A indústria de base de defesa do Brasil tem novas ferramentas de apoio para o desenvolvimento de projetos estratégicos de defesa e produtos inovadores. Durante o seminário Gestão de Recursos de Defesa, promovido pelo Condefesa-SC em parceria com a Escola Superior de Guerra (ESG) e realizado na quinta-feira (7) na Federação das Indústrias de SC (Fiesc), especialistas apresentaram políticas públicas de apoio ao setor e alternativas de financiamento a projetos estratégicos e pesquisa e desenvolvimento de novos produtos.
O diretor da ESG, comandante Fortunato Lameiras, destacou que as características distintas do mercado de defesa ainda são desconhecidas da maioria das indústrias e do mercado financeiro. Altamente regulado, sujeito a regras rígidas de compliance e de compras públicas, o setor parece complexo para as indústrias. Por isso, tanto o Ministérios da Defesa como as Forças Armadas têm promovido iniciativas para desmistificar o segmento e esclarecer para os caminhos para se tornar um fornecedor, explicou a secretária adjunta de Secretária Adjunta de Produtos de Defesa do Ministério da Defesa, Juliana Larenas.
O objetivo é ampliar a participação das indústrias nacionais não só nas compras de materiais de consumo, mas também nos projetos estratégicos das Forças Armadas. Ao colocar o segmento de defesa como uma das missões estratégicas da política industrial, o governo federal lançou editais de subvenção econômica para o financiamento de projetos de inovação nas áreas de interesse, afirmou José Henrique Pereira, analista de Inovação da Finep.
Para o presidente do Conselho de Desenvolvimento da Indústria de Defesa (Condefesa-SC), César Olsen, o maior desenvolvimento do setor demanda políticas públicas que favoreçam a participação da indústria nacional nas compras do Ministério da Defesa e Forças Armadas. “Temos empresas e produtos de ponta, muita diversidade tecnológica e a capacidade de atender demandas. A participação da indústria nacional é também uma questão de soberania”, destacou.
O diretor de inovação da Fiesc, José Eduardo Fiates, destacou, no entanto, que o Brasil tem dificuldade em enxergar a estreita relação da inovação com o segmento de defesa e de manter um fluxo previsível de recursos. “Não temos a cultura, a disciplina de manter os planos científicos, industriais, mas é preciso o mínimo de estabilidade”, explicou.
Na avaliação do segmento, a incerteza e a falta de previsibilidade orçamentária são os principais gargalos para o crescimento da indústria de base de defesa. Isso porque pode afetar a frequência de compras governamentais e a continuidade de projetos sob demanda.
Outro desafio é manter o país na vanguarda tecnológica, reduzindo a dependência de soluções e produtos externos. Segundo Juliana Larenas, a indústria brasileira sofre restrições na compra de produtos e serviços de defesa, além de insumos. Para isso, o investimento em pesquisa e inovação é fundamental e o ministério tem estreitado relações com instituições de pesquisa e universidades, atuando em conjunto no lançamento de editais para projetos estratégicos de defesa.
Financiamento e fomento
Quando o assunto é concessão de crédito, a desinformação sobre o segmento e a falta de previsibilidade de recursos se somam a questões de imagem e compliance. A consequência é que as indústrias do ramo encontram dificuldades em obter financiamento junto a instituições financeiras de varejo tradicionais.
Na avaliação do especialista em defesa Rodrigo Campos, o ecossistema de financiamento não está preparado para atender as demandas atuais. Ele explicou que as características únicas dos projetos do setor demandam arranjos diferenciados de crédito, e a aversão de instituições bancárias tradicionais a financiar as iniciativas acabam culminando na necessidade de apoio via recursos públicos.
Nesse sentido, tanto Finep como BNDES contam com linhas de crédito que podem ser acessadas pelas indústrias de base de defesa. A Finep conta também com editais de subvenção econômica, ou seja, recursos não reembolsáveis, para projetos específicos.
A Fapesc também conta com recursos para financiar a pesquisa e desenvolvimento de novos produtos. Em 2024, lançou seu primeiro edital como foco no segmento de defesa, e contemplou 15 projetos em uma chamada de cerca de R$ 7 milhões.
De olho na oportunidade que esse mercado oferece, alternativas de crédito estão à disposição das empresas. É o caso da Fintech Defense Bank, que oferece soluções financeiras adequadas às necessidades das indústrias e projetos no segmento, como FIDCs (Fundos de Investimento em Direito Creditório, FIPs (Fundo de Investimento em Participações) e até mesmo a busca de investidores para participação direta nas empresas.
O Contra-Almirante Gilberto Cezar Lourenço, Assessor de Relações Institucionais da ESG, afirmou que o primeiro seminário foi importante para aproximar a indústria de base de defesa das necessidades e dos processos operacionais das Forças Armadas, além do acesso a fontes de recursos. Para ele, a ESG segue à disposição para ampliar esses conhecimentos visando a aproximação com a indústria catarinense.