Em meio à pandemia, inflação está em queda

Por: OCP News Criciúma

27/05/2020 - 20:05 - Atualizada em: 27/05/2020 - 20:40

Alguns indicadores já apontam os impactos gerados à economia brasileira pela pandemia de coronavírus.

Um deles é o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Os números mostram queda nos dois últimos meses, justamente quando as restrições às atividades passaram a ser adotadas no país.

Após registrar taxa de 0,21% em janeiro, o IPCA, que mede a inflação oficial, chegou a 0,25% em fevereiro, a mais alta nos quatro primeiros meses de 2020, puxada pelos reajustes praticados no início do ano letivo.

Mesmo assim, foi o menor índice para o mês em 20 anos.

Em março, a inflação desacelerou para 0,07%, o menor resultado para o mês desde o início do Plano Real, em julho de 1994.

Puxada pela queda de 9,59% no preço dos combustíveis, o país teve deflação de 0,31% em abril, a menor variação mensal desde agosto de 1998, quando chegou a -0,51%.

Com isso, no acumulado do ano, o IPCA registrou 0,22% e, nos últimos 12 meses, ficou em 2,40%.

O comerciante Charles de Bem Feliciano reconhece que percebeu a redução no preço dos combustíveis, mas diz que essa foi a única queda notada.

“Para nós, o preço das mercadorias não diminuiu. Pelo contrário: algumas estão aumentando, principalmente por causa da falta de chuva”, declara o empresário.

Proprietário de uma mercearia no Bairro Santo Antônio, em Criciúma, ele conta que itens como leite e hortifrútis tiveram aumento significativo devido ao clima.

“Em Pernambuco, a produção de cebola foi perdida por causa do excesso de chuva e aqui em Santa Catarina faz tempo que não chove. Com isso, o quilo da cebola pode chegar a R$ 10”, cita.

Já outras mercadorias estão em falta, de acordo com Feliciano.

“Alguns produtos como utensílios plásticos e os produtos que vêm da China”, detalha.

Conforme o IBGE, a maior contribuição positiva no IPCA de abril (0,35%) veio do item Alimentação e Bebidas, que segue aumentando e acelerou em relação ao resultado do mês anterior (1,13%), com destaque para as altas da cebola (34,83%), da batata-inglesa (22,81%), do feijão-carioca (17,29%) e do leite longa vida (9,59%).

Cenário esperado

O economista e professor Thiago Fabris, coordenador do Observatório de Desenvolvimento Socioeconômico e de Inovação e coordenador adjunto do curso de Ciências Econômicas da Universidade do Extremo Sul Catarinense (Unesc), afirma que a queda nos índices de inflação já era esperada e esse é o cenário projetado para os próximos meses.

“O sistema econômico como um todo vive um período sem pressões inflacionárias, por razões relacionadas especificamente à queda da demanda. Muito embora se observe liquidez, esses recursos não estão sendo direcionados para a parte do setor produtivo. Se for observar a capacidade instalada da indústria, construção, serviços, a produção está bem abaixo”, pontua.

De acordo com o analista, na conjuntura atual, registrar deflação não é um sinal positivo para a economia.

“Era preferível estar com uma inflação controlada, dentro da meta estabelecida pelas autoridades monetárias. Não só o índice de inflação, mas outros indicadores mostram que devemos entrar em um período de recessão da economia como um todo. O ambiente de incerteza, junto com inflação baixa ou deflação, não é bom para o sistema econômico”, explica.

Volatilidade

“Estamos num período de volatilidade ainda, com incertezas do ponto de vista econômico, político e internacional, que devem impactar no cenário futuro. Pelos modelos que se apresentam, trabalhamos com queda na atividade produtiva entre 4 e 8% e aumento na taxa de desemprego, então não deve ter pressão no aumento de preços nos próximos meses”, entende o economista.

Indicadores

Fabris ressalta que é preciso estar atento a outros indicadores, para se ter uma ideia sobre os impactos da pandemia na movimentação econômica, entre eles, confiança do empresariado, nível de investimento, comportamento de consumo, desempenho do Brasil no comércio exterior, taxas de juros, câmbio e política monetária.

“Sabemos que o governo teve um aumento de gastos excessivo, necessário ao momento que estamos vivendo, mas sabemos que lá na frente ele vai ter menos poder de ação para a retomada da economia. Isso deve vir do setor privado como um todo. Mas, para que haja investimentos da iniciativa privada, é necessário que o cenário aponte tendências de alta”, pondera.

Na avaliação do consultor, alguns setores vão puxar o sistema econômico para cima.

“Principalmente pelo aumento da competitividade que estamos observando no setor exportador brasileiro, relacionados à parte de commodities. Esses setores e toda a sua cadeia produtiva devem se beneficiar na retomada da economia. Também podem contribuir a indústria e o setor de serviços”, enumera, salientando que acredita na recuperação gradativa da economia.

Atenção ao setor produtivo

“Não haverá retomada econômica sem a participação do setor produtivo, por isso, é importante que neste momento haja o apoio à classe empresarial. Os empresários não estão pedindo subvenções ao governo, mas a abertura de linhas de crédito especiais, com menos burocracia e taxas de juros menores. Assim, poderão garantir a produção, a permanência no mercado e a manutenção dos empregos, preparando-se para o momento pós-pandemia”, afirma o presidente da Associação Empresarial de Criciúma (Acic), Moacir Dagostin.


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