Baixa produção eleva preço dos alimentos

 

Quando o empresário Raulino Wessler, de 64 anos, foi ao supermercado para comprar leite, não imaginava que voltaria para casa de mãos vazias. Apesar de estar ciente da alta nos preços dos grãos e do leite, Wessler ficou surpreso ao ver que precisaria desembolsar R$ 46 para levar uma caixa com 12 litros para casa, o que representa R$ 3,80 por litro. “Vou pesquisar mais antes de comprar”, afirmou, espantado.

A situação vivida pelo empresário está se tornando uma cena cada vez mais comum nos corredores dos supermercados. Além da inflação, com prévia de 4,62% para o primeiro semestre, os consumidores estão tendo que lidar com os efeitos da queda da produção agrícola e pecuária no Estado e no País.

Entre janeiro e junho deste ano, o preço do leite registrou aumento de 18,52%. Só em junho, a alta foi de 5,35% para o produto. Outros itens registraram aumento ainda mais expressivo, com é o caso do feijão carioca, que teve alta de 16,38% em junho e de 54,09% no acumulado do ano. Os dados são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

“Em alguns mercados da região, o preço do leite chega a R$ 4. É muito alto! Enquanto o preço dos produtos sobem, nosso salário continua igual. É uma situação difícil”, indigna-se Wessler, enquanto observa os preços no supermercado que sempre frequenta, no Jaraguá Esquerdo.

Em outro estabelecimento, no bairro Nereu Ramos, o feijão já começa a ficar escasso nas prateleiras. Segundo o proprietário, Álvaro João Bertoli Neto, há três semanas o supermercado não consegue comprar feijão carioca e já começa a enfrentar espera na compra do arroz. “Como a safra caiu, a demanda está alta. Estamos tendo que reduzir a margem e em alguns casos vender quase a preço de custo para não perder o cliente, mas chega uma hora que não tem como não repassar”, afirma o empresário.

Uma pesquisa rápida por supermercados de Jaraguá do Sul mostra que em alguns lugares o preço do quilo do feijão carioca já chega a R$ 10, enquanto o do feijão preto fica na faixa dos R$ 5. O leite longa vida varia entre R$ 3,50 e R$ 4, enquanto o arroz chega a R$ 3,50 o quilo. “Somos obrigados a ir vivendo só com o essencial, deixando muitas vezes de comprar alguns alimentos para poder ficar dentro do orçamento. O aumento está muito grande”, lamenta a jaraguaense Angelica Enke, de 22 anos, enquanto percorria com o carrinho os corredores do supermercado de Nereu Ramos.

Queda na safra impulsionou alta dos preços, diz Faesc

            De acordo com o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Santa Catarina (Faesc), José Zeferino Pedrozo, o principal fator para o aumento nos preços dos produtos é a queda na produção agrícola brasileira. Segundo Pedrozo, as chuvas em excesso e o frio antecipado prejudicaram vários cultivos, em especial o de feijão, milho, soja, arroz e leite. “Há mais de 30 dias vínhamos chamando atenção para o fato de que os custos dos produtores estavam aumentando e não estavam sendo efetivamente repassados. Quando este repasse aconteceu, é claro que foi um susto”, comenta o presidente.

No caso do feijão, o aumento acentuado foi reflexo da queda na primeira safra do Paraná, um dos maiores produtores, já que as chuvas afetaram 300 mil das 600 mil toneladas produzidas. Além disso, uma praga chamada mancha branca, na região do Cerrado, afetou drasticamente a produção. Esta semana, o Governo Federal anunciou a suspensão das taxas de importação do produto, em uma tentativa de baixar o preço. No Estado, a Epagri estimou uma queda de 10,13% na produção do feijão este ano, em relação à última safra.

Conforme Pedrozo, outro fator que colabora para a alta nos preços é o aumento das exportações. “Com a alta do dólar, o mercado externo está mais atrativo do que o interno, e produtores de soja e milho acabam preferindo exportar. Como as exportações foram altas, acabou gerando uma baixa nos estoques por aqui”, explica o presidente da Faesc. Segundo dados da Epagri, em maio deste ano a saca de soja estava sendo comercializada a R$ 75, valor 31% superior ao do ano passado, quando era comercializada a R$ 57,17.

“Infelizmente, a curto prazo não vemos muita melhora. A abertura das importações devem ajudar, como no caso do feijão, mas em outros casos é preciso ter uma política de controle mais eficiente, comprando de onde há excesso de produção e distribuindo onde falta. No caso do leite, a melhora depende efetivamente das condições climáticas, já que o milho e a soja estão caros para servirem de trato para o gado e o frio tem destruído os pastos”, analisa Pedrozo.