O termo “tecnofeudalismo” surge como uma crítica ao modelo econômico atual, especialmente no contexto do capitalismo digital. O conceito é usado para descrever uma estrutura socioeconômica na qual grandes corporações de tecnologia assumem um papel de domínio similar ao dos senhores feudais da Idade Média.
Esses “senhores” contemporâneos – as grandes empresas de tecnologia – concentram poder econômico e político, controlando não apenas os meios de produção, mas também os dados, a infraestrutura digital e o acesso à informação.
A ideia de tecnofeudalismo, portanto, refere-se ao caráter monopolista e centralizador dessas corporações, que acabam por substituir a lógica de livre mercado por um sistema de controle baseado na posse dos recursos digitais.
Contradições e Desafios
Uma das grandes contradições do tecnofeudalismo é que, embora o capitalismo tenha como premissa a competição e o dinamismo do mercado, o cenário digital atual mostra uma tendência à concentração de poder e recursos.
Empresas como a Amazon e a Meta, por exemplo, dominam setores essenciais da economia digital, estabelecendo um monopólio de fato em várias áreas.
Isso cria barreiras de entrada quase intransponíveis para novas empresas e limita a inovação, pois os grandes players utilizam seu poder para adquirir concorrentes, impor suas próprias regras e moldar o mercado conforme seus interesses.
Essa relação “feudal” moderna faz com que os trabalhadores estejam em uma posição de subordinação, com pouca ou nenhuma proteção social, semelhante ao que ocorria na era feudal, quando os camponeses dependiam dos senhores para o acesso à terra.
Além disso, o controle sobre os dados dos usuários, uma das maiores riquezas da economia digital, confere às empresas tecnológicas um poder sem precedentes. Esse monopólio da informação permite que as corporações manipulem comportamentos, direcionem o consumo e, até mesmo, influenciem processos políticos e sociais.
A prática de “capitalismo de vigilância”, onde os dados pessoais são utilizados para prever e influenciar as ações dos indivíduos, reforça o argumento de que estamos vivendo uma nova forma de feudalismo, agora baseado em dados e algoritmos.
Teóricos do Tecnofeudalismo
O economista francês Cédric Durand é um dos principais defensores do conceito de tecnofeudalismo. Ele argumenta que o capitalismo digital ultrapassou o estágio de simples acumulação de capital, evoluindo para uma nova fase onde o valor é extraído não pela competição, mas pelo controle monopolista de plataformas digitais.
Durand defende que essas plataformas funcionam como novos “senhores feudais”, que cobram taxas pelo uso de suas infraestruturas e mantêm um controle rígido sobre quem pode acessar e utilizar seus serviços.
Outro teórico relevante é Shoshana Zuboff, autora de “A Era do Capitalismo de Vigilância”, que explora como o uso massivo de dados e a vigilância digital se tornaram parte central do modelo de negócios de grandes empresas de tecnologia.
Embora Zuboff não utilize diretamente o termo “tecnofeudalismo”, suas análises ajudam a entender como o controle sobre a informação pode ser comparado ao poder feudal de outrora.
Por fim, Yanis Varoufakis, economista grego, também contribui para a discussão, destacando que o poder das grandes plataformas tecnológicas pode ser visto como uma forma de centralização de poder que ultrapassa a lógica de mercado, ao criar estruturas quase feudais de dependência econômica e social.
Futuro
O tecnofeudalismo levanta questões fundamentais sobre o futuro do trabalho, da economia e da democracia. O monopólio de grandes empresas de tecnologia, aliado ao controle sobre os dados e a precarização do trabalho, sugere que o modelo atual pode estar mais próximo de um feudalismo digital do que de um capitalismo liberal.
Dessa forma, os desafios impostos por essa nova dinâmica irão, sem dúvidas, moldar os próximos anos e terão profundos impactos nas relações de trabalho e na forma como a própria sociedade se relaciona.