Comércio de bairros impulsiona o crescimento econômico jaraguaense

Caminhar pelas ruas da localidade onde mora, espiando vitrines e cumprimentando aquele velho conhecido pelo caminho, até chegar à padaria da esquina, onde uma cuca fresquinha aguarda para o café da manhã. A cena, que remete muito às cidades do interior, é também comum para todos aqueles que frequentam e valorizam o comércio de bairro. Tendência no varejo, a formação destes pequenos centros de compras tem atraído o interesse de empresários e consumidores pela comodidade e o potencial de mercado.

Nos últimos anos, o aumento populacional fez com que estes centros se multiplicassem e crescessem a uma velocidade impressionante em Jaraguá do Sul – prova disso é a evolução visível do comércio de bairros como a Barra do Rio Cerro, por exemplo. E a principal vantagem competitiva destes negócios é justamente a proximidade com o consumidor, afinal, em tempos onde a mobilidade urbana se tornou um problema, a praticidade é um atrativo poderoso para o varejo.

De acordo o presidente da Câmara de Dirigente Lojistas de Jaraguá do Sul (CDL), Gabriel Seifert, os comércios de bairro são importantes ferramentas para a geração de emprego e evolução da renda em uma localidade, assim como no próprio município. “As pessoas tendem a deixar o dinheiro no próprio bairro, estimulando a vinda de novos negócios e desenvolvendo a região. Esse movimento também ajuda a organizar melhor a cidade, diminuindo problemas de mobilidade e expandindo as possibilidades de mercado. A descentralização do varejo é algo que tende a crescer”, comenta.

Segundo a coordenadora Regional Norte do Sebrae, Zenilde Balsanelli, a necessidade é o principal motivo para a expansão dos comércios de bairro – é a velha lógica da oferta e demanda. “Mas há outros fatores importantes, como os custos, por exemplo, já que o preço do aluguel costuma ser mais baixo nos bairros do que na região central.

Isso pode influenciar a decisão do empreendedor”, aponta ela. Para a especialista, hoje dois barros de Jaraguá do Sul se destacam quando o assunto é varejo: Ilha da Figueira e Jaraguá Esquerdo. “Estas localidades despontam com um ótimo comércio, com muito potencial de crescimento”, ressalta Zenilde.

Atendimento ajuda a fidelizar clientes

Outra característica que ajuda a atrair clientes para os comércios de bairro é a relação de confiança que se constrói entre os empresários e os consumidores. Por conta da convivência e da proximidade, cria-se uma relação de amizade que resulta em um atendimento diferenciado. “Muitas vezes o dono da loja conhece o cliente e o chama pelo nome, o que permite um tratamento mais personalizado. Grandes lojas de varejo não conseguem oferecer esse tratamento, que se constrói justamente com a convivência”, afirma Zenilde.

Em alguns casos este relacionamento é tão próximo que os estabelecimentos acabam oferecendo opções de pagamento diferenciadas ou acesso privilegiado a novas mercadorias, por exemplo. “Em alguns casos, o atendimento e a comodidade são tão bem vistos que pesam mais na escolha do consumidor do que o próprio preço. As pessoas gostam desse sentimento de troca e pertencimento, até porque a qualidade no atendimento é uma premissa em todo o tipo de varejo”, diz Seifert.

Esse conjunto de fatores ajuda a fidelizar o cliente e gera informações valiosas sobre os produtos que poderão atender melhor àquela região, o que, somado ao rápido giro de estoque das pequenas empresas, facilita a adaptação destes negócios ao mercado.

Bairro Ilha da Figueira tem um dos polos mais agitados da cidade e sempre com novos empreendimentos | Foto Eduardo Montecino

 

5 dicas para abrir um comércio de bairro
Confira as recomendações do Sebrae de Jaraguá do Sul que ajudarão a garantir a durabilidade e o sucesso do negócio:

1. Conheça bem as demandas da localidade. Para saber se o negócio terá aderência, o empreendedor precisa conhecer bem a região e analisar quais produtos ou serviços são uma demanda naquela localidade. Assim é possível direcionar o negócio de forma a evitar uma concorrência muito grande e conseguir atrair o interesse dos consumidores.

2. Saiba quem é o seu público. Conheça o perfil das pessoas que moram e frequentam aquele bairro e entenda como é a rotina destas pessoas – se a maioria trabalha em outra região, por exemplo, pode ser interessante investir em um horário de atendimento estendido, dependendo do negócio.

3. Escolha bem o seu ponto de venda. Diferentemente do Centro, onde a circulação de pessoas é sempre intensa, os bairros exigem mais cautela na hora de instalar o negócio. É importante visitar a localidade e observar quantas pessoas passam pela região, em quais horários o fluxo de pessoas é maior, o que motiva as pessoas a se deslocarem por ali (trabalho, escola, compras), se há vagas de estacionamento, se os outros comércios locais estão conseguindo se desenvolver, entre outros fatores.

4. Invista em atendimento customizado. Um dos maiores diferenciais do comércio de bairro é o atendimento, já que a proximidade ajuda a criar uma relação de confiança entre os empresários e os consumidores. E os moradores costumam valorizar este tipo de relação. Por isso, o atendimento tem que ser prioridade e quanto mais personalizado, melhor – isso facilita a troca de informações e ajuda o negócio a se adaptar melhor aos fregueses da região.

5. Planeje muito, mas seja flexível. Planejamento é a chave para o sucesso de qualquer negócio. Saber para onde seguir e o que será necessário para avançar dentro das especificidades daquela região é fundamental. Mas, ao mesmo tempo, o negócio precisa ser flexível para se adaptar às nuances do mercado, especialmente nos bairros que crescem em ritmo muito rápido. Por isso, o planejamento precisa ser revisto com frequência e sempre com olhar crítico.

Desenvolvimento conjunto com o bairro

Em 1990, quando a loja Jomar foi inaugurada, o bairro São Luís era predominantemente agrícola e tinha boa parte da sua extensão ocupada pelas arrozeiras. A região até então longínqua possuía poucas opções de comércio e os moradores dependiam de visitas periódicas ao centro para garantir certos produtos ou serviços. Por isso, quando a moradora Elizabeth Ferraciolli Rodrigues começou a oferecer uma linha artesanal de cama, mesa e banho de porta em porta, a ideia foi muito bem aceita pela comunidade.

Quase 27 anos depois, o pequeno negócio improvisado por Elizabeth e pelo marido, João Mário Rodrigues, é visto por muitos como um verdadeiro símbolo da evolução do bairro. Assim como a localidade, o negócio cresceu, se expandiu e se tornou parte ativa da história da região, ocupando até hoje um lugar de destaque para aqueles que acompanharam sua trajetória.
“Muitos clientes do bairro sentem como se fossem parte da família e comemoram as conquistas da loja. Temos uma cliente que compra conosco há 27 anos, desde quando a loja surgiu. Desenvolvemos uma relação de amizade com muitos destes clientes, e não só do bairro, mas de toda a região. E essa é a melhor propaganda que existe”, diz Regiane Rodrigues, filha de Elizabeth e João, responsável pela gestão da loja ao lado da irmã, Vergimare Rodrigues Simões Pires.

Loja Jomar, surgida em 1990, é hoje uma referência no bairro São Luís, onde está instalada | Foto Eduardo Montecino

 

A família Rodrigues foi uma das primeiras a morar no São Luís – na época, apenas três casas ocupavam o local. Por isso, muitos dos clientes antigos viram Regiane e Vergimare crescer. “Antes mesmo de alcançar o balcão nós já estávamos aqui dentro”, conta Regiane. Mas toda essa amizade com os moradores nunca limitou a visão da família, que fez questão de investir em qualidade e formação para fazer o negócio crescer.

“Muitos fatores fazem um negócio de bairro ter sucesso. É preciso sempre estar atualizado, acompanhar as tendências, investir em profissionalização da equipe, ir atrás de bons produtos e novidade e, claro, oferecer um bom preço.

É tudo isso unido à relação de amizade com os clientes que gera um grande diferencial”, ressalta a empresária. Especializada em artigos de vestuário e calçados, a loja emprega hoje 28 funcionários em uma estrutura de mais de mil metros quadrados. “Aqui é o coração da loja, nunca sairíamos daqui”, finaliza Regiane.

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