Bitcoin cai quase 40% em meio a temores

Por: Pedro Leal

22/12/2017 - 12:12 - Atualizada em: 22/12/2017 - 18:01

A moeda digital Bitcoin, que estreou no mercado financeiro na segunda-feira da semana passada (11) em meio a especulações e supervalorização, entrou em queda vertiginosa nesta sexta-feira. Nas primeiras horas da manhã, a moeda havia perdido 36% do valor quando comparada ao seu auge, no começo da semana. A queda foi revertida parcialmente durante a manhã antes de voltar à queda por volta das 11 horas. Até o meio-dia, a perda de valor ficava em 22.04% com relação a abertura e 38% com relação ao pico. De US$ 19.694 no domingo, a moeda caiu para US$ 12.143 ao meio dia. 20 minutos depois, cotação era de US$ 10.947.

A desvalorização ocorreu em meio a uma onda de investidores liquidando suas reservas, com leve queda desde a última terça-feira (19) antes de cair intensamente na manhã de sexta-feira. Como a moeda não tem lastro e seu valor é puramente especulativo e sujeito a manipulações por volume – o que pode ter ocorrido ao longo da semana, culminando nesta sexta feira.

Bitcoin não foi a única criptomoeda a ter queda nesta sexta-feira.  Até as 11h45 de ontem, Ethereum caiu 21,54%. O Bitcoincash, 31,47%. IOTA, a moeda com a maior queda, 33.65%. O setor como um todo demonstrou queda ao longo da semana, com fuga de investidores em meio ao temor de uma quebra do mercado.

A moeda teve uma das maiores valorizações nominais e proporcionais do mercado financeiro. Abrindo o ano em US$ 906, a cotação culminou domingo (17) em US$ 19.694 – uma valorização de2034%. E desde novembro, a subida acelerou: de US$ 5.857 no dia 12 do mês passado, chegou ao pico no último domingo, dia 16, antes de entrar em queda acentuada na manhã de sexta. Ao longo do ano, a moeda chegou a ter valorização de Por volta das 9h40 da manhã, a perda de valor de mercado da moeda somava US$ 121 bilhões; ao meio dia, já era de US$ 140 bilhões. Ao todo, o mercado de Bitcoins somava US$ 203 bi ao meio-dia desta sexta-feira. Às 12:24, se reduzia a 183 bilhões.

Temor de bolha e frenesi especulativo

A intensa valorização da moeda gerou temores de uma bolha especulativa, levantados por especialistas como os ganhadores do Nobel de Economia Jean Tirolle e Joseph Stigliz e. Sem lastro ou mecanismos para congelar as transações, o mercado estaria sujeito a pressões por volume. Há quem veja a queda como a confirmação destes temores ou do fracasso da moeda. A revista americana Business Insider afirmou que a moeda “despencara”; Na rede americana CBC, o banqueiro Chris Walen foi mais agressivo: descreveu a moeda como “um golpe” e “uma fraude”, um “esquema de pirâmide com decorações tecnológicas”.

Taro Aso, ministro das finanças do Japão – um dos poucos países a regulamentar a moeda – afirmou terça-feira que a moeda não era “uma moeda crível”, em resposta a uma declaração do Ministro das Finanças da França, Bruno Le Maire, pedindo para por Bitcoin na pauta do G-20.

Ao mesmo tempo, houve um grande aumento na procura por investidores que nem sempre estão preparados, como destaca o consultor financeiro Rafael Lehmkuhl, da Sherpa Wealth Guides, que oferece cursos sobre Bitcoin. “O pessoal ouve que subiu 1000% e já quer sair comprando loucamente. Temos casos de pessoas que pegaram empréstimos quando estava na casa dos US$ 18 mil e agora não sabem o que fazer”, lembra. Segundo Lehmkuhl, é importante tomar cuidado para não cair em pirâmides e não se comprometer financeiramente.

Nos EUA, há registros de pessoas hipotecando suas casas para comprar Bitcoins. No facebook um dos maiores grupos nacionais sobre o tema, o Bitcoin Brasil, teve mais de 10 mil novos membros nos últimos 30 dias.

Crise tem múltiplos fatores

Na terça-feira, o site americano Coinbase, de trading de criptomoedas, anunciou que começaria a comercializar bitcoins em dólares. Na quarta-feira, o CEO da Coinbase, Brian Armstrong, afirmou estar investigando se funcionários da empresa não estariam usando informações privilegiadas para lucrar na abertura do mercado.

Problemas internos aumentaram a crise, segundo a revista Fortune.  Alguns investidores menores perderam interesse ao encontrar problemas em usar a moeda, devido a lentidão da rede – que pode levar até duas horas para processar uma transação – e as taxas elevadas cobradas. Segundo um usuário do site reddit, uma conta de bar de US$ 20 resultou em US$ 30 em tarifas operacionais.  Na loja virtual de jogos Steam, a taxa de US$ 0,20 para compras em Bitcoin em 2016 subiu para US$ 20 este ano, antes da empresa parar de aceitar pagamentos neste dia 8, por conta da flutuação excessiva.

Até as 11 da manhã (horário de Brasília), cerca de US$ 16 bilhões em Bitcoins mudaram de mãos, em meio a US$ 42 bilhões de transações financeiras. Com 16,765 milhões de moedas em circulação e a geração de novas moedas cada vez mais lenta, a liquidez do mercado se tornou um fator de preocupação, dificultando a entrada de novos atores.

Especialistas dividem opiniões

A oscilação de valor desde terça-feira, agravada nesta sexta-feira, tem dividido opiniões por parte de analistas. Para Luiz Felipe Eichstadt de Bem, consultor financeiro da Sherpa e instrutor de investimentos em moedas digitais, o momento é uma correção natural dos valores de mercado. “Nada sobe para sempre, o valor dessas moedas é muito subjetivo”, explica, ressaltando que seu valor é puramente especulativo. Em seu ver a queda está longe de ser motivo para pânico. “Quem especula no curto prazo deve prestar atenção nos gráficos e nas notícias. Já quem investe no longo prazo deve aproveitar as oportunidades para entrada a melhores preços”, diz.

Na quinta-feira (20), Roger Ver, CEO do site Bitcoin.com (que presta assessoria e dá informações para investimentos na moeda), defendeu que investidores cogitem abandonar a Bitcoin em troca do Bitcoincash – um desmembramento da rede – em debate na rede americana CNBC, caso a moeda continue em queda. Ver ressaltou a lentidão e a falta de segurança da rede da Bitcoin – trazendo o problema de sobrecarga à tona. Segundo Ver, a Bitcoin pode estar diante de um êxodo em massa de usuários.  Emil Odenburg, cofundador da empresa, afirmou publicamente que a Bitcoin não tem capacidade para agir como moeda comercial.

Na quarta-feira (19), outro investidor, Dan Morehead, havia destacado para a mesma rede que a moeda pode cair até metade do valor até o final do ano. No entanto, Morehead nega que o mercado esteja quebrando: para o fundador da Pantera Capital, a cotação das moedas digitais, ou “ouro digital”, como definiu, deve dobrar até o fim de 2018.

Esta não é a primeira crise de desvalorização da criptomoeda. Em 2011, o valor dela no mercado digital chegou a US$ 29,60 em junho, antes de entrar em queda até chegar a US$ 2,05 em novembro – uma queda de 93%.

 

 

Valor da Bitcoin – últimos 7 dias – Coindesk, 12h10 (horário de Brasília)

16/12 – US$ 17.697

17/12 – US$ 19.694

18/12 – US$ 19.169

19/12 – US$ 18.828

20/12 – US$ 17.809

21/12 – US$ 17.177

22/12 – US$  12.131

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Pedro Leal

Analista de mercado e mestre em jornalismo (universidades de Swansea, País de Gales, e Aarhus, Dinamarca).