de todo o porte e setor podem participar gratuitamente se inscrevendo até o dia 10 de abril.
Outra iniciativa é a elaboração do Atlas de Energias Sustentáveis de Santa Catarina. O trabalho visa mapear o potencial de geração energia de baixo carbono no estado, como por exemplo o hidrogênio, a partir de fontes como biomassa, resíduos, carvão, entre outras. A partir do Atlas, será possível prospectar novos investimentos no setor, bem como posicionar o estado no cenário nacional. Este trabalho será desenvolvido em parceria com o Instituto SENAI de Inovação em Energias Renováveis do Rio Grande do Norte, em linha com o conceito de powershoring da neoindustrialização – que se refere à instalação de indústrias em locais com alto potencial de energias renováveis, como eólica, solar e biomassa.
A rede de institutos do Senai também vem atuando para que as empresas acelerem sua adaptação a transportes e fontes de energia menos poluentes. Além da conversão de motores a combustão para eletricidade, o Instituto SENAI de Tecnologia em Mobilidade Elétrica e Energias Renováveis, com atuação em todo o país, auxilia na gestão mais eficiente de energia, uso de fontes renováveis e na inserção da indústria no mercado livre de energia. O Instituto SENAI de Inovação em Sistemas Embarcados também participa dos projetos que envolvem a descarbonização.
Há oportunidades para descarbonizar a indústria no consumo de energia, gerenciamento de frota, transporte e distribuição, transporte de colaboradores, tratamento de resíduos, geração de calor, sistemas de refrigeração, viagens a serviço ou então compensar suas emissões residuais, por meio da aquisição de créditos de carbono, por exemplo.
Mercado de carbono no Brasil
Em dezembro do ano passado, a Câmara dos Deputados aprovou projeto (PL 2148/15) que regulamenta o mercado de carbono no Brasil. O objetivo do texto é criar incentivos para frear emissões de gases do efeito estufa e reduzir impactos das empresas sobre o clima. Outras matérias, como a exploração de energia eólica no mar (PL 11247/18) e a produção de hidrogênio verde (PL 2308/23) dependem da aprovação deste projeto para avançar.
As receitas de crédito de carbono podem gerar US$ 100 bilhões ao Brasil até 2030, de acordo com um estudo da representação brasileira da Câmara de Comércio Internacional (ICC Brasil).