Nos últimos dois anos, o aumento do custo do cacau em todo o mundo chegou a cerca de 180% e está tendo reflexos no valor dos produtos para a Páscoa e para a produção permanente do setor. A informação é da assessora técnica da Comissão Nacional de Fruticultura da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Letícia Barony. Ainda de acordo ela, a alta no preço da fruta foi maior no segundo semestre do ano passado, em decorrência da quebra de safra de grandes produtores africanos, e a instabilidade no setor deve se manter também nesta temporada, já que a Costa do Marfim, país que mais produz cacau no mundo, ainda sofre com a seca e as ondas de calor.
Mas, apesar da alta nos preços, as vendas de chocolate se mantêm aquecidas no comércio jaraguaense. “A Páscoa é uma das datas mais significativas para o comércio, proporcionando um impulso substancial em diversos setores e criando oportunidades de vendas”, afirma o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Jaraguá do Sul, Paulo Roberto Schwarz. “Este período vai além de uma data comemorativa, é um momento estratégico que pode alavancar significativamente os negócios. No varejo, a Páscoa oferece uma oportunidade ímpar de criar experiências únicas para os consumidores, permitindo que as lojas estabeleçam conexões com seus clientes”, ressalta.
A proprietária da Casa do Chocolate, Giovana Hornburg, diz que de janeiro do ano passado até agora houve um aumento de praticamente 130% no preço do cacau, o maior já registrado nesses 25 anos em que ela atua no mercado de chocolates. “Em agosto passado, tivemos alta de 50% de uma só vez e isso está se refletindo nas vendas. Nos outros anos, as pessoas compravam ovos maiores. Agora estão preferindo ovos menores, fazendo cestinhas, montando kits”, comenta.
No entanto, Giovana diz que a sua produção de chocolates, no geral, tem sido a mesma do ano passado. “Normalmente, a gente derrete entre 1.800 a 2.300 quilos de chocolate por mês e nesta época de Páscoa esse volume aumenta para 5.500 ou até 6 mil quilos”, informa. “Estamos focando mais na linha presente. Tivemos alguns lançamentos este ano e uma das novidades, que está fazendo bastante sucesso, é o ovo de pistache de colher ou trufado”.

A empresária Giovana Hornburg oferece produtos personalizados, o que ajuda a aumentar as vendas | Foto: Fábio Junkes
Segundo ela, os produtos à venda na sua loja tiveram uma alta de mais ou menos 20% com relação ao ano passado, mas como a Casa do Chocolate possui fabricação própria, alguns itens são feitos em volume maior e acabam tendo um custo menor. “A gente sempre compra a matéria-prima com antecedência, então antes do aumento já tínhamos um estoque grande, por isso não precisamos repassar todo este aumento para o consumidor final”, explica a empresária, completando que está confiante de que vai ser uma boa Páscoa. “É uma época em que todos compram chocolate e, ainda que em quantidades menores, não deixam de comprar. A gente também tem um diferencial com relação aos supermercados porque oferecemos produtos personalizados, como por exemplo, a aplicação da logomarca da empresa que queira presentear funcionários e clientes”.
A decoradora de festas infantis, Lucimar Rozza, estava na Casa do Chocolate fazendo compras para presentear seus nove afilhados. Apesar da alta nos preços, nesta Páscoa ela pretende dar algo parecido com os presentes do ano passado. “Geralmente eu monto cestinhas, com chocolates variados e casquinhas. Ninguém vai ficar sem presente”, garante.

A decoradora de festas infantis, Lucimar Rozza, vai comprar chocolates para os seus nove afilhados | Foto: Fábio Junkes
Patrícia Tiburski, que trabalha como supervisora em um supermercado no centro da cidade, diz que as vendas de chocolates para a Páscoa estão seguindo o ritmo do ano passado e que o aumento nos preços para o consumidor final ficou entre 5% e 10%. “Já estamos vendendo bastante e a procura costuma aumentar ainda mais na última semana antes da Páscoa”, informa.

A supervisora Patrícia Tiburski diz que a procura por chocolates para a Páscoa está igual ao ano passado | Foto: Fábio Junkes
A aposentada Vilma Moreira estava no supermercado pesquisando preços para comprar o presente de Páscoa da netinha, Yasmim, e conta que no ano passado tinha dado um ovo artesanal para ela. “Mas a pessoa que produzia os ovos este ano não está fazendo por causa do aumento nos preços do chocolate. Achou que não compensava”, diz.

Dona Vilma está pesquisando preços para depois comprar o presente de Páscoa da sua neta | Foto: Fábio Junkes
De acordo com o confeiteiro Leonardo Torres, que também faz ovos de Páscoa artesanais, este ano o preço da matéria-prima quase que dobrou em relação ao ano passado, por isso ele teve que encontrar um equilíbrio entre o que seria repassado para o cliente e o que reduziria do seu lucro. “As vendas estão ok, não tivemos uma diminuição. Sempre prezei por entregar qualidade e mesmo com o aumento de preços estamos mantendo o mesmo padrão. Os clientes sabem disso, e acredito que entre escolher um chocolate industrializado que a cada ano está com menos qualidade com um preço maior, eles optam por comprar de confeitarias que, mesmo com o preço elevado, entregam qualidade e quantidade maior do que um ovo industrializado”, afirma.
Leonardo estima comercializar mais de 200 quilos de chocolates nesta Páscoa. Segundo ele, grande parte das suas vendas são por encomenda antecipada e, quando possível, também realiza vendas à pronta-entrega.