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“Brasil tem muito a perder com retaliação”, alerta economista sobre tarifa de Trump

Foto: Arquivo/Portonave

Por: Pedro Leal

16/07/2025 - 14:07

“Essa decisão não é apenas comercial, mas também política — e afeta diretamente setores estratégicos da indústria brasileira.” A avaliação é do economista João Victor da Silva, analista de mercado da Orsitec, sobre o anúncio do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de aplicar uma tarifa de 50% sobre todos os produtos importados do Brasil a partir de 1º de agosto.

A medida foi comunicada por Trump em carta endereçada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, publicada em sua rede Truth Social. O republicano atribuiu a decisão à suposta desigualdade nas relações comerciais entre os dois países e também a posicionamentos recentes do governo brasileiro, incluindo a atuação do Supremo Tribunal Federal em relação ao ex-presidente Jair Bolsonaro.

Para João Victor, a motivação da nova tarifa vai além das alegações econômicas. “A questão dos processos judiciais enfrentados pelo ex-presidente Bolsonaro pesa nesse contexto. Há uma relação próxima entre as famílias Bolsonaro e Trump, além de conexões entre membros da administração norte-americana e aliados do ex-presidente brasileiro”, analisa.

Outro fator relevante, segundo o economista, é a presença de Marco Rubio — de origem cubana — como secretário de Estado. “Pela primeira vez em muitos anos, os Estados Unidos estão mais atentos à América Latina. Esse reposicionamento geopolítico também influenciou a decisão de Trump.”

O analista destaca ainda que a política externa do governo brasileiro tem gerado desconforto em Washington. “O presidente Lula insiste no discurso da desdolarização da economia global, algo que, na prática, não vejo como viável no mundo atual. Mas o simples fato de repetir isso com frequência já gera atritos com os Estados Unidos.”

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A aproximação do Brasil com países como Irã, Rússia e China no âmbito do BRICS também contribui para o cenário de tensão. “O avanço do BRICS e o papel de protagonismo que o Brasil tem assumido incomodam os americanos. Receber essa cúpula e defender abertamente o multilateralismo são movimentos vistos com preocupação em Washington”, aponta.

Do ponto de vista técnico, João Victor reconhece que há desequilíbrios na relação comercial. “A carta de Trump fala em déficit, mas os dados não confirmam isso. O que existe, de fato, é uma diferença nas tarifas aplicadas: o Brasil impõe mais de 11% sobre produtos dos EUA, enquanto os americanos praticavam algo em torno de 2% antes dessa nova tarifa. Além disso, o Brasil adota barreiras não tarifárias, como subsídios, cotas de importação e medidas antidumping, que tornam o comércio desigual.”

O impacto sobre a economia brasileira, segundo o economista, será mais sentido na indústria. “O perfil das exportações brasileiras para os Estados Unidos é composto majoritariamente por bens com alto valor agregado — como aviões da Embraer, motores, aço, suco de laranja e café moído. Esses produtos não são facilmente redirecionados para outros mercados, ao contrário das commodities.”

Por isso, a medida representa mais um golpe sobre um setor já fragilizado. “A indústria brasileira vem sofrendo há décadas. Essa tarifa afeta justamente as exportações que mais geram valor para a economia do país.”

João Victor também chama atenção para a reação do governo brasileiro, que sinalizou a intenção de adotar uma resposta na mesma intensidade. “Enquanto outros países atingidos por medidas tarifárias de Trump, como Canadá, União Europeia, China e Índia, optam por negociações diplomáticas, o Brasil fala em retaliação imediata. Isso me parece precipitado e arriscado.”

A dependência do Brasil em relação ao mercado americano torna o cenário ainda mais delicado. “Ter uma política de reciprocidade não faz sentido quando o Brasil tem muito mais a perder. O ideal seria buscar canais diplomáticos e negociar uma solução que preserve o acesso ao maior mercado consumidor do mundo.”

O alerta final do analista vai além das tarifas: “O Brasil tem um mercado de capitais aberto. Caso os Estados Unidos decidam escalar essa tensão para o setor financeiro, os efeitos seriam muito mais graves do que a tarifa em si. Por isso, é fundamental que a condução do governo brasileiro seja serena e estratégica”, finaliza João Victor da Silva.

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Pedro Leal

Analista de mercado e mestre em jornalismo (universidades de Swansea, País de Gales, e Aarhus, Dinamarca).