Um casamento que perdura por 75 anos completa suas bodas de brilhante, símbolo de uma união que, como a pedra, resiste à todas as forças. E o que dizer de empresas que demonstram a mesma persistência? Jaraguá do Sul tem suas empresas de brilhante – que duraram mais de 75 anos em atividade e que ainda continuam na ativa.
Segundo a Associação Empresarial de Jaraguá do Sul (Acijs), são nove as empresas jaraguaenses com mais de 75 anos, dentro de ramos de atividade diversos, que vão da indústria à educação e a mídia. Fora dos registros da associação, há também o centenário Curtume Arnoldo Schmitt, antes Curtume Jaraguá, o último curtume do norte do estado, fundado em 1917. A sua maneira, cada uma une tradição e modernidade para seguirem rumo ao futuro.
Três delas são centenárias: o Atlético Baependi, fundado em 1906 – com um papel de destaque na vida social jaraguense – o Colégio Evangélico Jaraguá, fundado em 1907, e o grupo Malwee, fundado em 1906, operando desde 1967 no ramo têxtil. Outra está quase fechando um século de operação: o próprio jornal O Correio do Povo, fundado em 1919.
Empresas de brilhante e seus anos de fundação
Malwee – 1906
Clube Atlético Baependi – 1906
Colégio Evangélico Jaraguá – 1907
Curtume Schmitt – 1917
O Correio do Povo – 1919
Marcatto Indústria de Acessórios – 1923
Duas Rodas – 1925
Breithaupt – 1926
Menegotti – 1940
Colégio Marista São Luís – 1940
De princípios humildes e feitos significativos, essas empresas cresceram e se transformaram junto com a cidade – e várias são mais antigas do que a própria municipalidade de Jaraguá do Sul, estabelecida apenas em 1934.
Com a exceção dos Curtumes Schmitt – marcado por uma tradição que periga cair no esquecimento – essas veneráveis anciãs sobreviveram até os dias de hoje em uma constante modernização, exaltada por seus presidentes e pela história.
Sobre suas décadas de atuação, estão construídas empresas de ponta em seus ramos de atuação, unindo a experiência dos anos com os avanços de tecnologia e gestão da modernidade.
Mantendo a tradição
Com 102 anos de operação, a Curtumes Arnoldo Schmitt é a mais antiga empresa de transformação no mesmo ramo de atividade em Jaraguá. Com seus tempos de glória no passado, hoje a empresa é tocada por tradição e “para se manter ocupado”, como explica o presidente da empresa, Guido Francisco Schmitt, 80 anos, o mais novo dentre os 18 filhos do fundador da empresa, Arnoldo Schmitt.
Fundada pelo pai, em 1917, a empresa já foi referência no trabalho com couro – e seu fundador foi o terceiro (ou segundo, como insiste o filho) presidente da Associação Empresarial de Jaraguá do Sul. A empresa foi fundada pouco depois de Arnoldo e sua esposa, Ottilia Prim Schmitt, chegarem a cidade, em 1916, em uma propriedade na antiga estrada Blumenau – hoje, rua Walter Marquardt.
Em seu auge, a empresa chegou a ter 120 funcionários. Hoje, para ajudar a tocar o serviço, Guido contrata funcionários terceirizados conforme a necessidade, muitos dos quais aposentados em busca de uma atividade. “Viramos uma firma artesanal, não trabalhamos mais como antigamente, mas estamos com saúde financeira, sem dívidas, com tudo em dia”, explica.
Entrar no velho galpão que abriga a empresa é voltar ao passado, em meio ao forte odor do couro cru, o ranger das tábuas de madeira e as velhas máquinas de curtumaria. Embora não seja mais marcado pelo movimento de outrora – a empresa conta com apenas um funcionário fixo, contratando terceirizados conforme a necessidade, dois deles no dia da visita da reportagem – os velhos cilindros, esticadoras e divisoras ainda remetem a tempos idos. Sem o movimento, partes do espaço se encontram vagas. Onde antes havia uma estufa para secar as peças, agora há um espaço vazio, usado para guardar peças já processadas.
A queda de ritmo veio acompanhando uma queda na demanda pelos artigos de couro. “Em termos de lucro, não dá para tirar muito com essa produção. Eu compro um courinho dos criadores locais, atendo os pedidos que vem, aqui é onde eu me sinto bem”, conta, destacando que os pedidos esporádicos são muitas vezes por uma ou duas peças de couro. Antigamente, a empresa atendia demandas de sapatarias, selarias e confecções. Hoje, serve para atender necessidades pontuais de artesãos e agricultores. Antes, Schmitt trabalhava só na parte administrativa da empresa. Hoje, atua em todas as partes do processo.
De acordo com o empresário, o curtume é o último em operação no Norte do estado – o avanço de materiais sintéticos e mudanças sociais transformaram o setor em parte da história. Como os filhos e os sobrinhos não tem interesse em assumir o negócio, ele teme que a tradição se perca com ele. “E eu não posso obrigar ninguém a assumir”, diz.
A propriedade já foi maior – parte dos galpões foram demolidos para abrir espaço para obras públicas – e a antiga casa do pai, Arnoldo Schmitt, é tombada. Um dos temores é que, se deixadas sem cuidados, as propriedades – tanto a casa quanto o velho curtume – sejam tomados por indigentes. A propriedade ficou sob responsabilidade da sobrinha, Beatriz Ewald, e não há informações sobre uma possível reforma.
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