O ex-CEO da Americanas, Miguel Gutierrez, foi preso nesta sexta-feira (28) em Madri pela polícia espanhola. Ele foi alvo da operação Disclosure, da Polícia Federal, e tinha mandado de prisão expedido pela Justiça brasileira desde quinta-feira. Gutierrez estava sob viligância desde que seu nome passou a constar da difusão vermelha da Interpol como foragido.
As informações são do Jornal O Globo e do portal G1.
Além do ex-CEO, também é considerada foragida a ex-presidente da B2W, Anna Saicali, que viajou para Portugal no último dia 15 e está com ordem de prisão decretada. Ela não tem cidadania portuguesa e está no país com visto de trabalho, segundo fontes.
Segundo a Polícia Federal, Gutierrez havia elaborado um “engenhoso esquema societário” para blindar seu patrimônio, “sabendo que o escândalo iria explodir” após sua saída da empresa.
Segundo as investigações, o plano incluia o envio de diversas remessas de valores a offshores sediadas em paraísos fiscais.
“Os e-mails encontrados na conta institucional de Miguel Gutierrez revelam a criação de um engenhoso esquema societários, com diversas remessas de valores a offshores sediadas em paraísos fiscais”, diz a PF em inquérito.
Segundo a Polícia Federal, dias antes de Gutierrez deixar seu cargo na Americanas, ele estabeleceu um “desafio” de blindar seu patrimônio, que teria como premissa básica o “sigilo completo”.
A estruturação do plano, de acordo com a PF, tinha como finalidade “dissociar qualquer ligação formal” entre Gutierrez e seu patrimônio.
O ex-CEO da Americanas traçou 2 etapas em seu plano de blindagem. A 1ª, de longo prazo, seria a “reserva de valor” e a “sucessão”. A 2ª, de curto prazo, seria a “blindagem patrimonial”, o que a Polícia Federal trata como “ocultação de patrimônio”.
Ele teria passado, então, a transferir todos os imóveis em seu nome para empresas a ligadas a seus familiares, ficando apenas com um imóvel em seu nome, instituído como “bem de família”.
Em paralelo, ele remetia valores a empresas ligadas a ele e a seus familiares no exterior. Nesse sentido, a PF também aponta anotações do próprio executivo que indicam transferência de valores para a esposa dele.
“Outros e-mails também retratam as operações desenhadas, como por exemplo o contrato de mútuo entre as empresas Tombruan Participações Ltda (sediada no Brasil) e Tombruan Corporation Ltd. (sediada em Nassau, Bahamas) no valor de U$ 1.500.000,00 (um milhão e quinhentos mil dólares americanos)”, continua o documento da Polícia Federal.
De acordo com a PF, um assistente de investimentos de um banco na Europa passou orientações a Miguel Gutierrez, a seu filho Tomás e à sua esposa, Maria, sobre movimentações da companhia Tombruan — empresa da família citada na troca de e-mails.
As investigações apontam que o ex-CEO da Americanas e seus familiares começaram a reformular suas sociedades empresariais já em 2022, antes de o escândalo contábil vir à tona.