“Armagedon dos Chips”: entenda a falta de processadores no mercado

Com a matrícula on-line o processo torna-se mais ágil, evitando filas nas escolas | Foto Divulgação

Por: Pedro Leal

26/05/2021 - 10:05 - Atualizada em: 26/05/2021 - 10:19

Os avanços da transformação digital acontecem de forma cada vez mais acelerada. E a pandemia acentuou este fenômeno. Mas talvez essa transformação esteja caminhando rápido demais. O mundo passa nesse momento por um dilema inédito: ao mesmo tempo em que a demanda de tecnologia vem aumentando, a capacidade de produção de chips de processamento está diminuindo.

Para poder entender esse fenômeno, a Associação Brasileira de Internet Industrial (ABII) convidou dois especialistas que integram as empresas associadas para tirar algumas dúvidas. Os especialistas são: Cássio Barbosa, fundador da Hedro, e Francesco Guidotto, Account Manager da Macnica DHW.

A pandemia do Coronavírus exigiu que governos do mundo todo tomassem medidas protetivas para a população e isso demandou estratégias de isolamento como o lockdown e as quarentenas. Isso fez com que os profissionais migrassem para o modelo home office, o que naturalmente demandou um suporte tecnológico diferenciado para que as residências pudessem operar como escritórios personalizados.

O aumento da demanda foi tão grande que acabou fazendo com que as fabricantes se sobrecarregassem na produção de chips de processamento. A China, maior fabricante, teve um crescimento de 18% na demanda de 2020.

Questionados sobre a crise estar sendo unicamente motivada pela pandemia, os entrevistados foram bastante cuidadosos em suas respostas.

Para Cássio: “Essa escassez pode ser uma combinação de vários fatores. Primeiro aconteceu uma redução na produção de componentes pela China no começo de 2020 por causa da pandemia. Então as empresas que geralmente consomem esses chips mudaram um pouco seus perfis de consumo. Alguns setores, que foram impactados negativamente pela pandemia, reduziram suas demandas e outros aumentaram”.

E conclui sua análise, mencionando o home office: “Isso causou uma mudança nos planos de produção dos chips para atender os setores que tiveram aumentos nas demandas. Os computadores e smartphones tiveram seus mercados aquecidos por causa da necessidade de viabilizar trabalhos remotos. Os eletrodomésticos também, pois passando mais tempo em casa, as pessoas passaram a desejar mais conforto e conveniência”.

Francesco concorda e acrescenta que as próprias fabricantes também passaram a operar com demanda reduzida: “A produção das fábricas foram suspensas ou reduzidas com menos trabalhadores para permitir o distanciamento seguro entre as pessoas. Os estoques de matéria-prima foram se exaurindo ao longo do ano sem reposição. Setores como produtos de informática e equipamentos de Telecom tiveram um aumento de demanda para permitir o home office e EAD. O setor de alimentação teve crescimento em função do auxílio emergencial”.

Os especialistas explicam que existem vários fatores motivando essa crise, mas que, sem dúvidas, a pandemia é a de maior impacto entre eles. Fica bastante nítido que a indústria se encontrou em um ponto de grande contraste. Algumas tecnologias tiveram redução drástica na produção, enquanto tecnologias destinadas ao home office cresceram fortemente na produção.

Mas qual será o impacto dessa crise na indústria 4.0? Os projetos que envolvem esta tecnologia ficarão mais caros e inviáveis? Será que o Brasil corre algum risco nesse sentido? Cássio e Francesco concordam que as tecnologias dependentes de componentes muito específicos, como é o caso da IIoT, podem sim contar com um impacto direto no preço final e acrescentam algumas observações.

 

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Pedro Leal

Analista de mercado e mestre em jornalismo (universidades de Swansea, País de Gales, e Aarhus, Dinamarca).