Ações incentivam potencial inexplorado do Rio da Luz

Por: Pedro Leal

18/04/2018 - 15:04 - Atualizada em: 20/04/2018 - 07:03

Tombado há mais de 10 anos, o bairro Rio da Luz encontra desafios em seu desenvolvimento como patrimônio de Jaraguá do Sul e em como aproveitar o potencial do bairro histórico para o turismo. Segundo o secretário de Desenvolvimento Econômico, Domingos Zancanaro, a região tem um imenso potencial cultural inexplorado – e a Prefeitura tem trabalhado junto à comunidade para transformar o bairro em parte da rota turística da região.

Um desafio encontrado neste processo é a conscientização da comunidade quanto às novas possibilidades. “Nós levamos algumas famílias da região para as  regiões de Bento Gonçalves e de Santa Rosa da Lima, que aproveitaram o potencial turístico de seu patrimônio histórico, para dar um norte para aquela região”, explica, destacando que a ideia da visita era demonstrar o que pode ser feito.

Outro exemplo levantado pelo secretário é a região do Ribeirão da Ilha, em Florianópolis. “Em 1999 todo mundo dependia da pesca ou do centro de Florianópolis, hoje é referência em maricultura, é um exemplo do tipo fomento que queremos fazer aqui”, explica, lembrando que esteve envolvido no projeto na capital.

O processo para  proteção da região foi iniciado em 2007. Em meio ao processo de tombamento, foi firmado um Termo de Ajuste de Conduta (TAC) com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) para desenvolver a região. “Temos alguns pontos específicos para desenvolver como referência e estamos trabalhando um projeto urbanístico para a região, em termos de acessibilidade e sinalização”. A região também está inclusa nas mudanças previstas no Plano Diretor.

Segundo o coordenador do Grupo de Trabalho do TAC do Rio da Luz, Sidnei Marcelo Lopes, o bairro precisa ser pensado como um todo. “Foram efetuados levantamentos e um diagnóstico da situação da região. A partir dos dados e análises efetuadas, está sendo elaborado um plano de gestão. Esse plano trará ações envolvendo frentes distintas, tais como turismo, agricultura, desenvolvimento urbano e econômico”, explica. Entre as ações, está a educação patrimonial e incentivo à manutenção da língua alemã – com cursos que já estão acontecendo gratuitamente na escola do bairro.

“Esse plano trará ações envolvendo frentes distintas, tais como turismo, agricultura, desenvolvimento urbano e econômico”. Sidnei Marcelo Lopes, coordenador do Grupo de Trabalho do TAC do Rio da Luz

Para muitos dos moradores, ainda há uma grande confusão quanto ao que o tombamento significa e quais suas obrigações com o patrimônio. Segundo o secretário, esta confusão implica em outro desafio: tirar da cabeça do morador a visão de que o tombamento é uma “proibição”. “Temos que fazer com que a comunidade veja isso como um potencial a mais, não como uma proibição ou um veto”, diz, destacando a importância do empreendedorismo turístico e gastronômico.

Cicloturismo é prioridade

Segundo a presidente do Vale dos Encantos – Convention & Visitors Bureau SC, Edilma Lemanhê, a entidade já está trabalhando há um ano e meio em como desenvolver o turismo da região. A principal medida neste sentido foi a inclusão do Rio da Luz no roteiro regional do cicloturismo. “Mais uma forma de explorar o legado que temos”, segundo Edilma.


Bairro foi incluído no circuito de cicloturismo da região do Vale do Itapocu

Ela destaca que é importante fortalecer o patrimônio que já existe na região e que a entidade está bem satisfeita com o trabalho proposto pela Prefeitura. “O Rio da Luz tem um legado muito bacana para a sociedade, que temos que aproveitar para o turismo. Não adianta criar um monte de coisas novas e não fortalecer o que já existe”, destaca.

Moradora se prepara para onda turística

Para a moradora do Rio da Luz, voluntária do Núcleo de Desenvolvimento Rotary Comunitário (RNDC) e proprietária do espaço de festas Choupana Schroeder, Angela Elisa Schroeder, a Prefeitura e o Iphan tem feito um bom trabalho em esclarecer dúvidas e auxiliar a comunidade na busca de opções para seus negócios. “Temos visitas do Iphan duas vezes por mês para esclarecer questões sobre o tombamento. Isso tem ajudado bastante”, explica.

De acordo com ela, a questão de investir ou não em negócios no Rio da Luz é muito pessoal, e nem todos na comunidade estão decididos a encarar uma empreitada no mercado que surge. Regularizado no ano passado, o espaço, que além de cafés coloniais e noites da sopa oferece pães, biscoitos artesanais e cucas, tem se beneficiado bastante do crescimento turístico com o ciclismo. “O turismo está vindo com força e deve vir para ficar, logo está aqui com tudo”, diz, certa de que terá retorno.


Angela acredita no potencial turístico e prepara sua propriedade, a Choupana Schroeder

Ela destaca que quando o processo começou havia uma rejeição muito forte ao Iphan e ao tombamento, coisa que tem reduzido – embora ainda haja alguma resistência. “O que precisávamos e já discutimos com a Prefeitura é um pouco de flexibilidade para estabelecer os negócios, para quem ainda não está regularizado”, explica.

Orgulhosa de morar no bairro, Angela ressalta que é importante preservar esse patrimônio, como foi feito nas cidades visitadas em conjunto com a prefeitura. “Temos que ver isso como um exemplo a ser seguido, do tipo de atividade que podemos desenvolver aqui”, diz.

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Pedro Leal

Analista de mercado e mestre em jornalismo (universidades de Swansea, País de Gales, e Aarhus, Dinamarca).