De árvores centenárias às trepadeiras: as histórias por trás da produção de plantas ornamentais em Corupá

Por: Natália Trentini

07/11/2020 - 05:11

Não são apenas bananas e cachoeiras que fazem Corupá ser reconhecida nacionalmente. Isso porque cerca de 150 produtores se dedicam diariamente a cultivar trepadeiras, palmeiras, arbustos e uma série de plantas ornamentais.

O setor é tão vasto que inclui até a comercialização de plantas adultas que chegam a custar cinco dígitos.

Não existe um levantamento exato de quanto essa produção movimenta anualmente.

Segundo o secretário de Desenvolvimento Econômico de Corupá, Cristiano Hack, o setor se enquadra dentro da agricultura – que representa 35,4% do PIB (Produto Interno Bruto) municipal, algo em torno de R$ 190 milhões.

“É a segunda maior atividade agrícola do município. Corupá, se não for o maior, está entre os maiores produtores de plantas ornamentais de Santa Catarina”, complementa o presidente da Proplant (Associação dos Produtores de Plantas Ornamentais), Richard Lischka.

Tanto que a cada dois anos o município mobiliza a Fecaplant (Feira Catarinense de Flores e Plantas Ornamentais), reunindo produtores de todo território nacional.

Plantas de outras décadas

Ter uma extraordinária oliveira centenária no jardim de casa ou algo mais comum, como uma jabuticabeira, mas também na casa dos 100 anos.

Vender plantas que foram semeadas nas décadas de 1910 e 1920 faz parte da rotina de Carlos Felipe Schinke, 64 anos.

Seu Carlos com oliverias de 20 anos em um dos depósitos em Corupá | Foto: Natália Trentini/OCP News

A história dele com as plantas começou a bem menos tempo do que isso. Depois de atuar alguns anos como caminhoneiro, há 30 anos abriu uma praça em São Paulo comercializando plantas ornamentais de pequeno porte.

Foi nessa época que percebeu esse “furo no mercado”. “Todo mundo pedia planta adulta”, relembra.

Hoje em dia, a empresa conta com sete depósitos em Corupá onde tem plantas em várias idades e fases de vida. Alguns deles, parecem verdadeiros oásis cheios de palmeiras gigantes.

Carlos explica que a maioria das árvores são resgatadas de situações de corte, seja em larga escala no caso de empreendimentos imobiliários ou em caso de uma única planta que por algum motivo não é mais bem-vinda no quintal de casa.

É um trabalho árduo e delicado. Recentemente, conta ele, a retirada de um pé de jabuticaba exigiu dois dias de escavação manual com três trabalhadores.

Depois, ainda é feita a cura da planta no local, onde as raízes são envolvidas por substrato para o novo enraizamento. Só depois é feito o transporte – que exige guindastes e caminhões pesados.

“A satisfação é fazer isso e fazer dar certo. Aí você vê aquela planta que o fulano ia jogar fora, daqui a pouco linda e maravilhosa”, conta. “Às vezes a gente se apaixona pelas plantas e não quer vender”.

Carlos comenta que vende plantas para todo o Brasil e chegou até mesmo a exportar, mas deixou o comércio com o exterior de lado por conta da burocracia envolvida.

Palmáceas também são bastante procuradas | Foto Natalia Trentini/OCP News

O mercado de plantas adultas é voltado a atender grandes empreendimentos que buscam um resultado rápido no paisagismo e clientes com dinheiro no bolso.

“As pessoas de idade hoje, principalmente empresários, já tem avião, helicóptero, chácara, casa na praia, estão no auge, já têm tudo. Esses senhores ficam em casa e vão viver um pouco, usufruir, eles começam a inventar coisas diferentes, fazem um jardim, querem histórico das plantas, de onde vem, quantos anos tem”, revela.

Os itens mais caros atualmente nos depósitos da empresa são as oliveiras centenárias e as palmeiras phoenix canariensis – que segundo Carlos, são a moda dos momentos. Os exemplares chegam a custar R$ 60 mil.

Árvores resgatadas também são recuperadas pela empresa | Foto Natália Trentini/OCP News

Mas, também tem opções mais acessíveis, como frutíferas nativas, palmeiras menos badaladas, sombreiros, entre outros. É possível encontrar árvores por R$ 2,5 mil, R$ 5 mil.

Oliveiras na casa dos 20 anos também se tornam mais baratas. Tudo depende do tamanho e espécie.

“Às vezes têm plantas que ficam 2, 3, 5 anos [no depósito] e vem a pessoa certa para aquela planta”, comenta o produtor.

Tradição no cultivo

Não sabe ao certo como Corupá se tornou uma potência na produção de plantas ornamentais, mas a história se conecta com imigrantes que chegaram à cidade trazendo essa tradição.

É o caso de Albert Darius, chegou à pequena cidade vindo da Alemanha, durante a Segunda Guerra Mundial. Na Europa, ele tinha floricultura com o pai e trouxe algumas sementes e muito conhecimento no navio.

Área de 5 hectares abriga variedade de plantas ornamentais | Foto Natália Trentini/OCP News

Quase um século mais tarde, a terceira geração toca o negócio começado timidamente. “Ele começou a produzir algumas plantas ornamentais, mas era difícil, o mercado não absorvia”, comenta o neto e produtor, Márcio Darius, 51 anos.

Pouco a pouco o negócio familiar foi se expandindo e se adequando a realidade de cada época.

“Hoje, buscamos um segmento: a gente está mais focado na produção de trepadeiras, a deixamos de produzir palmeiras e cedros e direcionamos para atingir uma qualidade maior. Não adianta fazer um monte de coisa e nada bem feito”, comenta.

No pátio de cinco hectares os vasinhos enfileirados têm plantas de diversas fases, com podas diferenciadas para se adequar ao uso.

A estrela da produção é bougainville, a popular primavera, mas a lista segue com madressilva, glicínias, jasmim e por aí vão em torno de 50 espécies.

Primavera é uma das especialidades | Foto Natália Trentini/OCP News

As vendas são voltadas especialmente para atacado, depois floriculturas e paisagistas. “Meu forte é Rio Grande do Sul, que abrange 50% da minha produção. Também Santa Catarina, Paraná, São Paulo, tem plantas que vão para o nordeste”, comenta Márcio.

A produção varia conforme o movimento, mas vai de 100 a 150 mudas por ano.

Toda a produção é feita no local | Foto Natália Trentini/OCP News

Todo o processo acontece dentro da propriedade, desde a reprodução das mudas, até chegarem ao porte para venda. Algo muito prezado por Márcio para garantir a qualidade do produto final.

Ele avalia que o mercado de plantas ornamentais expandiu bastante nos últimos anos em Corupá, algo positivo se for trabalho com atenção.

Para o produtor, é importante a diversificação do que é oferecido para atender quem vai a Corupá em busca de plantas.

Márcio acredita que variedade é diferencial para Corupá | Foto Natália Trentini/OCP News

“É difícil alguém sair de BR-101 para chegar até aqui. Temos clientes que vem buscar de vários produtores, fazer uma carga”, comenta, defendendo essa organização entre produtores para oferecer uma cartela cada vez mais diferenciada.

“Varia muito, mas já chegamos a produzir 150 mil mudas por ano. Dependendo da demanda”, completa.

 

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