Depois de pente-fino, jaraguaenses têm benefícios do INSS cancelados

Clarice tenta recuperar aposentadoria por invalidez | Foto Eduardo Montecino/OCP News

Por: Gustavo Luzzani

11/01/2019 - 09:01 - Atualizada em: 11/01/2019 - 16:26

Pelo menos 43,3 mil catarinenses perderam benefícios no pente-fino do INSS. O balanço foi divulgado pelo Ministério da Cidadania e considera as revisões analisadas do segundo semestre de 2016 até o dia 31 de dezembro de 2018.

Os casos fazem parte do Programa de Revisão de Benefícios por Incapacidade, que tem como objetivo a revisão dos beneficiários que estavam a mais de dois anos sem passar pela perícia. O Mistério da Cidadania não dispõe dados municipais, apenas estaduais e nacional.

Em Santa Catarina foram realizadas 74.148 perícias, na qual foram cancelados 26.779 auxílios-doença e cessadas 16.586 aposentadorias por invalidez.

O número de benefícios cortados por casos analisados chega a 58,8%, gerando R$ 1,2 bilhão na economia do Estado.

Ao todo, 31.300 auxílios-doença estavam previstos para passar pelo processo de revisão até o final do ano e 85% deles foram cancelados pelo pente-fino. Já na aposentadoria por invalidez, foram 53.256 casos previstos e 31% interrompidos.

Ainda faltam ser revisados 53 auxílios-doença e 706 aposentadorias por invalidez. Os benefícios que não passaram pelo pente-fino terão sua definição a partir das novas diretrizes do atual governo.

Aposentadoria por Invalidez encerrada

A moradora de Jaraguá do Sul, Clarice Vieira Alves da Luz, de 59 anos, perdeu os benefícios em 2018 e desde então recorre à Justiça para questionar o resultado da perícia.

Ela conseguiu o auxílio-doença por um problema no coração e na mão, quando ainda morava em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul. Ela ficou passou três anos com o auxílio, até que em 2008 se aposentou por invalidez.

Um ano depois, Clarissa veio morar em Jaraguá do Sul, onde residem seus cinco filhos. Logo após chegar em Santa Catarina, devido a depressão, ela caiu com as costas em cima de um pedaço de madeira e precisou passar por procedimentos cirúrgicos.

“Tive que colocar seis parafusos na coluna, tenho problemas no coração e não consigo mexer os dedos da minha mão esquerda”, relata.

Ela ganhava o básico, apenas um salário mínimo, mas era o necessário para se sustentar. Em setembro de 2017 sua aposentadoria por invalidez foi cancelada e Clarissa passou 2018 inteiro lutando para ter seu benefício de volta.

“Se não fosse a ajuda dos meus filhos eu não o que faria para me sustentar. A situação está muito complicada. Estou tirando dinheiro dos meus filhos e não quero mais isso”, enfatiza.

Jaraguaense tenta recuperar benefícios na Justiça

Em 1999, Clodite dos Santos, de 48 anos, estava voltando do trabalho quando um carro passou por cima de todo lado esquerdo do seu corpo.

Ela precisou amputar o braço, quebrou a bacia e perna em vários lugares e precisou ficar mais de um ano no hospital, parte do tempo em coma. Devido ao acidente, ela conseguiu a aposentadoria por invalidez.

De acordo com sua filha, Patricia dos Santos, 25 anos, ela andou de muleta por muitos anos, o que desgastou seus tendões da mão e Clodite teve que se adaptar a andar sem muleta. “Aparentemente a aposentadoria dela era por conta da perna e usar muleta e não da situação toda”, conta Patricia.

Em junho de 2018, Clodite foi fazer a perícia e a perita julgou que ela poderia voltar a trabalhar. “Estamos com processo na Justiça e em fevereiro tem perícia judicial”, relata Patricia.

A jaraguaense trata depressão e síndrome do pânico há mais de 10 anos e por ter ficado muito tempo em coma, sofre com problemas de concentração e memória.

“Ela realmente não tem condições de voltar a trabalhar. Somos só nós duas e com essa redução no salário eu estou tendo que me virar com extras para pagarmos as contas”, esclarece.

Números nacionais também preocupam

No Brasil, foram realizadas 1.185.069 perícias até o dia 31 de dezembro. Um número que chama atenção é o número de benefícios cancelados por não comparecimento, que chega a 74.798.

Entre os benefícios analisados, 369.637 auxílios-doença e 208.953 aposentadorias foram interrompidas.

Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento Social, em dois anos, o pente-fino do INSS suspendeu 80% dos casos de auxílio doença que passaram por revisão. Sobre aposentadorias por invalidez a proporção é menor, com cerca de 30%.

 

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