Conselho fiscal da Americanas foi alertado sobre falha contábil, aponta investigação

Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

Por: Pedro Leal

03/10/2024 - 18:10 - Atualizada em: 03/10/2024 - 18:11

Os conselhos fiscais da Americanas e da B2W (o braço digital da companhia), órgãos internos que fiscalizam as empresas, foram alertados pela auditoria KPMG sobre os problemas envolvendo o “risco sacado” e as Verbas de Publicidade Cooperadas (VPCs) – duas operações que, segundo investigações em curso da Polícia Federal (PF), estão na base da suposta fraude de R$ 25,2 bilhões da varejista.

As informações são do portal Metrópoles.

A constatação desses alertas teria sido feita pelo comitê independente de investigação, cujos trabalhos foram concluídos em junho, um ano e meio depois de o escândalo vir à tona, em janeiro de 2023.

De acordo com o comitê, os alertas da KPMG sobre os problemas contábeis foram feitos em apresentações no período de 2016 a 2019.

Duas delas estavam endereçadas ao Conselho Fiscal da Lojas Americanas S.A (Lasa, a responsável pelo comércio físico) e outras duas ao Conselho Fiscal de B2W (a operação digital).

Elas tratavam do quarto trimestre de 2016 e 2018. Nesses casos, a auditoria indicava “dificuldades significativas” referentes à “substituição” e à “retificação” de respostas a cartas enviadas por bancos sobre as operações de “risco sacado”, também conhecidas como “confirming” e “forfait”.

Outras três apresentações sobre o tema foram realizadas, quanto ao quarto trimestre de 2018, além do primeiro e segundo trimestres de 2019. Depois de 2019, a Americanas encerrou o contrato com a KPMG.

O documento do comitê destaca ainda que, em relação à apresentação destinada ao Conselho Fiscal de Americanas (Lasa, na ocasião), relativa ao primeiro trimestre de 2019, foi identificada uma troca de mensagens na qual uma funcionária da Americanas pedia a outra da KPMG que o termo “confirming” (ou seja, o “risco sacado”) fosse retirado de um item indicado como um dos “Principais Assuntos Debatidos com a Administração”.

No “risco sacado”, a dívida de um varejista (caso da Americanas) com um fornecedor (uma indústria, por exemplo) é assumida por um banco. Mediante um desconto, a instituição financeira antecipa o pagamento ao fornecedor e a varejista passa a devedor para o banco. A triangulação, em tese, é vantajosa para todas as partes.

Em nota, o conselho de Administração da Americanas afirma que “A assessoria do Conselho de Administração da Americanas informa que não houve qualquer comunicação ao Conselho de Administração sobre os apontamentos mencionados, seja pelo Conselho Fiscal seja pela auditoria, como deveria ser feito caso houvesse alguma suspeita de fraude. Todos os pareceres de auditoria e do Conselho Fiscal foram recebidos sem ressalvas.”

 

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Pedro Leal

Analista de mercado e mestre em jornalismo (universidades de Swansea, País de Gales, e Aarhus, Dinamarca).