Com o país passando pelo menor volume de chuvas em mais de 90 anos e os reservatórios das principais hidrelétricas nos menores níveis desde o grande apagão de 2001, o governo está sendo obrigado a acionar volumes vultuosos da energia de reserva do sistema brasileiro, fornecida basicamente por termelétricas – e as contas de luz, em consequência, ficam mais caras.
A medida é necessária para que não haja risco de apagão ou racionamento em lugar nenhum nos próximos meses. O problema é que, abastecidas a carvão, gás ou óleo diesel, as térmicas são bem mais caras do que as usinas hidrelétricas, que usam a água dos rios e chuvas de graça – e toda a diferença é cobrada do consumidor, na conta de luz.
Este ano, o nível médio dos reservatórios do sistema Sudeste e Centro-Oeste, o principal do país, está hoje em 33% de sua capacidade, de acordo com o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), que monitora o abastecimento energético do país. No mesmo período de 2020, estava em 55%; antes de 2010, chegava a maio na faixa dos 80%.
O sistema Sudeste/Centro-Oeste é onde está Furnas, em Minas Gerais, e de onde sai 70% de toda a energia hidrelétrica do país.
E a fatura chega aos bolsos do consumidor primeiro por meio da política de bandeiras tarifárias, que, nos meses mais secos do ano, aciona a bandeira vermelha sobre a conta e coloca uma tarifa extra mais alta por cada quilowatt-hora (kWh) consumido na casa. Em seguida pelos reajustes feitos anualmente no preço básico cobrado pelas distribuidoras.
Eles são definidos pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) conforme o avanço de custos ao longo do tempo. Se, em um ano, a despesa aumenta demais, a conta acaba vazando para o reajuste do ano seguinte também.
Este ano, sem as chuvas, mais termelétricas estão tendo que ser acionadas, por mais tempo do que o previsto e, ainda, tendo que pagar muito mais caro pelos combustíveis, já que, como a gasolina ou o botijão de gás, eles também subiram para as geradoras. É uma pressão de custos triplamente maior.